terça-feira, 1 de março de 2016

Otis tarda, Abetarda



Taxonomia
Aves, Gruiformes, Otididae.

Tipo de ocorrência
Residente.

Classificação
EM PERIGO –- EN (C2a(ii)
Fundamentação: Espécie com população inferior a 2.500 indivíduos maturos, que se admite estar em declínio continuado, concentrada numa única subpopulação.

Distribuição
A área de distribuição da abetarda estende-se de uma forma descontínua, desde a Península Ibéria e Norte de Marrocos até às planícies de Amur no Leste da China (Cramp & Simmons 1980). Na Europa compreende a Alemanha, Áustria, Eslováquia, Espanha, Hungria, Moldávia, Portugal, República Checa, Roménia, Rússia, Sérvia e Montenegro, Turquia e Ucrânia (BirdLife International 2004).

Em Portugal pode ser observada desde o Sudoeste da Beira Baixa até ao Algarve (Elias et al. 1998).

População
Em 2002 a população portuguesa de abetardas foi avaliada em cerca de 1.150 indivíduos (Pinto  et al. 2005). A espécie tem sido alvo de censos desde 1980 que indicam que, após uma subida lenta do tamanho da população, a partir de 1984 ocorreu um decréscimo populacional, tendo-se observado um valor mínimo do tamanho da população nacional em 1994. A partir de meados da década de 90 verificou-se um aumento no números total de indivíduos, resultante da recuperação do núcleo de Castro Verde, continuando a verificar-se decréscimo nos restantes núcleos populacionais. Os estudos efectuados entre 1980 e 2002 demonstram diminuição na área de ocorrência da abetarda em Portugal, com a extinção de oito dos dezassete núcleos reprodutores conhecidos na década de oitenta (Pinto et al. 2005).

Se não cessarem as alterações de habitat desfavoráveis, este padrão de extinção dos núcleos populacionais mais reduzidos manter-se-á no futuro próximo. Evidências apontam no sentido de esta espécie ter uma reduzida capacidade de colonização de novas áreas e sugerem uma tendência de aumento populacional em áreas com áreas de habitat com qualidade por oposição a um declínio em áreas com menor qualidade, sendo pouco provável a recolonização de áreas históricas de ocorrência, mesmo havendo recuperação e melhoria do habitat. As preocupações quanto à manutenção da qualidade do habitat em Castro Verde, nomeadamente quanto a aderência no futuro próximo ao plano Zonal de Castro Verde, colocam como possível a inversão da actual tendência de aumento populacional nos próximos anos (Pinto et al. 2005).

É uma espécie que em termos de estatuto de ameaça é, globalmente e a nível da Europa, considerada Vulnerável (IUCN 2004a, BirdLife International 2004).

Habitat
Requer grandes extensões de campo aberto e pouco ondulado. Frequenta áreas de mosaico de searas, restolhos, pousios e pastagens, que providenciem uma diversidade de oportunidades alimentares, sendo fundamental a abundância de invertebrados para alimentar as crias. A selecção do habitat é condicionada pela disponibilidade dos recursos alimentares e ainda pelos requisitos de acasalamento e nidificação.

Para alimentação, de Inverno utiliza sobretudo as forragens, sementeiras, restolhos e ainda olival, tendo sido detectada uma preferência por culturas leguminosas. Na Primavera, são utilizados principalmente os pousios que proporcionam uma grande variedade de alimento vegetal e animal. No Verão, verifica-se um aumento da amplitude dos habitats utilizados, o que está relacionado com uma maior componente insectívora da dieta. No Outono, a grande disponibilidade de alimento (animal e vegetal) nos restolhos ocasiona uma utilização intensa desses campos. Na Primavera, os machos seleccionam extensas áreas de pousio com ampla visibilidade para as suas paradas nupciais, enquanto as fêmeas efectuam uma selecção de pousios e de searas pouco densas para a nidificação.

Factores de Ameaça
As principais ameaças á conservação desta espécie em Portugal são a perda e fragmentação do habitat pseudo-estepário, tendo sido identificados os seguintes factores: intensificação da agricultura, florestação das terras agrícolas, expansão de cultivos lenhosos, abandono agrícola e do pastoreio extensivo, sobrepastoreio, incremento da instalação de vedações, construção de estradas, albufeiras e outras infraestruturas, utilização de agro-químicos, perturbação humana e a colisão com linhas aéreas de transporte de energia.

Medidas de Conservação
Parte significativa da actual área de ocorrência da abetarda está classificada como Zona de Protecção Especial (Campo Maior, Moura/Mourão/Barrancos, Castro Verde, Vale do Guadiana). A espécie beneficiou já da implementação do Plano Zonal de Castro Verde. A Liga para a Protecção da Natureza desenvolveu um projecto LIFE “Conservação da avifauna estepéria de Castro Verde” que permitiu, nomeadamente, a aquisição de terrenos onde se localizam algumas das principais áreas de parada de abetarda na Zona de Protecção Especial de Castro Verde.

Esta espécie é contemplada no Plano de acção para a conservação das aves dependentes da estepe cerealífera (Almeida et al. 2003).

Conforme identificado nessa proposta de Plano, a conservação da abetarda em Portugal depende: da promoção da cerealicultura extensiva com rotação de culturas, mediante aplicação de medidas agro-ambientais e/ou indemnizações compensatórias em áreas estepárias prioritárias); da manutenção do pastoreio extensivo e condicionamento do encabeçamento nas áreas mais importantes de reprodução; da manutenção de manchas de olival tradicional nas suas áreas de ocorrência; do incremento da sustentabilidade económica das áreas estepárias, nomeadamente através da certificação de produtos provenientes de áreas “amigas da avifauna estepária”; da elaboração e implementação de Planos de Gestão nas ZPE’s com ocorrência da espécie (Moura-Mourão-Barrancos, Campo Maior, Castro Verde); da classificação de novas ZPE’s em área importantes para a espécie, particularmente para o período reprodutor; do estabelecimento de uma estratégia conjunta Portugal/Espanha visando a conservação das aves dependentes da estepe cerealífera; do condicionamento/regulamentação da edificação, da actividade turística e da actividades cinegética em ZPE’s importantes para avifauna estepária; da implementação do protocolo estabelecido entre ICN /EDP /REN / SPEA/QUERCUS, que visa compatibilizar os traçados das linhas áreas de transporte de energia eléctrica com a conservação das aves. Também a construção de vias de comunicação, de vias férreas, de linhas para o transporte de energia e outras infra-estruturas, de plantações florestais, vinhas e perímetros de rega nas áreas prioritárias para a conservação da espécie devem ser sujeitas a AIA, tendo em conta a perda de habitat estepário e a sua fragmentação, o incremento esperado no número de predadores e o efeito cumulativo/sinérgico  dos  projectos individuais.

Devem ainda ser realizados estudos sobre a distribuição e abundância da espécie durante os períodos de reprodução, pós-nupcial e inverno, que permitam esclarecer os movimentos da espécie e as áreas concretas de que depende ao longo do ano. Deve ser assegurada a monitorização de parâmetros populacionais, por forma a avaliar as tendências na distribuição e no tamanho da população. Foi ainda identificada a necessidade de inventariar as zonas com características estepárias no Alentejo.

Importa também informar a comunidade rural e a população em geral sobre os valores naturais das áreas agrícolas extensivas de sequeiro e sobre as necessidades de conservação das espécies delas dependentes.

in Livro Vermelho dos Vertebrados



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