quinta-feira, 24 de junho de 2010

Alosa alosa - Sável

Taxonomia
Actinopterygii, Clupeiformes, Clupeidae.

Tipo de ocorrência
Migradora anádroma.

Classificação
EM PERIGO – EN (A2bcde+3cde+4bcde; B2ab(ii,iii,iv,v))
Fundamentação: Admite-se que a redução da população nos últimos 15 a 18 anos tenha atingido 50% do número de indivíduos maduros e prevê-se que possa atingir 70% nos próximos 15 a 18 anos ou em qualquer período com a mesma amplitude que abarque o passado e o futuro. As causas da redução, embora geralmente compreendidas, não são reversíveis nem cessaram. A avaliação da redução é baseada em dados de abundância, nos declínios da área de ocupação, da extensão de ocorrência e da qualidade do habitat, nos níveis de exploração e também na expansão de espécies não indígenas. Para além disso, a sua área de ocupação é menor do que 70 km2 e verifica-se uma fragmentação elevada e um declínio continuado na área de ocupação, na área, extensão e qualidade do habitat, no número de subpopulações e no número de indivíduos maduros.

Distribuição
Presentemente a espécie distribui-se desde o Sul da Península Ibérica até ao Norte de França e Ilhas Britânicas (Aprahamian et al. 2003a, Baglinière & Elie 2000).

Em Portugal ocorre nas bacias hidrográficas dos rios Minho, Lima, Vouga, Mondego, Tejo e Guadiana, embora nesta bacia a população seja residual (Alexandrino 1996, Baglinière et al. 2003). Esporadicamente, na bacia hidrográfica do Douro, são ainda capturados indivíduos, os quais actualmente já não constituem populações viáveis devido às inúmeras barragens existentes neste rio, que impedem a sua migração e reprodução.

População
Pensa-se que poderão existir entre 3.000 e 30.000 indivíduos maduros. Estes valores baseiam-se em dados de capturas nas bacias hidrográficas do Minho e Lima e também em informações de pescadores. A maior subpopulação deverá ser a da bacia hidrográfica do Mondego. Considera-se que o número de indivíduos maduros é reduzido e está em declínio continuado (Alexandrino 1996, Baglinière & Elie 2000). É possível que possam ocorrer flutuações acentuadas dos efectivos devido às características das espécies deste género (Baglinière & Elie 2000). Alguns dados genéticos apontam para a existência de subestruturação populacional nesta espécie (Alexandrino 1996, Aprahamian et al. 2003a), parecendo evidenciar um comportamento de ‘homing’ ou, pelo menos, uma reduzida migração de indivíduos entre populações.

Habitat
A espécie reproduz-se em água doce, em sectores intermédios e superiores de rios de média e grande dimensão. Os juvenis passam por um período de duração variável no meio estuarino, migrando posteriormente para o meio marinho em zonas ricas em plâncton, onde decorre o seu crescimento (Baglinière & Elie 2000, Baglinière et al. 2003).

Factores de ameaça
As ameaças mais graves para o sável são as que incidem na fase continental do seu ciclo de vida, das quais se destacam a construção de barragens que alteram as zonas de desova ou impedem o seu acesso, a alteração do regime natural de caudais, a poluição, a exploração de inertes e a sobrepesca. A área disponível para a reprodução foi muito reduzida e continua a diminuir devido aos diferentes factores de ameaça. Os obstáculos à migração potenciam, igualmente, a ocorrência de hibridação com a sua congénere, a savelha Alosa fallax, diminuindo a capacidade reprodutora efectiva e a integridade genética da espécie (Alexandrino et al. 1996, Almeida et al. 2000a, Costa et al. 2001). Estes obstáculos impedem a chegada da espécie aos locais de reprodução habituais e assim a desova ocorre mais a jusante, em sobreposição com as zonas de desova da savelha. Assume-se a irreversibilidade das causas de redução pelo facto de o principal factor de ameaça (construção de barragens) se considerar permanente por um período de, pelo menos, 50 anos.

Medidas de Conservação
O sável está abrangido pela legislação nacional e internacional de conservação.
Parte dos rios Minho, Lima, Vouga, Tejo e Guadiana foram designados para a lista nacional de sítios de acordo com a Directiva Habitats devido à presença do sável, entre outros valores, mas carecem ainda de medidas de ordenamento e gestão dirigidas à espécie. O sável tem sido alvo de alguns estudos relativos ao seu efectivo populacional, distribuição, biologia, ecologia, genética, estado do habitat e ameaças.

É importante efectuar a implementação das medidas preconizadas nos diversos planos de ordenamento territorial recentemente elaborados (e.g. Planos de Bacia Hidrográfica) e ainda na Directiva-Quadro da Água que deverá atingir a melhoria permanente da qualidade dos habitats aquáticos. Para a conservação do sável é preciso assegurar a continuidade longitudinal dos rios, nomeadamente através da implementação de passagens para peixes, para permitir o acesso da espécie às zonas intermédias e superiores das bacias hidrográficas, onde ocorre a desova e efectuar a reabilitação dos locais de reprodução habituais. Outras acções necessárias são o controlo da poluição e da extracção de inertes, o restabelecimento dos regimes hidrológicos naturais e a gestão sustentada da pesca. É essencial realizar também a monitorização das populações existentes, aprofundar o conhecimento sobre o estado do habitat e avaliar o sucesso de algumas propostas de intervenção ao nível do habitat (Almeida et al. 2000a, Costa et al. 2001). Deve também ser efectuada uma campanha de sensibilização do público em geral e das comunidades piscatórias ribeirinhas, em particular, para a importância da sua conservação.

Notas
Encontram-se descritas populações holobióticas, isto é, populações não migradoras retidas em albufeiras, nomeadamente nas albufeiras de Castelo do Bode (Rio Zêzere) e Aguieira (Rio Mondego) (Eiras 1981a, Collares-Pereira et al. 1999a).

in Livro Vermelho dos Vertebrados

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