terça-feira, 4 de novembro de 2014

Grus grus, Grou


Taxonomia
Aves, Gruiformes, Gruidae.

Tipo de ocorrência
Invernante.

Classificação
População invernante: VULNERÁVEL -– VU (B1ab(ii,iii,v)+2ab(ii,iii,v); C2a(ii); D2)
Fundamentação: Espécie com distribuição muito localizada, no Alentejo interior, apresentando extensão da ocorrência e área de ocupação reduzidas (inferiores a 20.000 km2 e a 2.000 km2 respectivamente), com declínio continuado da área de ocupação, da área, extensão e qualidade do habitat e do número de localizações, como resultado das profundas alterações agrícolas desta região. Apresenta população reduzida (menor que 10.000 indivíduos maturos), que nos últimos 45 anos terá sofrido declínio continuado do número de indivíduos maturos, estando todos os indivíduos concentrados numa única subpopulação.

Distribuição
Espécie com distribuição muito alargada. A área de nidificação estende-se da Europa do Norte e Ocidental, através da Eurásia até ao Norte da Mongólia, Norte da China e Leste da Sibéria, com populações nidificantes isoladas no Leste da Turquia e no Tibete. A área de invernada inclui parte da França e da Península Ibérica, Norte e Leste de África, Médio Oriente, Índia e Sul e Leste da China. Actualmente ocupa a maior parte da sua área de distribuição histórica, mas nos últimos 200-400 anos extinguiu-se como espécie reprodutora na parte Sul e Ocidental da Europa, península balcânica e Sul da Ucrânia (Meine & Archibald 1996).

Em Portugal a espécie inverna no Alentejo interior, ocorrendo apenas em cinco núcleos de invernada regular nas regiões de Castro Verde/Mértola, Évora, Moura/Mourão/Barrancos e Campo Maior (concelhos de Campo Maior, Arronches, Évora, Moura, Mourão, Barrancos, Castro Verde e Mértola) (Almeida 1991).

População
A realização de censos simultaneamente em todas as áreas de invernada (3 censos ao longo do inverno), entre o inverno de 1988-89 e o de 1991-92 permitiu estimar o número máximo de indivíduos invernantes nesse período oscilou entre 2.076 e 3.142 (Almeida 1992). Estimativas mais recente da população, no inverno de 2000-01, apontam para um valor máximo de cerca de 2.900 indivíduos, registado em Janeiro (CEAI, ICN & LPN dados não publicados).
Os dados disponíveis a partir dos finais da década de 1980 indicam que a população invernante em Portugal se apresenta relativamente estável nas duas últimas décadas, embora sujeita a algumas oscilações que podem ter origem extrínseca ao nosso território (condições meteorológicas e disponibilidade alimentar em áreas de invernada localizadas mais a norte). No entanto, registos da década de 1970, indicam a existência nessa altura de uma população invernante mais numerosa na região de Évora (Vicente 1974) e sugerem um declínio continuado da população da espécie no nosso país nas últimas três gerações.
 
Em termos de estatuto de ameaça a nível da Europa, a espécie é considerada Depauperada, embora ainda provisoriamente, tendo apresentado um declínio histórico acentuado (BirdLife International 2004).

Habitat
Como local de alimentação, utilizam preferencialmente searas cultivadas em regime extensivo, pousios, pastagens naturais e montados de azinho pouco densos e sem mato (Almeida & Pinto 1992, Almeida 1992, Melo 1996, Melo et al. 1999, Franco 1998, Franco et al. 2000), apresentando acentuada fidelidade, ano após ano, aos locais escolhidos.

Para instalação de dormitórios comunitários, os grous necessitam de locais pouco perturbados, geralmente associados à presença de água pouco profunda, utilizando sobretudo açudes e charcas que surgem temporariamente no inverno. Preferem açudes/charcas localizados em zonas com predominância de culturas arvenses ou forrageiras e reduzida área de montado ou de outra vegetação densa; são sensíveis ao tipo de cobertura vegetal das margens, preferindo situações que apresentem margem emersa com predominância de ocupação por vegetação herbácea e margens submersas com solo nu e vegetação pouco desenvolvida; seleccionam locais com poucas obstruções à visibilidade e normalmente pouco encaixados no terreno, margens com declives pouco acentuados e preferem estar afastados de cercas; são também preferidas localizações a maior distância de estradas alcatroadas e casas habitadas, o que sugere preferência por locais de maior tranquilidade (Reis 1999, Reis & Almeida 2003). Também podem utilizar para a instalação de dormitórios margens de cursos de água, seleccionando nesses casos locais com praias compridas, sem obstruções visuais perto do limite da água e com larga superfície de água pouco profunda (Leitão et al. 1999).

As alterações agrícolas, dada a intensificação agrícola e incremento das culturas permanentes, na área de ocorrrência da espécie têm resultado em acentuada perda e degradação do habitat disponível.

Factores de Ameaça
Alteração e degradação do habitat  de alimentação, por intensificação da agricultura, expansão das culturas de regadio e culturas permanentes, e florestação das terras agrícolas. Algumas áreas de invernada em Portugal são também afectadas por sobrepastoreio e por abandono agrícola.

A espécie é afectada negativamente pela perturbação humana, sobretudo a resultante do exercício da actividade cinegética.

A diminuição da tranquilidade nos locais de dormida, resultante da abertura de acessos e intensificação da actividade humana em locais outrora remotos e pouco frequentados, pode levar ao abandono desses dormitórios. A extracção de inertes, que se tem intensificado em cursos de água utilizados pela espécie para esse efeito, pode resultar em perda de locais favoráveis à instalação de dormitórios e constituir também um factor limitante da invernada da espécie no nosso país.

A colisão com linhas aéreas de transporte de energia é um factor de mortalidade a ter em consideração.

Medidas de Conservação
A maior parte das suas áreas de invernada estão incluídas em áreas já designadas como Zonas de Protecção Especial (Moura/Mourão/Barrancos, Campo Maior, Castro Verde).

No entanto, a zona de Évora carece de qualquer classificação, tendo sido alvo de profundas transformações de habitat nas últimas décadas. A espécie é contemplada pelo Plano Nacional de Conservação das Aves Estepárias (Almeida et al.  2003), sendo no entanto imprescindível a sua implementação no terreno. Particularmente, é importante a elaboração e implementação de planos de gestão para as ZPE’s em que ocorre. Beneficia de algumas das Medidas Agro-Ambientais vigentes, mas a implementação de planos zonais para as suas áreas de ocorrência foi já identificada como medida fundamental para assegurar a conservação das áreas em que ocorre. A sensibilização do público em geral, e em particular dos agricultores, para a importância da conservação dos habitats de que esta espécie depende foi também identificada como uma medida de grande prioridade. Importa assegurar a monitorização da população invernante no nosso país.

Notas
Extinto como nidificante. Em notas manuscritas, D. Carlos de Bragança (inéditos) refere que alguns grous nidificavam no Baixo Guadiana e em Pancas, junto a Alcochete, em finais do século XIX.

in Livro Vermelho dos Vertebrados



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