terça-feira, 27 de outubro de 2015

Netta rufina, Pato-de-bico-vermelho


Taxonomia
Aves, Anseriformes, Anatidae.

Tipo de ocorrência
Residente e invernante.

Classificação

População residente: EM PERIGO -– EN (D)
Fundamentação: População com tamanho muito reduzido (entre 50 e 250 indivíduos maturos).
População  invernante: QUASE AMEAÇADO  –  NT*  (D1+2)
Fundamentação: População com tamanho reduzido (entre 250 e 1.000 indivíduos maturos), com área de ocupação reduzida (inferior a 20 km2). No entanto, por ser um taxon visitante não reprodutor cujas condições não se estão a deteriorar nem fora nem no interior da região, o que leva a admitir um risco de extinção mais reduzido em Portugal, desceu uma categoria na adaptação à escala regional.

Distribuição
Distribui-se pela Eurásia, em núcleos populacionais dispersos desde a Península Ibérica até ao Centro e Sudeste asiático, estando no entanto maioritariamente concentrada entre o Mar Negro e Turquia, até Noroeste da China. É parcialmente migradora, encontrando-se durante o inverno no Oeste do Mediterrâneo, Península Ibérica, Sul de França, Mar do Norte, Roménia, Médio Oriente, Mar Cáspio, Paquistão, Índia e Sudeste Asiático. Apresenta na Europa uma distribuição fragmentada em numerosos núcleos reprodutores, encontrando-se a maior parte da população na Europa Ocidental (del Hoyo et al. 1992).

Em Portugal, durante o Inverno, o pato-de-bico-vermelho apenas é observado nalgumas zonas húmidas do Sul do país, encontrando-se o núcleo principal na Lagoa de Santo André. Como nidificante, encontra-se disperso por mais zonas húmidas, mas também no Sul do país. Apresenta uma área de ocupação reduzida (inferior a 20 km2).

População
Em resultado de censos dirigidos a anatídeos, realizados no âmbito do Novo Atlas das Aves Nidificantes de Portugal (Encarnação V dados não publicados), estima-se que a população nidificante esteja compreendida entre 50 e 250 indivíduos maduros.

No Inverno, recebe um importante acréscimo de migradores oriundos das populações do norte e centro da Europa. De acordo com os censos anuais de aves aquáticas invernantes em Portugal (Rufino 1993, Costa & Guedes 1996, Costa & Rufino 1993, 1996 e 1997, Encarnação V & Guedes RS dados não publicados), o tamanho desta população foi estimado entre 250 e 1.000 indivíduos maturos. A análise dos resultados destes censos indica uma tendência populacional incerta (Sousa 2002b).

Nas últimas décadas do século XX e após uma expansão muito generalizada, em finais do século XIX e início do século XX, sofreu uma redução nas populações mais numerosas, particularmente nas da Rússia e Roménia. No entanto, as populações centro-ocidentais da Europa e do Mediterrâneo Ocidental apresentam tendência de aumento (Wetlands International 2002). Esta tendência, juntamente com o facto de se admitir que o habitat não esteja em declínio em Portugal, levou a assumir um risco de extinção da população invernante no nosso território mais reduzido, tendo descido uma categoria na adaptação à escala regional.

Em termos de estatuto de ameaça a nível da Europa, a espécie é considerada Não Ameaçada, embora ainda provisoriamente (BirdLife International 2004).

Habitat
Nidifica em lagoas eutróficas médias ou de grande dimensão, em zonas baixas que estão limitados com caniçais. Frequenta também lagoas de água salobra, estuários e outras zonas costeiras com caniçais. Fora da época reprodutora, encontra-se em águas costeiras ou interiores, em espaços abertos ou rodeadas de caniçais, com vegetação bem desenvolvida e submersa; lagoas costeiras, estuários, pisciculturas, pauis, charcos salinos e alcalinos, barragens e açudes.

Por vezes ocupa o mesmo local para se alimentar, descansar e nidificar. Movimenta-se facilmente em terra, mas raramente se afasta das margens da água.

Não é muito sensível à perturbação humana, mas não utiliza frequentemente zonas de águas artificiais.

Factores de Ameaça
Entre os factores de ameaça a esta espécie destaca-se a drenagem de zonas húmidas.

Estas são muitas vezes utilizadas para o cultivo de arroz, o que inviabiliza a sua utilização por esta ave.

Também é afectada negativamente pela construção de infra-estruturas hidráulicas. A subida do nível da água provoca redução da área de caniçal, que protege os ninhos da acção da ondulação da água; na ausência de caniçal pode aumentar a mortalidade devido a inundações (Tucker & Heath 1994).

É muito afectada pela poluição da água, por efluentes domésticos, industriais e agrícolas e ainda pela utilização de adubos, pesticidas e herbicidas nas zonas de alimentação, contaminando os recursos alimentares.

A caça ilegal e em particular, acções de caça com redes de emalhar (caso da Lagoa de Santo André, principal núcleo de efectivos invernantes) representam um dos maiores factores de ameaça para a espécie no Inverno.

Medidas de Conservação
A conservação desta espécie requer a manutenção e o incremento das áreas de habitat de suporte potencial para nidificação da espécie, bem como reduzir a perturbação nos locais de nidificação. Assim, a manutenção de zonas húmidas, especialmente as que detenham áreas de caniçal significativas, e a criação de zonas de caniçal em torno de massas de água de pequena dimensão, possibilitam a expansão e melhor distribuição desta espécie, sobretudo durante a época de reprodução. Importa também condicionar a pesca com redes de emalhar na Lagoa de Santo André.

É uma espécie que beneficiará largamente da melhoria da eficácia do controlo e tratamento das descargas de efluentes.

A informação e sensibilização das populações em geral e das entidades responsáveis para a conservação da espécie, foram também identificadas como necessárias para a sua preservação.

Importa ainda assegurar a monitorização dos efectivos nidificantes e invernantes.

in Livro Vermelho dos Vertebrados


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