quarta-feira, 6 de abril de 2011

Felis silvestris, Gato-bravo

Taxonomia
Mammalia,  Carnivora,  Felidae.
 
Tipo de ocorrência
Residente.
 
Classificação
VULNERÁVEL  -  VU  (A2cde+3cde+4cde)
Fundamentação:  A  espécie  teve  uma  redução  do  tamanho  da  população  que pode ter atingido 30% nos últimos 24 anos, de acordo com a avaliação do declínio da qualidade do habitat, dos níveis de exploração actuais e potenciais e efeitos da hibridação, por causas que podem não ter cessado, não ser compreendidas ou não ser reversíveis, e que se supõe persistir e prolongar-se no futuro.
 
Distribuição
O  gato-bravo  apresenta  uma  distribuição  geográfica  ampla  e  fragmentada,  que abrange a Europa, Ásia e África. Na Europa Ocidental, a subespécie Felis silvestris silvestris  ocorre  na  Península Ibérica,  Nordeste  de  França,  Luxemburgo,  Sul  da Bélgica, Oeste da Alemanha e no Norte da Escócia (Stahl & Artois 1991, Stahl & Leger 1993).

Em Portugal, a distribuição parece generalizada com possíveis ausências na faixa litoral do Norte e Centro e no Algarve litoral (Pinto & Fernandes 2001).

População
A tendência da espécie à escala nacional em Espanha é considerada como desconhecida  pela  maioria  dos  autores  (Blanco  1998a,  Palomo  &  Gisbert  2002, Lozano et al. 2003, J Lozano, com pess.). R García-Perea (com pess.) considera que  existe  uma  regressão  importante  para  a  espécie  mas  Lozano  et  al. (2003) afirmam  que  alguns  caçadores,  pastores  e  naturalistas  sugerem  que  a  sua abundância  tem  aumentado  nas  últimas  duas  décadas.

Foram  registadas  regressões  populacionais  locais  (Gerês,  S.  Mamede,  Alcácer-Torrão, Guadiana)  indicadas  a  partir  de  inquéritos  directos  realizados  em  1995-1996 (dados ICN, Programa Liberne). Sarmento & Cruz (2000) referem que, em 1997, a espécie terá sofrido um declínio na área da Reserva Natural da Serra da Malcata.  Santos-Reis  et  al.  (2003)  referem  uma  distribuição  regional  do  gato-bravo  restringida  ao  vale  do  rio  Guadiana  e  prevêem  impacto  significativo  na população local pela implantação da Barragem do Alqueva.

Habitat
Ocupa habitats florestais, tais como matagais mediterrânicos, florestas e bosques caducifólios ou mistos e, marginalmente, florestas de coníferas, podendo também ser  encontrado  em  habitats  abertos  (Fernandes  1991,  Kitchener  1991,  Abreu 1993). As áreas ocupadas pela espécie caracterizam-se também por uma baixa densidade  humana,  sendo  evitadas  áreas  de  agricultura  intensiva  (Easterbee  et al.  1991,  Fernandes  1991).  As  zonas  rochosas  parecem  ser  um  micro-habitat preferido.

No Parque Natural de Montesinho, estudos de selecção de habitat indicam que o bosque é a categoria de vegetação preferida, sendo os prados o principal local de caça e o souto explorado como abrigo, destacando o carácter antropófobo da espécie (Fernandes 1991); na Reserva Natural da Serra da Malcata, Abreu (1993) refere a utilização, durante os períodos de actividade, de habitats de vegetação fechada,  como  mato  com  ou  sem  estrato  arbóreo,  carvalhal  e  plantação  de pinheiro com mato desenvolvido, ocorrendo também zonas abertas, como pastos entremeados  com  matos  e  matos  com  estrato  arbóreo;  os  locais  de  repouso situam-se  em  carvalhal,  em  plantações  de  Pseudotessuga sp.  com  mato; Sarmento & Cruz (1998) referem a preferência da espécie por bosques de carvalho-negral, giestais, urzais, estevais, medronhais e terrenos agrícolas.

Factores de Ameaça
As principais ameaças ao gato-bravo são: a mortalidade não natural causada por atropelamento e abate ilegal; a hibridação com o gato doméstico e a destruição de habitat favorável. Actividades que potenciam a mortalidade ilegal são: o controle de predadores, o uso ilegal de armadilhas e veneno, e a caça em batida e salto com auxílio de cães. O aumento da extensão de estradas e do tráfego aumentaram a probabilidade de morte por atropelamento.

A hibridação é uma ameaça potencial para o gato-bravo como distinta entidade genética e tanto mais provável quanto a artificialização do meio permitir o aumento de populações de gatos ferais. Um estudo genético permitiu detectar a presença em Portugal de um híbrido na Natureza (Pierpaoli et al. 2003). No entanto, a extensão desta ameaça é desconhecida e pode variar regionalmente dependendo de vários factores históricos.

A destruição dos habitats e o aumento da perturbação humana em áreas favoráveis à sua presença estão relacionados com mudanças no uso do solo, nomeadamente com várias actividades florestais (tais como, a plantação de resinosas e cortes sistemáticos de matos), com a implementação de infra-estruturas como estradas e barragens e com a ocorrência de fogos extensivos.

O  declínio  acentuado  das  populações  de  coelho-bravo Oryctolagus  cuniculus, por acção combinada de epizootias, poderá ter afectado as populações de gato-bravo.

Medidas de Conservação
A protecção estrita da espécie e a redução da mortalidade poderá ser efectivada através de uma maior fiscalização da actividade cinegética, avaliação do impacto de novos grandes empreendimentos e a construção de passagens viárias adequadas para a fauna.

Também a conservação do matagal mediterrânico e de habitats florestais é essencial  para  a  manutenção  de  habitat  favorável.

Acções de sensibilização relativas à espécie e ao problema dos gatos ferais seriam um contributo para a mudança de atitude individual face aos predadores.

O controlo de gatos ferais com campanhas de esterilização, sensibilização e abate seria uma acção específica de conservação para a problemática da hibridação.

A nível regional e nacional, é ainda necessário um conhecimento mais detalhado da  situação  da  espécie.

Algumas destas medidas estão incluídas no "Plano Nacional para a Conservação do  Lince-ibérico" cuja  implementação  beneficia  indirectamente  o  gato-bravo.
 
Notas
Saint-Girons (1973), Ragni & Randi (1986) e Stahl & Leger (1993) consideram o gato-bravo  europeu  como  uma  subespécie.  Ragni  &  Randi  (1986)  descrevem uma  espécie  politípica  que  compreende  o  gato-bravo  europeu  (Felis  silvestris silvestris), o gato africano (Felis silvestris lybica) e o gato doméstico Felis silvestris catus. Em concordância, Nowel & Jackson (1996) referem-se ao gato-bravo europeu como grupo silvestris, dentro da espécie Felis silvestris.
in Livro Vermelho dos Vertebrados

Sem comentários: