sábado, 9 de julho de 2011

Chondrostoma willkommii, Boga do Guadiana

Taxonomia
Actinopterygii,  Cypriniformes,  Cyprinidae.
 
Tipo de ocorrência
Residente.  Endémica  da  Península  Ibérica.
 
Classificação
VULNERÁVEL  –  VU  (A2bce+3bce+4bce)
Fundamentação: Admite-se que a redução da espécie nos últimos 15 anos tenha quase atingido 50% do número de indivíduos maduros e prevê-se que possa continuar  a  verificar-se  nos  próximos  15  anos  ou  em  qualquer  período  com  a mesma amplitude que abarque o passado e o futuro. As causas da redução embora geralmente compreendidas, não são reversíveis, nem cessaram. A avaliação da  redução  é  baseada  em  dados  de  abundância,  no  declínio  da  qualidade  do habitat e também na expansão de espécies não indígenas.

Distribuição
Em  Espanha  existe  nas  bacias  hidrográficas  do  Guadiana,  Odiel,  Guadalquivir  e  rios  do  Sul  de  Espanha  até  à  bacia  hidrográfica  do  rio  Veléz  em  Málaga (Doadrio  2001a).

Em Portugal encontra-se apenas na bacia hidrográfica do Guadiana, tanto no rio principal como na maioria das sub-bacias mais importantes (Collares-Pereira et al. 2000a, Tiago et al. 2001, Collares-Pereira et al 2002a).

População
Calcula-se que o número de indivíduos maduros seja superior a 10.000. As populações das sub-bacias mais a norte da bacia hidrográfica do Guadiana em Portugal têm um maior efectivo populacional do que as do sul (Tiago 1998). Dados recolhidos na bacia hidrográfica do Guadiana (Collares-Pereira et al. 2000a, Tiago et  al.  2001,  Collares-Pereira  et  al.  2002a)  registaram  uma  flutuação  de  magnitude de quatro vezes no efectivo populacional desta espécie, pelo que, devido às características  desta  bacia,  há  alguma  possibilidade  de  ocorrerem  flutuações acentuadas (de magnitude superior a dez vezes) no número de indivíduos maduros entre anos hidrológicos extremos. Os mesmos dados sugerem ainda a existência de declínio continuado do número de indivíduos maduros.

Habitat

Ocorre preferencialmente nos cursos de água permanentes ou intermitentes, no rio Guadiana e nos troços mais a jusante dos seus maiores afluentes, em zonas pouco poluídas, profundas e com alguma velocidade de corrente, refugiando-se durante a época seca em locais com vegetação ripícola de estrato arbóreo bem desenvolvido  (Elvira  1995,  Tiago  1998,  Pires  et  al.  1999,  Collares-Pereira  et  al. 2000a, Filipe et al. 2002, 2004). Também ocorre em albufeiras (Ferreira & Godinho 2002). Efectua migrações pré-reprodutoras para montante, durante as quais os indivíduos  exibem  um  comportamento  gregário  (Coelho  1987,  Rodriguez-Ruiz &  Granado-Lorencio  1992,  Doadrio  2001a).  Para  efectuar  a  postura  necessita de  áreas  com  corrente,  substrato  de  cascalho  e  reduzida  profundidade  (Costa et al. 1988).

Factores de Ameaça
Os principais factores de ameaça são a degradação do habitat, provocada sobretudo pela construção de barragens, alteração do regime natural de caudais, captação de água, extracção de inertes, degradação da qualidade da água e também a introdução de espécies não-indígenas (Collares-Pereira et al. 2000a,b) a qual poderá ter  efeitos  a  nível  da  competição,  predação  ou  como  via  de  disseminação  de agentes patogénicos. É de realçar a redução e degradação generalizada do habitat  na  bacia  hidrográfica  do  Guadiana,  resultante  da  construção  de  diversas barragens (Odeleite, Enxoé, entre outras) e actualmente pela implementação do reendimento de Fins Múltiplos do Alqueva.
 
Medidas de Conservação
Esta espécie está abrangida pela legislação nacional e internacional de conservação.  Vários  locais  da  bacia  hidrográfica  do  Guadiana  foram  designados  para  a lista nacional de sítios ao abrigo da Directiva Habitats devido à sua presença, entre outros valores, mas carecem ainda de medidas de ordenamento e gestão dirigidas à espécie. A boga do Guadiana foi abrangida nos estudos sobre a comunidade  piscícola  da  bacia  hidrográfica  do  Guadiana  efectuados  no  projecto  LIFE-natureza  dirigido  para  o  saramugo  Anaecypris  hispanica  (Collares-Pereira  et  al. 2000a)  e  sobre  as  medidas  de  Minimização  e  Monitorização  para  o  Património Natural da Barragem do Alqueva (Tiago et al. 2001, Collares-Pereira et al. 2002a). Algumas  acções  de  manutenção  e  conservação  do  habitat  (nomeadamente  na melhoria da qualidade da água e algum controlo das extracções de inertes) têm sido  efectuadas  mas  necessitam  ser  reforçadas.
É necessária a recuperação das zonas mais degradadas e o controlo das espécies não-indígenas,  medidas  previstas  no  Plano  de  Bacia  Hidrográfica  do  Guadiana (INAG 1998), no Plano de Gestão do Saramugo (Collares-Pereira et al. 2000b) e no estudo de Minimização e Monitorização para o Património Natural da Barragem  do Alqueva (Tiago et al. 2001, Collares-Pereira et al. 2002a). As medidas preconizadas na Directiva-Quadro da Água deverão atingir a melhoria permanente da qualidade dos habitats aquáticos. Devem ser minimizados os impactos de infra-estruturas hidráulicas implantadas ou a implantar, através do restabelecimento da conectividade entre as populações e da manutenção dos caudais mínimos, especialmente durante a época seca. Em particular, devem ser evitadas ou controladas as captações de água durante esta época, nomeadamente nos pegos. Outras medidas necessárias são o controlo da extracção de inertes, a gestão sustentada da pesca  e  a melhoria  da  sua  fiscalização  e  ainda  a  sensibilização  do  público  para  a conservação dos ecossistemas aquáticos. É necessário aumentar os conhecimentos sobre a biologia e ecologia desta espécie, monitorizar os seus efectivos populacionais (em particular nos rios principais) e a eficiência das medidas de conservação a  implementar.

Outra bibliografia consultada

Coelho  (1983,  1985);  Elvira  (1987,  1991);  Herrera  &  Fernández-Delgado  (1994);
Elvira  (1997).
in Livro Vermelho dos Vertebrados

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