terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Barbus steindachneri, Barbo de Steindachner

Taxonomia
Actinopterygii,  Cypriniformes,  Cyprinidae.

Tipo de ocorrência
Residente.  Endémica  da  Península  Ibérica.

Classificação
QUASE AMEAÇADO – NT  (B1b(iii)c(iv)+2b(iii)c(iv))
Fundamentação: Espécie com extensão de ocorrência e área de ocupação com valores aproximados de 350 km2 e de 150 km2, respectivamente. Admite-se um declínio continuado na área, extensão e qualidade do habitat e ainda a existência de flutuações acentuadas no número de indivíduos maduros.

Distribuição
Ocorre nas bacias hidrográficas do Tejo e Guadiana (Almaça & Banarescu 2003c).

Em Portugal, citações recentes para a bacia hidrográfica do Tejo registam a sua ocorrência apenas na sub-bacia do Sorraia (Fluviatilis 2003). Na bacia hidrográfica do Guadiana tem uma distribuição generalizada no rio principal e nas principais sub-bacias  (Collares-Pereira  et  al.  2000a,  Tiago  et  al.  2001,  Collares-Pereira et  al. 2002a).

População
Calcula-se que o número de indivíduos maduros seja superior a 10.000. Admite-se que a redução da população nos últimos 10 anos tenha sido inferior a 30% nos últimos 21 a 24 anos. Os efectivos desta espécie na Bacia do Guadiana (Collares-Pereira et al. 2000a, Tiago et al. 2001, Collares-Pereira et al. 2002a) sofreram uma flutuação de magnitude superior a quatro vezes, pelo que, devido às características desta bacia, há a possibilidade de ocorrerem flutuações acentuadas (de magnitude superior a dez vezes) no número de indivíduos maduros entre anos hidrológicos  extremos.  Apesar  desta  espécie  ocorrer  em  albufeiras  (Ferreira  & Godinho 2002), poderá verificar-se um declínio continuado do número de indivíduos maduros devido à redução ou degradação do habitat com a implementação do Empreendimento de Fins Múltiplos do Alqueva.

Habitat
Ocorre  preferencialmente  em  rios  e  ribeiras  permanentes  ou  intermitentes,  com preferência  pelos  cursos  médios  e  inferiores,  mais  estáveis  (Pires  et  al. 1999). Pode também ser encontrada em albufeiras (Ferreira & Godinho 2002, Almaça & Banarescu  2003c).  Supõe-se  que  esta  espécie  efectue  migrações  sazonais,  tal como o barbo do Sul B. sclateri (Rodriguez-Ruiz & Granado-Lorencio 1992). Para efectuar a postura necessita de águas com alguma velocidade de corrente, substrato de cascalho e ausência de ensombramento (Costa  et  al. 1988).

Factores de Ameaça
Os principais factores de ameaça são a degradação do habitat, provocada sobretudo pela construção de barragens, alteração do regime natural de caudais, captação de água, extracção de inertes, degradação da qualidade da água e também a introdução de espécies não-indígenas (Collares-Pereira et al. 2000a), a qual poderá ter  efeitos  a  nível  da  competição,  predação  ou  como  via  de  disseminação  de agentes patogénicos. É de realçar a redução e degradação generalizada do habitat  na  bacia  hidrográfica  do  Guadiana,  resultante  da  construção  de  diversas barragens (Odeleite, Enxoé, entre outras) e actualmente pela implementação do Empreendimento de Fins Múltiplos do Alqueva.

Medidas de Conservação
Esta espécie está abrangida pela legislação nacional e internacional de conservação. O barbo de Steindachner foi também abrangido nos estudos sobre a comunidade  piscícola  da  bacia  hidrográfica  do  Guadiana  efectuados  no  projecto  LIFE-Natureza  dirigido  para  o  saramugo  Anaecypris  hispanica  (Collares-Pereira  et  al. 2000a)  e  sobre  as  medidas  de  Minimização  e  Monitorização  para  o  Património Natural da Barragem do Alqueva (Tiago et al. 2001, Collares-Pereira et al. 2002a). Algumas  acções  de  manutenção  e  conservação  do  habitat  (nomeadamente  na melhoria da qualidade da água e algum controlo das extracções de inertes) têm sido efectuadas mas necessitam de ser reforçadas.

É necessária a recuperação das zonas mais degradadas e o controlo das espécies não-indígenas, medidas previstas nos Planos de Bacia Hidrográfica do Guadiana e Tejo (INAG 1998, 2000a), no Plano de Gestão do Saramugo (Collares-Pereira et al. 2000b) e no estudo de Minimização e Monitorização para o Património Natural da Barragem do Alqueva (Tiago et al. 2001, Collares-Pereira et al. 2002a). As medidas preconizadas na Directiva-Quadro da Água deverão atingir a melhoria permanente da qualidade dos habitats aquáticos. Devem ser minimizados os impactos de infra-estruturas hidráulicas implantadas ou a implantar, através do restabelecimento da conectividade entre as populações e da manutenção dos caudais mínimos,  especialmente  durante  a  época  estival.  Em  particular,  devem  ser  evitadas ou controladas as captações de água durante esta época, nomeadamente nos pegos.  Outras  medidas  necessárias  são  o  controlo  da  extracção  de  inertes,  a gestão sustentada da pesca e a melhoria da sua fiscalização e ainda a sensibilização  do  público  para  a  conservação  dos  ecossistemas  aquáticos.  É  necessário aumentar os conhecimentos sobre a biologia e ecologia desta espécie, monitorizar os seus efectivos (em particular nos rios principais) e a eficiência das medidas de conservação  a  implementar.

Notas
Em Espanha esta espécie não é reconhecida, sendo os indivíduos classificados como cumba B. comizo (Doadrio 1988). Em Portugal, é considerada como uma espécie  distinta  (Almaça  1967,  Costa-Pereira  1995).  No  entanto,  esta  entidade biológica  deve  ocorrer  em  ambos  os  lados  da  fronteira  (Almaça  &  Banarescu 2003c). Em Portugal, a identificação específica de alguns indivíduos deste género é por vezes dificultada por fenótipos intermédios que poderão ser resultantes de hibridação.

Outra bibliografia consultada
Almaça (1984); Kottelat (1997); Pires et  al. (2001).
in Livro Vermelho dos Vertebrados

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