segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Japão, o país sem armas

A revista espanhola ARMAS de Setembro de 2010 apresenta-nos uma reportagem sobre o airsoft no Japão:
Ou isso é o que pensávamos encontrar ao chegar ao País do Sol Nascente, mas não foi exactamente assim. As armas de fogo estão "praticamente" proibidas, pelo que os aficionados, melhor dito apaixonados, nipónicos se converteram nos grandes especialistas mundiais das "réplicas" de Softair que disparam bolinhas de plástico...
Viajar ao Japão é algo do mais exótico. As mais de treze horas de avião que o separam do nosso país não conseguem extinguir essa ilusão; uma vez ali descobrimos um novo mundo e poderíamos dizer que os nossos amigos japoneses, não é que sejam diferentes de nós, sim que vivem num universo paralelo ao nosso. Coisas como o respeito pelos outros, a ordem e a limpeza para eles são inatos; são felizes como crianças e isso é o que reflecte a sua sociedade cheia de símbolos e recursos muito infantis, mas por sua vez muito práticos.
Não se confundam; o anúncio apenas oferece baterias de grande duração para as réplicas.
País sem armas?
Até há pouco tempo o Japão foi um país com uma situação muito especial após a sua derrota na Segunda Guerra Mundial. Por sua vez, a idiossincrasia dos seus habitantes (não digamos já dos seus soldados), supôs um não menos especial planeamento na hora de estabelecer leis e normas de controle, sem esquecer as suas terríveis e ancestrais organizações criminosas (Yakuza), cujas origens remontam ao século XVII.
Quantas bolinhas se dispararão por ano no Japão? A cifra deve ser simplesmente incredível.
Por tudo isso, o controle de armas de fogo no Japão é o mais estrito e severo do mundo e as suas leis são muito claras: "Ninguém possuirá uma arma de fogo ou armas de fogo, nem uma espada ou espadas" (apesar de existirem excepções, em alguns casos desportivas e em outros de índole histórica e coleccionista). Mas em qualquer caso, essas restritivas leis chegam a todos os âmbitos e a polícia de trânsito, a polícia local, ou até os guardas ajuramentados que vigiam bens de valor, como dinheiro e jóias, vão geralmente sem armas de fogo, tão só levam um cassetete ou uma arma de defesa extensível para defender-se, ainda que segundo nos contaram estão muito bem treinados em artes marciais.
Lojas e mais lojas de réplicas.
As armas de fogo só são utilizadas em raras ocasiões por corpos de segurança muito especiais. Até os delinquentes as evitam porque as penas que podem receber pela posse ilegal de armas de fogo, são quase muito mais graves do que por qualquer outro acto delituoso.
A tradicional bandeira imperial de combate figura em muitos estabelecimentos.
As únicas armas de fogo que podem dispor os civis no Japão são as caçadeiras, para praticar tiro ao prato, mas obter essa licença desportiva é muito complicado e podem passar anos até que a consigam. Por outro lado, as armas brancas estão mesmo assim muito restringidas, ainda que exista um comércio que poderíamos considerar de elite, onde inclusive os vendedores "seleccionam" os possíveis clientes, os preços podem chegar a ser cardíacos e até muitas vezes as armas não se podem exportar ao ser consideradas como "Tesouro Nacional".
Esta escada "de selva" dava passagem a todo um enorme local dedicado ao Airsoft.
No outro extremo que podemos relacionar com o nosso passatempo e desde as abordagens mais modernas e tecnológicas, podeis pensar que o mundo do manga, o da animação ou o dos videojogos são coisa de crianças, mas não, é justamente o contrário e são os jovens e os adultos os que desfrutam ao máximo dele, além de que são uns autênticos viciados, "otakus" como lhe chamam eles.
Os fabricantes de réplicas chegam a acordos com os das armas reais para reproduzir inclusive as marcas e logótipos para um maior realismo... e o conseguem.
Entre estes "obcecados" encontramos também os amantes das armas de fogo, amantes das "réplicas", amantes de brinquedos como nos diziam nas lojas, armas de airsoft ou "ar suave" como nós as conhecemos. São as que disparam inofensivas bolinhas de plástico PVC de 6 ou 8mm de diâmetro. Existem de vários tipos, segundo o seu funcionamento: as de mola manual SPR (Spring), as eléctricas AEG (Automatic Electric Gun) ou as de gás GBB (Gas Blow Back), e de vários preços que vão desde as básicas e económicas até às caríssimas "pata negra". Mas isso não é tudo, os seus utilizadores não se conformam com possuí-las, também organizam todo o tipo de actividades com elas: desde concursos de tiro de precisão, aos que consistem em realizar diversas missões e combates em que tudo está preparado ao mais pequeno detalhe, tanto em campo aberto como em "polígonos de combate" criados para isso 
em enormes edifícios industriais no meio das grandes cidades.
Pode-se escolher entre um Single Action  "do Oeste" ou um FN SCAR equipado com os mais modernos acessórios e também entre diferentes qualidades e preços.
Visitando "armeiros" em Tóquio
Não íamos perder a oportunidade de descobrir como se divertem os nossos amigos nipónicos com o tema das armas, ainda que estas sejam "réplicas" de airsoft. Depois de comprar um par de revistas especializadas num quiosque e, perguntar ao recepcionista do hotel que nos indicou, sobre um mapa, a localização de algumas das lojas que apareciam ali anunciadas, empreendemos a nossa marcha, ainda que sem saber muito bem o que íamos encontrar.
Primeiro fomos a um grande centro comercial, na zona de Ikebukuro, similar a um dos nossos Corte Inglês. Uma vez ali, no piso dedicado aos "hobbys", encontramos numa esquina uma incredível exposição de armas de airsoft e alguns acessórios básicos. O encarregado da secção (japonês supomos), se ria perante o nosso assombro e, com um inglês ainda mais básico do que o nosso, não de dizer: "toys, toys..." ou seja, brinquedos. O pobre homem não entendia que pudéssemos ficar alucinados diante da sua mercadoria; tendo em conta que destes grandes centros comerciais deve haver uns quinze em Tóquio e que nesta megalópole, cuja população alcança já os treze milhões de habitantes, há sitio para tudo.
Quer sejam de clássicas ou modernas, as réplicas roçam por vezes a perfeição.
Seguimos depois o nosso caminho e mudámos de zona. Um curto trajecto de metro nos levou ao bairro da electrónica: Akihabara. Ali todos os "freaks" encontram o seu sitio e se é fim de semana ainda mais, já que as suas ruas são cortadas ao trânsito e são tomadas por milhares deles. Ali, entrámos seguindo as nossas indicações, numa loja dedicada ao mundo do "hobby" em todas as suas facetas: modelos, manga, videojogos, artesanato, RC, sloot... Imaginem um InterKits, mas com sete enormes pisos. Fomos subindo pisos e ao chegar ao penúltimo encontramo-nos perante uma escada rolante toda pintada de camuflagem e com videiras. No fim das escadas, das duas uma: ou havia um garden center ou chegávamos ao Vietname. Sem pensar duas vezes subimos e ali encontramos todo um andar dedicado ao mundo do airsoft e à militaria, é que aos nossos amigos de olhos rasgados os encanta fazer as coisas de forma obsessiva.
Capa de um número actual da revista japonesa ARMS.
Prosseguimos a nossa aventura descobrindo pequenas lojas dedicadas ao mundo das armas em diversos bairros de Tóquio, até que chegámos a "meca", que se chama Echigoya Gun-Hobby. Isso é exactamente o que todos gostaríamos que também existisse no nosso querido país... com uma brutal exposição de "réplicas" de armas largas e curtas, grande quantidade de acessórios para fazer "up grade" (melhorar as suas prestações), com carregadores de alta capacidade Hi Cap, silenciadores, motores mais potentes, baterias Li-Po "polímero de lítio" muito mais leves, com maior capacidade de descarga e além de não sofrerem de efeito de memória e, todo o tipo de miras e visores telescópicos. Além disso, na loja dispõem de oficina e uma ampla zona de equipamento com todo o tipo de vestuário táctico. Grande negócio tem estes senhores ali montado, a loja está cheia de gente e contamos pelo menos sete dependentes.
A oferta é simplesmente alucinante. Não será fácil escolher entre tal variedade.
Como vedes, o Japão é um país sem armas, sem armas de fogo, porque na hora de falar de "réplicas" são os reis do mundo. As marcas mais conhecidas e apreciadas do sector como Tokio Marui, Western Arms e Systema são "Made in Japan". Sayonara.
Por ArmasAdictos.com
Fotos: ArmasAdictos.com
O Japão é um fascinante país no qual os símbolos e tradições se misturam com a maior modernidade em todos os aspectos imagináveis.
A noite de Tóquio veste-se de luzes e cores para um impressionante comércio.
Não só armas, mas também tudo o imaginável em equipamentos e complementos.
Há mais de 20 anos, a revista japonesa GUN era uma referência internacional pelos seus conteúdos e pela qualidade das suas imagens. O estúdio do director de ARMAS colaborou com ela durante vários anos, realizando fotografias para as suas capas e posters, algumas de armas genuinamente espanholas.

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