domingo, 14 de agosto de 2011

Cobitis calderoni, Verdemã do Norte

Taxonomia
Actinopterygii,  Cypriniformes,  Cobitidae.

Tipo de ocorrência

Residente.  Endémica  da  Península  Ibérica.
 
Classificação
EM PERIGO - EN  (B1ab(ii,iii,iv)+2ab(ii,iii,iv))
Fundamentação: Espécie com extensão de ocorrência e área de ocupação muito reduzidas,  menores  que  150  km2.  Verifica-se  uma  elevada  fragmentação  da sua distribuição, que está restrita a algumas sub-bacias da bacia hidrográfica do Douro.  Admite-se  que  poderá  ocorrer  um  declínio  da  área  de  ocupação  e  da área, extensão e qualidade do habitat, assim como do número de localizações.
 
Distribuição
Distribui-se pela zona setentrional da Península Ibérica (Madeira et al. 1992). Em Espanha ocorre nas bacias hidrográficas do Ebro, Douro e em alguns locais da bacia hidrográfica do Tejo (Doadrio 2001a).

Em  Portugal  está  presente  apenas  na  bacia  hidrográfica  do  Douro  com  uma distribuição  fragmentada,  nas  sub-bacias  do  Corgo,  Tua  (nomeadamente  nos rios  Tuela,  Rabaçal  e  seus  afluentes,  onde  ocorre  com  frequência),  Távora  e Sabor (Vasilieva et al. 1992, Madeira 1994, 2002). Existem também registos para as sub-bacias do Torto, Côa e Aguiar (INAG 1999b) que necessitam confirmação.

Não há registos no troço principal do rio Douro.
 
População
Calcula-se que o número de indivíduos maduros seja superior a 10.000. A redução da população nos últimos 12 a 13 anos poderá ter sido inferior a 30% e poderá continuar a verificar-se nos próximos 10 a 13 anos, ou em qualquer período da mesma amplitude que abarque o passado e o futuro. As causas da redução embora geralmente compreendidas, não são reversíveis, nem cessaram. A avaliação da redução é baseada no declínio da qualidade do habitat e também na expansão de  espécies  não-indígenas.  Dada  a  sua actual  distribuição  fragmentada,  presume-se que tenha ocorrido nas últimas décadas um declínio continuado na área de ocupação e na área, extensão e qualidade do habitat ocupado pela espécie devido  a  vários  factores  de  ameaça.  Consequentemente,  poderá ter  ocorrido igualmente um declínio no número de sub-bacias ocupadas. Tal possibilidade é reforçada pelo conhecimento das populações em Espanha onde, na década de noventa, a espécie desapareceu em mais de 20% da área anteriormente ocupada, levando  à fragmentação  da  sua  distribuição  (Doadrio  2001a).
 
Habitat
Esta  espécie  bentónica  habita  cursos  de  água  permanentes  ou  intermitentes, desde o habitat típico dos salmonídeos, onde é pouco abundante, até aos cursos de água ciprinícolas, onde ocorre com mais frequência e em maior abundância (J Madeira com. pess.), havendo registos da sua ocorrência em albufeiras (Ferreira & Godinho 2002) que necessitam confirmação. Ocorre nos troços médios e superiores  de  rios  e  ribeiros,  com elevada  quantidade  de  oxigénio  dissolvido,  com substrato de areão e rocha (Perdices & Doadrio 1997, Doadrio 2001a).

Factores de Ameaça
Os principais factores de ameaça são a degradação do habitat, provocada sobretudo pela construção de barragens na bacia hidrográfica do Douro (elevado número de grandes albufeiras e mini-hídricas), alteração do regime natural de caudais, extracção de inertes, degradação da qualidade da água, e também a introdução e expansão de espécies não-indígenas, a qual poderá ter efeitos a nível da competição,  predação  ou  como  via  de disseminação  de  agentes  patogénicos.  O  facto desta espécie apresentar em Portugal uma distribuição muito circunscrita a algumas sub-bacias  aumenta  a  sua  vulnerabilidade face  aos  factores  de  ameaça.
 
Medidas de Conservação
Esta espécie está abrangida pela legislação nacional e internacional de conservação.

As medidas de conservação mais importantes são a conservação do seu habitat e  o controlo  das  espécies  não-indígenas  nomeadamente  na  sub-bacia  do  Tua.

Assim, devem ser minimizados os impactos de infra-estruturas hidráulicas, promovendo  a conectividade  das  populações  e  a  diminuição  da  variação  brusca  dos caudais e melhorar a fiscalização e controlo da extracção de inertes. A implementação de planos de ordenamento, designadamente o Plano de Bacia Hidrográfica do Douro (INAG 1999b) deverá melhorar as condições para a espécie. É também necessário implementar a Directiva-Quadro da Água, que deverá atingir a melhoria permanente  da  qualidade  dos habitats  aquáticos  e  o  Plano  Estratégico  de Saneamento e Tratamento de Águas Residuais. Outras medidas a apontar são a gestão sustentada da pesca, a melhoria da sua fiscalização e a sensibilização do público para a conservação dos ecossistemas aquáticos, nomeadamente sobre os efeitos nefastos das introduções de espécies não-indígenas. A realização de investigação  para  melhor  conhecer  a  sua  distribuição  na  bacia  hidrográfica  do Douro e a norte desta e ainda a sua biologia e ecologia, permitirá compreender melhor  as  causas  da  sua  fragmentação  e  declínio.  É  imperativo  monitorizar  os efectivos  populacionais  e  avaliar  as  medidas  de  conservação.

Notas
Existem  registos  pontuais  da  sua  ocorrência  a  norte  da  bacia  hidrográfica  do Douro (INAG 1999d, 2000e) a necessitar confirmação, pois a identificação específica dos indivíduos é por vezes dificultada pela semelhança entre esta espécie e o verdemã-comum Cobitis  paludica.
 
Outra bibliografia consultada
Bacescu  (1961);  Lobón-Cerviá  (1982a);  Perdices  (1997).
in Livro Vermelho dos Vertebrados

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