terça-feira, 24 de setembro de 2013

Tetrax tetrax, Sisão

Taxonomia
Aves, Gruiformes, Otididae.

Tipo de ocorrência
Residente.

Classificação
VULNERÁVEL - VU (A2c+3c+4c)
Fundamentação: Admite-se que a espécie pode ter sofrido nos últimos 10 anos uma acentuada redução da sua população, com base nas evidências de declínio na área de ocupação e extensão de ocorrência, bem como da redução da área de cerealicultura extensiva e de pousios. As causas dessa redução populacional são compreendidas e são reversíveis mas não cessaram, admitindo-se que continuem a actuar nos próximos 10 anos.
 
Distribuição
O sisão é uma espécie de distribuição Paleárctica que ocupa, de forma descontínua, a faixa compreendida entre os paralelos 35º N e 50º N (Cramp & Simmons 1980). Apresenta dois núcleos principais: um ocidental, abrangendo a Península Ibérica, França e extremo Sudeste de Itália (na Sardenha), e outro oriental, no Sudeste da Rússia Europeia e Casaquistão (Schulz 1985). Inverna numa vasta área desde o Mediterrâneo, passando pela Turquia e o Cáucaso, até ao Irão. De forma errática, ocorre ainda no Sul da Ásia.

Em Portugal distribui-se essencialmente desde a Beira Baixa até ao Algarve, sendo mais localizado a norte do Tejo e, por isso, menos abundante (Rufino 1989).

População
O efectivo actual do sisão em Portugal não é conhecido com exactidão, estando a espécie a ser alvo de um programa de censos a nível nacional. No entanto, a sua população será superior a 10.000 indivíduos maturos. Estimativas populacionais recentes para Castro Verde indicam 2.400 indivíduos nessa região (Moreira 1999) e para a Zona de Protecção Especial de Campo Maior há estimativa de 79 machos territoriais em 1998 (Silva et al. 2004).

Desconhece-se igualmente qual a tendência populacional à escala nacional; no entanto, as regressões locais em zonas com agricultura mais intensificada (Silva JP dados não publicados) bem como a grande redução da área de poisio disponível (INE 1979, 2001), indiciam que a espécie terá sofrido nos últimos 10 anos uma forte redução populacional, que se admite ter atingido os 30%. Em Castro Verde, segundo R Borralho (com. pess.), dados referentes à monitorização do Plano Zonal indicam que terá havido um aumento no número de sisões no interior da área de intervenção deste plano, no período 1995-97. No entanto, atendendo à tendência de evolução da agricultura no Alentejo e aos
problemas actualmente sentidos de adesão ao Plano Zonal de Castro Verde (Lampreia 2003) admite-se que a tendência populacional regressiva desta espécie não seja alterada nos próximos anos.

É uma espécie globalmente classificada como Quase Ameaçada (NT) (IUCN 2004a), que em termos de estatuto de ameaça a nível da Europa é considerada Vulnerável (BirdLife International 2004).

Actualmente, segundo Schulz (1985) e de Juana & Martínez (1996, 2001), considera-se que a população mais viável desta espécie se encontra na Península Ibérica, constituindo mais de metade da população mundial.

Habitat
O sisão frequenta planícies abertas ou com árvores dispersas, ocupando ocasionalmente e de forma marginal montados pouco densos. Tende a ocupar extensas áreas de mosaico agrícola formado pela prática da cereacultura extensiva, pousios e pastagens, seleccionando áreas com vegetação rasteira, de altura não superior a 20 cm (de Juana & Martínez 2001, Martínez 1994, Salamolard & Moreau 1999, Silva et al. 2004). Na época de reprodução está particularmente associado a zonas agrícolas onde é praticada a cereacultura extensiva e pastagens; os machos adultos preferem pousios para formar os seus territórios e optam por locais com uma maior disponibilidade de insectos (Martínez 1998, Salamolard & Moreau 1999). No inverno os bandos tendem a ocorrer no topo das elevações e são sensíveis à perturbação humana, evitando a proximidade de estradas e casas habitadas (Silva et al. 2004).

Factores de Ameaça
Como principais ameaças à conservação desta espécie em Portugal foram identificados os seguintes factores: intensificação da agricultura, florestação das terras agrícolas, expansão de cultivos lenhosos, construção de estradas, albufeiras, outras infra-estruturas, abandono agrícola e do pastoreio extensivo, utilização de agro-químicos, perturbação humana e a colisão com linhas aéreas de transporte de energia.

Medidas de Conservação
Apenas parte da vasta área de ocorrência de sisão em Portugal está classificada como Zona de Protecção Especial (Estuário do Tejo, Costa Sudoeste, Ria Formosa, Sapais de Castro Marim, Douro Internacional e Vale do Rio Águeda, Campo Maior, Moura-Mourão-Barrancos; Castro Verde, Vale do Guadiana).

A espécie é actualmente alvo de um projecto LIFE “Projecto Tetrax – conservação do sisão no Alentejo”.

Foi contemplada no Plano de acção para  a conservação das aves dependentes da estepe cerealífera (Almeida et al. 2003). Conforme identificado nessa proposta técnica, a conservação do sisão em Portugal depende: da promoção da cerealicultura extensiva com rotação de culturas, mediante aplicação de medidas agro-ambientais e/ou indemnizações compensatórias em áreas estepárias prioritárias); da manutenção do pastoreio extensivo e condicionamento do encabeçamento nas áreas mais importantes de reprodução; do incremento da sustentabilidade económica das áreas estepárias, nomeadamente através da certificação de produtos provenientes de áreas “amigas da avifauna estepária”; da elaboração e implementação de Planos de Gestão nas ZPE’s com ocorrência da espécie (Moura-Mourão-Barrancos, Campo Maior, Castro Verde); da classificação de novas ZPE’s em áreas importantes para a espécie, particularmente para o período reprodutor; do estabelecimento de uma estratégia conjunta Portugal-Espanha visando a conservação das aves dependentes da estepe cerealífera; do condicionamento da edificação, da actividade turística e da actividades cinegética em ZPE’s importantes para avifauna estepária; da implementação do protocolo estabelecido entre ICN/ EDP/REN/SPEA/QUERCUS, que visa compatibilizar os traçados das linhas aéreas de transporte de energia eléctrica com a conservação das aves. Também a construção de vias de comunicação, de linhas para o transporte de energia e outras infra-estruturas, de plantações florestais, vinhas e perímetros de rega nas áreas prioritárias para a conservação da espécie devem ser sujeitas a AIA, tendo em conta a perda de habitat estepário e a sua fragmentação, o incremento esperado no número de predadores e o efeito cumulativo/sinérgico dos projectos individuais.

Devem ainda ser realizados estudos sobre a distribuição e abundância da espécie para os períodos de reprodução, pós-nupcial e inverno, que permitam esclarecer os movimentos da espécie e as áreas concretas de que depende ao longo do ano. Deve ser assegurada a monitorização de parâmetros populacionais, por forma a avaliar as tendências na distribuição e no tamanho da população. Foi ainda identificada a necessidade de inventariar as zonas com características estepárias no Alentejo.

Importa também informar a comunidade rural e a população em geral sobre os valores naturais das áreas agrícolas extensivas de sequeiro e sobre as necessidades de conservação das espécies delas dependentes.

in Livro Vermelho dos Vertebrados





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