terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Barbus sclateri, Barbo do Sul

Taxonomia
Actinopterygii,  Cypriniformes,  Cyprinidae.

Tipo de ocorrência
Residente.  Endémica  da  Península  Ibérica.

Classificação
EM PERIGO . EN  (B1ab(ii,iii)c(iv)+2ab(ii,iii)c(iv))
Fundamentação: Espécie com extensão de ocorrência e área de ocupação muito reduzidas com valores aproximados de 180 km2 e 130 km2, respectivamente. Verifica-se  uma  fragmentação  elevada,  admite-se  um  declínio  continuado  na área de ocupação e na área, extensão e qualidade do habitat e a possibilidade de ocorrerem flutuações acentuadas no número de indivíduos maduros.

Distribuição
Espécie restrita à zona meridional da Península Ibérica (Almaça 1978a). Em Espanha ocorre nas bacias hidrográficas dos Rios Guadalquivir, Guadiaro, Guadalete, Guadalhorce,  Segura,  afluentes  do  Baixo  Guadiana  e  em  numerosas  pequenas bacias  hidrográficas  do  sul  de  Espanha  até  à  bacia  hidrográfica  de  Vélez  em Málaga  (Doadrio  2001a).

Em Portugal, distribui-se nas bacias hidrográficas do Guadiana (Collares-Pereira et al. 2000a), Mira, Arade e Seixe (Magalhães & Collares-Pereira 1999) e nas de Quarteira e Gilão (INAG 2000b, Mesquita & Coelho 2002). Na bacia hidrográfica do Guadiana em território nacional é mais abundante a sul, tendo sido detectada na maioria das sub-bacias (INAG 1998, Collares-Pereira et al. 2000a, Tiago et al. 2001,  Collares-Pereira et  al. 2002a).

População
Calcula-se que o número de indivíduos maduros seja superior a 10.000. Admite-se que possa ter sofrido uma redução da população inferior a 30% nos últimos 28 anos.  Tendo  sido  registadas  flutuações  de  magnitude  superior  a  dez  vezes  no efectivo populacional da bacia hidrográfica do Mira (Magalhães 2002), admite-se também que poderão ocorrer flutuações acentuadas no número total de indivíduos maduros, entre anos hidrológicos extremos. Apesar da espécie ocorrer em albufeiras (Ferreira & Godinho 2002, Pires  et  al.  2004),  poderá  verificar-se  um  declínio continuado do número de indivíduos maduros nas bacias hidrográficas do Guadiana e do Arade associado à construção de novas barragens. Tanto na bacia hidrográfica do Mira como na do Arade, a espécie apresenta uma distribuição restrita e fragmentada  (COBA  1997,  Magalhães  &  Collares-Pereira  1999).

Habitat
Ocorre  preferencialmente  em  rios  e  ribeiras  permanentes  ou  intermitentes,  concorrente e profundidade moderadas (Doadrio et al. 1991, Elvira 1995) e com galeria ripícola bem desenvolvida (Pires et al. 2004). No período de estiagem, em geral, ocorre em pegos de grandes dimensões, encontrando-se ausente em troços lóticos de reduzida profundidade (Magalhães et al. 2002). Pode também ser encontrado  em  albufeiras  (Ferreira  &  Godinho  2002),  nomeadamente  na  albufeira de Funcho (COBA 1997, Pires et al. 2004) onde não há indicação de que ocorra reprodução. Esta espécie efectua migrações sazonais (Rodriguez-Ruiz & Granado-Lorencio  1992).  Supõe-se  que  para  desovar  necessite  de  águas  com  alguma velocidade de corrente, substrato de cascalho e ausência de ensombramento, tal como  o  barbo  de  Steindachner  Barbus  steindachneri  e  o  barbo-de-cabeça-pequena Barbus microcephalus (Costa et  al. 1988).

Factores de Ameaça
Os principais factores de ameaça são a degradação do habitat, provocada sobretudo pela construção de barragens, alteração do regime natural de caudais, captação de água, extracção de inertes, degradação da qualidade da água e também a introdução de espécies não-indígenas (Collares-Pereira et al. 2000a), a qual poderá ter  efeitos  a  nível  da  competição,  predação  ou  como  via  de  disseminação  de agentes patogénicos. É de realçar a redução e degradação generalizada do habitat  na  bacia  hidrográfica  do  Guadiana,  resultante  da  construção  de  diversas barragens (Odeleite, Enxoé, entre outras) e actualmente pela implementação do Empreendimento de Fins Múltiplos do Alqueva e na bacia hidrográfica do Arade, pela  construção  das  barragens  do  Funcho  e  Arade,  situação  que  se  agravará com a construção da Barragem de Odelouca.

Medidas de Conservação
Esta espécie está abrangida pela legislação nacional e internacional de conservação. O barbo do Sul foi também abrangido nos estudos sobre a comunidade piscícola da Bacia do Guadiana, efectuados no projecto LIFE-Natureza dirigido para o saramugo Anaecypris hispanica (Collares-Pereira et al. 2000a), sobre as medidas de Minimização e Monitorização para o Património Natural da Barragem do Alqueva (Tiago et al. 2001, Collares-Pereira et al. 2002a) e nos estudos sobre a ictiofauna dulciaquícola do Sudoeste de Portugal (Magalhães & Collares-Pereira 1999). Algumas  acções  de  manutenção  e  conservação  do  habitat  (nomeadamente  na melhoria da qualidade da água e algum controlo das extracções de inertes) têm sido  efectuadas  mas  necessitam  ser  reforçadas.

É necessária a recuperação das zonas mais degradadas e o controlo das espécies não-indígenas,  medidas  previstas  no  Plano  de  Bacia  Hidrográfica  do  Guadiana (INAG 1998), no Plano de Gestão do Saramugo (Collares-Pereira et al. 2000b) e no estudo de Minimização e Monitorização para o Património Natural da Barragem do Alqueva (Tiago et al. 2001, Collares-Pereira et al. 2002a). As medidas preconizadas na Directiva-Quadro da Água deverão atingir a melhoria permanente da qualidade dos habitats aquáticos. Devem ser minimizados os impactos de infra-estruturas hidráulicas implantadas ou a implantar, através do restabelecimento da conectividade entre as populações e da manutenção dos caudais mínimos, especialmente durante o período estival. Em particular, a interdição de uso e captação de água em pegos, durante o período de estiagem, pode ser considerada fundamental para a preservação da espécie (Magalhães & Collares-Pereira 1999). Outras medidas necessárias são o controlo da extracção de inertes, a gestão sustentada da pesca  e  a  melhoria  da  sua  fiscalização  e  ainda  a  sensibilização  do  público  para  a conservação dos ecossistemas aquáticos. É necessário aumentar os conhecimentos sobre a biologia e ecologia desta espécie, monitorizar os seus efectivos populacionais e as medidas de conservação a implementar.

Notas
A identificação específica de alguns indivíduos deste género é por vezes dificultada por fenótipos intermédios que poderão ser resultantes de hibridação.
 
Outra bibliografia consultada
Almaça (1967); Herrera et al. (1988); Herrera & Fernández-Delgado (1992); Torralva et  al.  (1997);  Almaça  &  Banarescu  (2003b).

in Livro Vermelho dos Vertebrados

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