terça-feira, 10 de maio de 2011

Chondrostoma lemmingii, Boga-de-boca-arqueada

Taxonomia
Actinopterygii,  Cypriniformes,  Cyprinidae.
 
Tipo de ocorrência
Residente.  Endémica  da  Península  Ibérica.
 
Classificação
EM PERIGO – EN  (B1b(ii,iii)c(iv)+2b(ii,iii)c(iv))
Fundamentação: Espécie com extensão de ocorrência e área de ocupação muito reduzidas, com cerca de 350 km2 e 150 km2, respectivamente. Admite-se um declínio continuado na área de ocupação e na área, extensão e qualidade do habitat  e  ainda  a  existência  de  flutuações  acentuadas  no  número  de  indivíduos maduros.
 
Distribuição
Em Espanha a espécie encontra-se nas bacias hidrográficas dos rios Tejo, Guadiana, Guadalquivir e Odiel, e nos rios da zona sudoeste da bacia hidrográfica do Douro (Doadrio 2001a).

Em Portugal encontra-se em alguns dos afluentes orientais da margem direita da bacia hidrográfica do Tejo (Collares-Pereira 1983a, Marques 2002, Fluviatilis 2003), na maioria das principais sub-bacias do Guadiana (Collares-Pereira et al. 2000a, Tiago et al. 2001, Collares-Pereira et al. 2002a) e nas pequenas bacias hidrográficas de Quarteira, Gilão e Almargem, situadas na região do leste algarvio (Mesquita & Coelho 2002).
 
População
Calcula-se que o número de indivíduos maduros seja superior a 10.000. Admite-se que a redução da população nos últimos 10 anos tenha sido entre 30% a 50% e prevê-se que possa continuar a verificar-se nos próximos 10 anos ou em qualquer período da mesma amplitude que abarque o passado e o futuro. As causas da redução  embora  geralmente compreendidas,  não  são  reversíveis,  nem  cessaram.

A avaliação da redução é baseada no declínio da qualidade do habitat e também na  expansão  de  espécies  não-indígenas.  Os  efectivos  desta  espécie  recolhidos na  bacia  hidrográfica  do  Guadiana  (Collares-Pereira  et  al.  2000a,  Tiago  et  al. 2001, Collares-Pereira et  al. 2002a) indicam uma flutuação de magnitude superior a cinco vezes, pelo que, devido às características desta bacia hidrográfica, há a  possibilidade  de  ocorrerem  flutuações  acentuadas  no  número  de  indivíduos maduros entre anos hidrológicos extremos.
 
Habitat
Esta espécie pode ser encontrada preferencialmente em rios e ribeiras permanentes ou intermitentes (Rodriguez-Jiménez 1987, Pires 1999), não havendo registos em albufeiras (Ferreira & Godinho 2002). Na bacia hidrográfica do Guadiana a espécie ocorre  nos  troços  de  rio  situados  mais  a  montante  (Filipe  et  al.  2002,  2004).
Doadrio (2001a) refere que a espécie também ocorre nos troços médios e baixos dos rios, em locais de corrente moderada e com abundante vegetação aquática.
Devido à implementação do Empreendimento de Fins Múltiplos do Alqueva poderá verificar-se um declínio continuado da área de ocupação e do número de subpopulações ou localizações por não haver registo da ocorrência da espécie em albufeiras (Ferreira & Godinho 2002).

Factores de Ameaça
Os principais factores de ameaça são a degradação do habitat, provocada sobretudo pela construção de barragens, alteração do regime natural de caudais, captação de água, extracção de inertes, degradação da qualidade da água, e também a introdução de espécies não-indígenas (Collares-Pereira et al. 2000a,b) a qual poderá ter  efeitos  a  nível  da  competição,  predação  ou  como  via  de  disseminação  de agentes patogénicos. É de realçar a redução e degradação generalizada do habitat  na  bacia  hidrográfica  do  Guadiana,  resultante  da  construção  de  diversas barragens (Odeleite, Enxoé, entre outras) e actualmente pela implementação do Empreendimento de Fins Múltiplos do Alqueva.

Medidas de Conservação

Esta espécie está abrangida pela legislação nacional e internacional de conservação. Vários locais do sul do país foram designados para a lista nacional de sítios ao abrigo da Directiva Habitats devido à sua presença, entre outros valores, mas carecem  ainda  de  medidas  de  ordenamento  e  gestão  dirigidas  à  espécie.  A boga-de-boca-arqueada foi também abrangida nos estudos sobre a comunidade piscícola da bacia hidrográfica do Guadiana efectuados no projecto LIFE-Natureza dirigido  para  o  saramugo Anaecypris  hispanica  (Collares-Pereira  et  al. 2000a) e sobre as medidas de Minimização e Monitorização para o Património Natural da Barragem do Alqueva (Tiago et al. 2001, Collares-Pereira et al. 2002a). Algumas acções  de  manutenção  e  conservação  do  habitat  (nomeadamente  na  melhoria da qualidade da água e algum controlo das extracções de inertes) têm sido efectuadas mas necessitam ser reforçadas.

É necessária a recuperação das zonas mais degradadas e o controlo das espécies não-indígenas,  medidas  previstas  nos  Planos  de  Bacia  Hidrográfica  Guadiana, Tejo e Ribeiras do Oeste (INAG 1998, 2000a,b), no Plano de Gestão do Saramugo (Collares-Pereira et al. 2000b) e no estudo de Minimização e Monitorização para o Património Natural da Barragem do Alqueva (Tiago et al. 2001, Collares-Pereira et  al.  2002a).  As  medidas  preconizadas  na  Directiva-Quadro  da  Água  deverão atingir  a  melhoria  permanente  da  qualidade  dos  habitats  aquáticos.  Devem  ser minimizados os impactos de infra-estruturas hidráulicas implantadas ou a implantar, através do restabelecimento da conectividade entre as populações e da manutenção dos caudais mínimos, especialmente durante o período de estiagem. Em particular,  devem  ser  evitadas  ou  controladas  as  captações  de  água  durante  esta época,  nomeadamente  nos  pegos.  Outras  medidas  necessárias  são  o  controlo da extracção de inertes, a gestão sustentada da pesca e a melhoria da sua fiscalização e ainda a sensibilização do público para a conservação dos ecossistemas aquáticos. É necessário aumentar os conhecimentos sobre a biologia e ecologia desta espécie, monitorizar os seus efectivos populacionais (em particular nos rios principais)  e  a  eficiência  das  medidas  de  conservação  a  implementar.
 
Outra bibliografia consultada
Velasco et  al. (1990); Carmona et  al. (2000); Ferreira & Oliveira (2000).
in Livro Vermelho dos Vertebrados

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