terça-feira, 22 de novembro de 2011

Salmo salar, Salmão do Atlântico

Taxonomia
Actinopterygii, Salmoniformes, Salmonidae.
 
Tipo de ocorrência
Migradora anádroma.
 
Classificação
CRITICAMENTE EM PERIGO - CR (A2bce+3ce+4bce; C1+2a(ii)b; D)
Fundamentação: Considera-se que a redução da população nos últimos 10 a 21 anos atingiu 98% do número de indivíduos maduros e prevê-se que possa continuar a verificar-se nos próximos 10 a 21 anos ou em qualquer período com a mesma amplitude que abarque o passado e o futuro. As causas da redução, embora geralmente compreendidas, não são reversíveis nem cessaram. A avaliação da redução é baseada em dados de abundância, nos declínios da área de ocupação, da extensão de ocorrência e da qualidade do habitat e também na expansão de espécies não-indígenas. Calcula-se que existam menos de 250 indivíduos maduros e que pelo menos 90% dos indivíduos maduros se encontram na subpopulação do rio Minho. Sabe-se que tem havido um declínio continuado (embora se desconheça a percentagem) durante as últimas três gerações e admite-se a existência de flutuações acentuadas no número de indivíduos maduros.

Distribuição

Ocorre no Atlântico Norte, desde a região do Círculo Polar Árctico, Islândia, Mar Báltico, até ao norte da Península Ibérica e desde o Mar de Barents até à Nova Inglaterra (Scott & Crossman 1973, Kazakov 1992).

Em Portugal ocorre nos rios Minho e Lima (Antunes & Weber 1990, IZAN 1990, Valente et al. 1991) com uma área de ocupação total inferior a 20 km2.

População
De acordo com os dados de capturas e informações de pescadores dos rios Minho e Lima, o número de indivíduos maduros é extremamente reduzido, sofre flutuações acentuadas e está em declínio continuado. A maior subpopulação é a do rio Minho. É provável que a população do rio Lima, já residual na década de 90, se tenha extinguido com a construção do açude de Ponte de Lima.
 
Habitat
Os salmões reproduzem-se em rios com caudal permanente de características salmonícolas, geralmente caracterizados por águas bem oxigenadas, ausência de poluição orgânica ou inorgânica, com substracto de cascalho ou gravilha. As características típicas das áreas de desenvolvimento de juvenis incluem zonas de baixa profundidade (inferior a 20 cm), substrato de cascalho e velocidades de corrente entre 50-70 cm/s (Environment Agency 1998, Mills 1989). Após um a dois anos em águas doces e salobras, os juvenis sofrem um processo de 'smoltificação' e migram para o mar onde passam o período de crescimento. Quando atingem a maturação sexual regressam aos locais de nascimento para se reproduzirem, comportamento que se designa por "homing".

Factores de Ameaça

As ameaças mais graves para o salmão são as que incidem na fase continental do seu ciclo de vida, das quais se destacam a construção de barragens e açudes, que alteram as zonas de desova ou impedem o seu acesso. A área disponível para a reprodução está extremamente reduzida e continua a diminuir devido aos factores de ameaça sobre o seu habitat. Outros impactos nas águas doces são a poluição, a exploração de inertes, a alteração do regime natural de caudais (devido à exploração dos recursos hídricos e ao regime de exploração das barragens) e a sobrepesca. Embora não se possa considerar que as duas populações existentes em Portugal estejam completamente isoladas, já que indivíduos erráticos de outras bacias mais a norte poderão eventualmente recolonizar estas bacias, a probabilidade de recolonização é reduzida devido ao comportamento de "homing".

Na fase marinha, e devido à sua raridade, não existe uma pesca dirigida a esta espécie mas muitos salmões são capturados juntamente com outras espécies, sendo aproveitados e registados nas estatísticas de pesca.

Medidas de Conservação

O salmão está abrangido pela legislação nacional e internacional de conservação (WWF 2001). Os rios Minho e Lima foram designados para a lista nacional de sítios de acordo com a Directiva Habitats devido à presença da espécie, entre outros valores, mas carecem ainda de medidas de ordenamento e gestão dirigidos à espécie. Tem sido alvo de alguns estudos relativos ao seu efectivo populacional, distribuição, biologia e ecologia, estado do habitat e ameaças. Foram feitos também alguns ensaios de reintroduções (IZAN 1990).

É necessário implementar as medidas preconizadas nos diversos planos de ordenamento territorial recentemente elaborados (e.g. Planos de Bacia Hidrográfica) e ainda na Directiva-Quadro da Água que deverão atingir a melhoria permanente da qualidade dos habitats aquáticos. É urgente avaliar e monitorizar as populações dos rios Minho e Lima, impedir a construção de novos obstáculos nestes rios e implementar dispositivos de transposição nas barragens e açudes existentes que possibilitem a livre circulação desta espécie no rio Lima até à barragem de Touvedo e em todo o troço internacional do rio Minho. Também é urgente o controlo estrito da pesca e da qualidade da água, nomeadamente a reclassificação dos rios Lima e Minho como salmonícolas, a reabilitação dos regimes hidrológicos naturais e a recuperação e monitorização das áreas de desova e crescimento de juvenis.

Eventualmente poderão ser necessários programas de repovoamento recorrendo a ovos ou alevins de populações próximas. Deve ser efectuada uma campanha de sensibilização do público, em geral, e das comunidades piscatórias, em particular, para a importância da sua conservação.

Outra bibliografia consultada
Valente & Alexandrino (1990); Bardonnet & Baglinière (2000).
 in Livro Vermelho dos Vertebrados

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