terça-feira, 17 de novembro de 2015

Oceanodroma castro, Roquinho, Paínho da Madeira, Angelito (Açores), Roque de Castro (Madeira)

Taxonomia
Aves, Procellariiformes, Hydrobatidae.

Tipo de ocorrência

Continente: Migrador nidificante de “inverno” (entre Agosto e Março).
Açores: Migrador nidificante de “inverno” (entre Agosto e Março) e de “verão” (entre Abril e Outubro).

Classificação
Continente: VULNERÁVEL - VU (D1+2)
Fundamentação: Espécie colonial com população reduzida (entre 400 e 800 indivíduos maturos), com área de ocupação muito reduzida (cerca de 1 km2) e apenas uma localização.

População nidificante de verão”, Açores: EM PERIGO - EN (B2ab(iii))
Fundamentação: Espécie colonial com área de ocupação extremamente reduzida (inferior a 10 km2), restrita a 5 pequenas colónias, que tem sofrido declínio continuado da extensão e da qualidade do habitat.

População nidificante de “inverno”, Açores: VULNERÁVEL - VU (B2ab(iii); D2)
Fundamentação: Espécie colonial com área de ocupação extremamente reduzida (inferior a 10 km2), com apenas 8 pequenas colónias, que tem sofrido declínio continuado da extensão e da qualidade do habitat.

Distribuição
Espécie de distribuição alargada, com registos de nidificação no Atlântico (Portugal, Canárias, Ilha de Ascensão, Santa Helena) e Pacífico (Havai, Galápagos, Japão). A população europeia da espécie distribui-se no arquipélago das Berlengas, e nas Regiões dos Açores, Madeira e Canárias.

Em Portugal Continental, apenas existem registos de uma população nidificante durante o “inverno”, nos Farilhões.

No Arquipélago dos Açores, a população que se reproduz no “verão” ocorre nas ilhas do Corvo, Flores e Graciosa, onde ocupa um total de 5 pequenas colónias; a população que se reproduz no “inverno” ocorre nas ilhas da Graciosa, São Miguel e Santa Maria, onde ocupa um total de 8 pequenas colónias (Monteiro et al. 1999).

População
A colónia dos Farilhões foi descoberta em 1981, tendo sido estimada em cerca de 50 casais (Teixeira & Moore 1983). Trabalhos mais recentes sugerem uma população de cerca 200-400 casais (Granadeiro & Teixeira 1997, Granadeiro et al. in press).

Nos Açores, as crónicas históricas do século XVI, de Gaspar Frutuoso, referem a existência da espécie e mencionam a captura de indivíduos para obtenção de carne e óleo (Instituto Cultural de Ponta Delgada 1998). A informação disponível para os Açores sugere que a população nidificante no “inverno” envolverá efectivos mais numerosos (Monteiro & Furness 1998), situação mais comum nas colónias do Atlântico. Censos realizados entre 1996 e 1998 registaram 8 colónias de reprodução no “inverno” distribuídas pelas ilhas de Santa Maria, São Miguel, São Jorge e Graciosa e permitiram estimar para o arquipélago uma população reprodutora no “inverno” com 665-740 casais; para a população com reprodução no “verão” registaram 5 colónias distribuídas pelas ilhas da Graciosa, Corvo e Flores, tendo sido estimada para o arquipélago uma população reprodutora da época quente de 250-300 casais (Monteiro et al. 1999).

As populações desta espécie apresentam fragmentação elevada, tanto no continente como nos Açores e Madeira, dado o elevado grau de isolamento que apresentam.

Em termos de estatuto de ameaça a nível da Europa, a espécie é considerada Rara, embora ainda provisoriamente (BirdLife International 2004).

Habitat
Espécie que se reproduz em colónias, em falésias costeiras e em ilhéus, nidificando em pequenas tocas ou fendas nas rochas. Trata-se de uma espécie pelágica, activa nas colónias de nidificação apenas durante o período nocturno.

Factores de Ameaça
A principal ameaça a esta espécie em todas as áreas de ocorrência é a presença/introdução de espécies não indígenas nos locais de nidificação, nomeadamente mamíferos predadores, uma vez que podem conduzir a um declínio rápido da população, quer por aumentarem a mortalidade de adultos e juvenis, quer por impedirem a colonização de locais com habitat potencial, diminuindo drasticamente o habitat de reprodução disponível.

Outras ameaças dizem respeito à ocorrência regular de predadores naturais, como a gaivota-de-patas-amarelas Larus cachinnans, e à ocupação da zona costeira com zonas urbanas e infra-estruturas de transporte (estradas, portos, etc.) (Monteiro et al. 1996b).

Medidas de Conservação
Os Farilhões são actualmente parte integrante da Reserva Natural das ilhas Berlengas.

Até agora, estas ilhas têm beneficiado de uma relativa tranquilidade, essencialmente devido às difíceis condições de acesso à ilha. Contudo, com o visível aumento de operadores turísticos na região, impõem-se um maior nível de vigilância e acções de sensibilização específicas junto desses operadores. A experiência já obtida por investigadores leva a crer que os efectivos populacionais poderiam ser aumentados através de intervenções relativamente simples ao nível do habitat de nidificação.

Nos Açores, todas as colónias da população que se reproduz na “época quente”, bem como a maior parte da que se reproduz na “época fria”, encontram-se abrangidas por Zonas de Protecção Especial. O regime de protecção dessas Zonas foi reforçado através da elaboração de planos de gestão e da sinalização e vigilância das mesmas. O projecto LIFE “Conservação de comunidades e habitats de aves marinhas nos Açores”, um programa de investigação sobre a biologia e a ecologia das aves marinhas dos Açores, definiu medidas prioritárias de conservação e assegurou a monitorização da distribuição e das tendências populacionais. Foram também realizadas acções de sensibilização ambiental sobre as aves marinhas que nidificam nos Açores, para as quais foram produzidos materiais promocionais e didácticos. As prioridades de conservação nesta região incluem a erradicação de mamíferos exóticos, o restauro dos habitats naturais dos ilhéus e a monitorização contínua das populações.  Na área de investigação, constituem prioridades a clarificação do estatuto taxonómico das populações temporalmente segregadas, a obtenção de dados sobre selecção de habitat e sucesso reprodutor, bem como a avaliação do impacto das diferentes ameaças.

No arquipélago da Madeira, as colónias desta espécie encontram-se abrangidas por Zonas de Protecção Especial; no entanto, existem indícios de colónias na ilha da Madeira e do Porto Santo, por confirmar, em zonas sem este estatuto de protecção. Nas Ilhas Desertas, entre 1996 e 2000, um estudo sobre a fenologia da espécie resultante da colaboração entre o ICN e o Parque Natural da Madeira permitiu confirmar a ocorrência das duas populações nidificantes (Nunes 2000a). No entanto, a fenologia de reprodução nas ilhas Selvagens, da Madeira e do Porto Santo mantém-se por confirmar, importando colmatar essa lacuna de informação. Dada as particularidades desta espécie, o censo e determinação da abundância das suas populações deveriam ser assegurados nesta região.

Notas
Monteiro & Furness (1998) sugeriram que as duas populações (de “inverno” e de “verão”) correspondem a duas espécies distintas, com base no facto de ocorreram numa situação de simpatria mas com isolamento reprodutor. A população de “inverno” apresenta maiores dimensões para diversas estruturas morfológicas que a população de “verão” (nas Desertas (Nunes 2000a ou b) e nos Açores (Monteiro & Furness 1998)) e a análise das vocalizações das duas populações mostrou que estas são significativamente distintas (Nunes 2003).

A espécie ocorre em todas as Ilhas do Arquipélago da Madeira (Bannerman & Bannerman 1965), apesar de no Porto Santo a sua nidificação só estar confirmada para os Ilhéus.

Nas Ilhas Desertas está confirmada a nidificação das duas populações, de “verão” e de “inverno” (Nunes 2000a), assim como no Ilhéu do Farol na Madeira (Nunes 2000b).

Nas Desertas e Selvagens é uma ave comum enquanto que na Madeira e Porto Santo a falta de informação é muito grande, pouco se sabendo sobre a sua distribuição e abundância (Geraldes 2000). Supõe-se que a população total do Arquipélago da Madeira será superior a 10.000 indivíduos (Oliveira & Menezes in press), encontrando-se em situação Pouco Preocupante (LC).

in Livro Vermelho dos Vertebrados






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