terça-feira, 23 de julho de 2013

Uria aalge, Airo


Taxonomia
Aves, Charadriiformes, Alcidae.

Tipo de ocorrência
Nidificante (possivelmente residente) e invernante.

Classificação
População nidificante:
CRITICAMENTE EM PERIGO –- CR (A2a+3+4; B2ab(v); C1+2a(i,ii); D)
Fundamentação: Os registos históricos sugerem uma redução do tamanho da população da ordem do 80%-95% nos últimos 48 anos; as causas dessa redução prendem-se provavelmente com o facto de a espécie em Portugal se encontrar no limite sul da sua área de distribuição, e ainda com uma interacção negativa com a população de gaivota-de-patas-amarelas (competição). Esta última causa de regressão poderá ser reversível embora não tenha cessado, admitindo-se assim que não haja uma alteração desta tendência nos próximos anos. A área de ocupação é muito restrita (inferior a 10 km2), existindo actualmente apenas uma colónia, que tem sofrido um declínio continuado no número de indivíduos; estima-se que essa diminuição foi cerca de 50% na última geração. A população nacional, com todos os indivíduos concentrados numa única subpopulação, é extremamente reduzida (menos de 50 indivíduos maturos).

População  invernante:  QUASE AMEAÇADO -– NT* (D1)
Fundamentação: A população invernante é reduzida, admitindo-se que possa ser inferior a 1.000 indivíduos maturos. No entanto, por ser um taxon visitante não reprodutor cujas condições não se estão a deteriorar nem fora nem no interior da região, o que leva a admitir um risco de extinção mais reduzido em Portugal, desceu uma categoria na adaptação à escala regional.

Distribuição
Espécie com ampla distribuição no Hemisfério Norte, com cerca de 85% das populações Atlânticas concentradas na Europa. Aqui, ocorre desde a Islândia (que possui as maiores colónias desta espécie) e Noruega até Portugal, que constitui o limite sul da sua distribuição (Cramp 1985).

Em Portugal, o único núcleo de nidificação conhecido localiza-se no arquipélago das Berlengas.

População
Nas Berlengas, a evolução da tendência da população nidificante desta espécie encontra-se razoavelmente documentada. Lockley (1952) efectuou uma contagem de cerca de 6.000 casais em 1939. Entre 1978 e 1983, a população decresce de 365 para 142 indivíduos. A confirmar esta dramática redução do efectivo populacional, Teixeira (1983) estima a população nidificante em apenas 70 casais. As contagens efectuadas entre 1988 e 1995 continuam a indicar um declínio marcado, tendo no último ano sido contados apenas 34 indivíduos. Actualmente, a estimativa da população ibérica não excede os 20 casais reprodutores, divididos de forma aproximadamente igual por Portugal e Espanha.

Existe pouca informação relativamente à dimensão da população invernante. Os registos de mortalidade desta espécie durante o Inverno indicam uma ocorrência regular na nossa costa (Teixeira 1986a, Granadeiro et al. 1997), embora provavelmente envolvendo um efectivo total que não excederá 1.000 indivíduos.

Em termos de estatuto de ameaça a nível da Europa, a espécie é considerada Não Ameaçada, embora ainda provisoriamente, podendo os declínios registados para Noruega e Svalbard serem compensados pelos significativos aumentos na Irlanda e Reino Unido (BirdLife International 2004).

Habitat
Espécie com elevado gregarismo, nidifica em ilhas ocupando pequenas plataformas em falésias, onde colocam um único ovo, directamente assente na rocha. Procura alimento nas áreas próximas da colónia, sendo as áreas de alimentação geralmente próximas das áreas de nidificação. Espécie piscívora, captura as presas em mergulho a partir da superfície, podendo atingir profundidades de 100 m.

Factores de Ameaça
Trata-se de uma espécie particularmente sensíveis a dois tipos de ameaça no meio marinho: poluição por hidrocarbonetos e actividades de pesca. De facto, embora possua uma boa capacidade de voo, esta espécie passa a maior parte do tempo na superfície da água, de onde inicia os mergulhos para captura das presas. Deste modo, é geralmente das espécies de aves mais afectadas por derrames de hidrocarbonetos. A confirmá-lo está o facto de estar incluída no grupo de aves marinhas que apresentam maior grau de contaminação por hidrocarbonetos (Teixeira 1986a,b, Granadeiro et al. 1997). Os hábitos de mergulho também a tornam particularmente susceptível a redes de pesca sendo, conjuntamente com a torda-mergulheira Alca torda, das mais frequentes vítimas de emalhamento em artes de pesca (Teixeira 1986b, Granadeiro et al. 1997). Outras ameaças potenciais à população regional nidificante incluem a perturbação, a predação dos juvenis por gaivotas-de-patas-amarelas Larus cachinnans e a eventual competição com pescarias, embora a real magnitude destas ameaças não seja bem conhecida.

Medidas de Conservação
Encontram-se documentadas situações de elevada mortalidade durante o inverno em determinadas zonas do país (Teixeira 1986b, Granadeiro et al. 1997), atribuível a interacções com redes de emalhar. Deste modo, importa actualizar a importância desta mortalidade e se necessário, regulamentar as pescarias no sentido de minimizar essas interacções. O mesmo se aplica às áreas circundantes da colónia de nidificação da Reserva Natural das Berlengas, onde esta espécie tem sido monitorizada regularmente e onde existem medidas de gestão específicas.

in Livro Vermelho dos Vertebrados


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