terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Puffinus assimilis, Pintainho, Frulho (Açores)

Taxonomia
Aves, Procellariiformes, Procellariidae.

Tipo de ocorrência
Açores: Estival nidificante.
Madeira: Estival nidificante.

Classificação
Açores: VULNERÁVEL - VU (D2)
Fundamentação: Espécie colonial que se admite ter uma área de ocupação reduzida (provavelmente inferior a 20 km2), pelo que está vulnerável aos efeitos das actividades humanas ou a acontecimentos estocásticos.
Madeira: VULNERÁVEL - VU (D2)
Fundamentação: Espécie colonial que se encontrando num número restrito de localizações, pelo que está vulnerável aos efeitos das actividades humanas ou a acontecimentos estocásticos.

Distribuição
A espécie apresenta uma distribuição fragmentada nos três principais oceanos, Atlântico, Pacífico e Índico, com a maior parte da população mundial concentrada no Hemisfério Sul (Harrison 1983). A população mundial da subespécie baroli nidifica nos Açores, Madeira e Canárias (Tucker & Heath 1994).

No Arquipélago dos Açores nidifica nas ilhas do Corvo, Flores, Pico, São Jorge, Graciosa, São Miguel e Santa Maria (Monteiro et al. 1999). Ocupa colónias inacessíveis, que se admite terem uma área muito reduzida.

No Arquipélago da Madeira, ocorre em números aparentemente reduzidos na Ilha da Madeira, Porto Santo e Desertas, enquanto que nas Ilhas Selvagens ocorre em números proporcionalmente mais expressivos (Hagemeijer & Blair 1997).

População
Nos Açores, as crónicas históricas do século XVI, de Gaspar Frutuoso, referem a existência desta espécie e mencionam a captura de indivíduos para consumo (Instituto Cultural de Ponta Delgada 1998). Censos realizados entre 1996 e 1998 registaram 28 pequenas colónias distribuídas pelas ilhas do Corvo, Flores, Faial, Pico, São Jorge, Graciosa, São Miguel e Santa Maria, tendo sido estimada para o arquipélago uma população reprodutora de 840-1.530 casais (Monteiro  et al. 1999).

No arquipélago da Madeira, só para a colónia das ilhas Selvagens tem sido desenvolvido um esforço sistemático para efectuar uma estimativa populacional com alguma precisão e nível de confiança. Esse trabalho apontou em 1995 (Oliveira & Moniz 1995) para a existência de uma população na ordem dos 2.050 casais. Apesar do censo não ter sido repetido, existem evidências resultantes de observações não sistemáticas de que estes números não sofreram alterações drásticas. Um trabalho de prospecção e de identificação de potenciais áreas de nidificação efectuado na Ilha da Madeira aponta para a existência de um baixo efectivo populacional (Geraldes 2000).

Em termos de estatuto de ameaça a nível da Europa, a espécie é considerada Rara, embora ainda provisoriamente (BirdLife International 2004).

Habitat
Ave marinha que se reproduz em colónias, nidificando em falésias costeiras, pequenas ilhas e ilhéus, entre Dezembro e Maio. Os ninhos são construídos em cavidades e buracos de rochas, assim como também por baixo de pedras soltas.

Factores de Ameaça
Nos Açores, hoje em dia a principal ameaça é a introdução de espécies não indígenas invasoras, nomeadamente mamíferos predadores (Monteiro et al. 1999). Estes podem conduzir a um declínio rápido da população desta ave marinha, quer por aumentarem a mortalidade, quer por impedirem a colonização de locais com habitat potencial, diminuindo drasticamente o habitat de reprodução disponível. Outras ameaças dizem respeito à ocorrência regular de predadores naturais, como a gaivota Larus cachinnans atlantis, e à ocupação da zona costeira com zonas urbanas e infra-estruturas de transporte (estradas, portos, etc.) (Monteiro et al. 1996b).

No arquipélago da Madeira, supõe-se que historicamente as populações da Madeira e Porto Santo fossem seriamente afectadas pelos ratos e gatos, contudo não existe qualquer confirmação de que assim tenha sido. Ao nível das Desertas e Selvagens, a perturbação e predação humana seguramente assumiram a principal ameaça histórica. Um factor limitante, identificado num trabalho efectuado em 1994 na Selvagem Grande, prende-se com o facto de 34% dos insucessos reprodutores terem sido provocados por cagarras à procura de um local para nidificar (Hagemeijer & Blair 1997).

Medidas de Conservação
Nos Açores, a maior parte das colónias desta espécie ocorre em Zonas de Protecção Especial tendo o regime de protecção dessas zonas sido reforçado através da elaboração de planos de gestão e da sinalização e vigilância das mesmas. Ao abrigo do projecto LIFE “Conservação de comunidades e habitats de aves marinhas nos Açores”, um programa de investigação sobre a biologia e a ecologia das aves marinhas dos Açores definiu medidas prioritárias de conservação e assegurou a monitorização da distribuição e das tendências populacionais. Foram ainda realizadas acções de sensibilização ambiental sobre as aves marinhas que nidificam, para as quais foram produzidos materiais promocionais e didácticos adequados. As prioridades de conservação nesta região incluem a erradicação de mamíferos não-indígenas e o restauro dos habitats naturais dos ilhéus, e a monitorização contínua das populações do arquipélago. Na área de investigação, constituem prioridades a obtenção de dados sobre selecção de habitat e sucesso reprodutor bem como a avaliação do impacto das diferentes ameaças.

No arquipélago da Madeira, a protecção existente é adequada nas Desertas e Selvagens, onde as suas áreas de nidificação têm o estatuto de Reserva Integral. No entanto, existem grandes lacunas de conhecimento para as Ilhas da Madeira e Porto Santo, pelo que é importante desenvolver um trabalho que permita conhecer melhor a sua distribuição nessas ilhas, de forma a que sejam avaliados os principais factores limitantes e tomadas as devidas medidas de gestão.

Notas
Nos Açores, esta espécie visita as colónias durante todo o ano, mesmo fora do período reprodutor, ao contrário do que acontece com outras aves marinhas (Monteiro et  al. 1996a). Também na Selvagem Grande algumas aves reprodutoras visitam as suas áreas de nidificação de uma forma regular ao longo de todo o ano (Oliveira & Moniz 1995).

in Livro Vermelho dos Vertebrados



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