quarta-feira, 16 de julho de 2008

Sabe qual é o tamanho da sua pegada ecológica? Vamos ver se é amigo ou inimigo da natureza?

A pegada ecológica é um indicador que mede o tamanho do impacto de suas actividades sobre o ambiente. Ela mede a força de seu “pontapé na canela da natureza”. Mede se é amigo ou inimigo da natureza! A natureza que o acolhe tem limites na capacidade de fornecimento de recursos naturais, alimentos, serviços ambientais essenciais à vida e de reciclagem de dejectos e rejeitos.

A pegada ecológica considera a quantidade de espaço terrestre que requer para o armazenamento da água, para a produção dos alimentos e para geração da energia que consome, para construir sua casa, para colocar os seus dejectos e o seu lixo, para praticar o seu lazer. Mede o seu grau de consumo na forma de superfície terrestre produtiva demandada!

Só para ter uma ideia: em 2002 havia a disponibilidade de 1,7 hectares (ha) de terra cultivável para cada habitante na Terra. O norte-americano necessitava quase 10 ha e o europeu, 5,6 ha para atender a suas necessidades. Está previsto que em 2050 existirá somente 1,0 ha para cada pessoa, considerando o aumento populacional, sem levar em conta a degradação ou a destruição ambiental, que avançam de forma muito preocupante. Se está lendo e prestando a atenção, já deveria ter feito a seguinte pergunta: espera aí, se existe só 1,7 ha para cada pessoa e existem pessoas que precisam de 10 ha, então tem gente no mundo a passar sede e fome? Sim! Mais de 800 milhões de habitantes morrem de fome e mais 400 milhões passam extrema necessidade e mais dois biliões de pessoas começaram a sofrer restrições alimentares e de água potável nos últimos anos, conforme se lê nos relatórios de diferentes organizações internacionais! E se não tiver cuidado, você o seu filho ou o seu neto poderão ser os próximos!

Sabe-se que no mundo virtual não existem esses problemas. Mas, como tanto o mundo virtual quanto o mundo artificial das cidades dependem da conservação dos ambientes naturais (seja de florestas seja de áreas agrícolas) para se manter e muito poucos estão dando importância para isso, a situação já está ficando complicada, desesperadora, embora ainda pareça que está tudo bem. Não adianta: se não tem água ou alimento, não tem! Não adianta exigir os seus direitos! Comece a repensar os seus procedimentos quanto à conservação do ambiente natural e ao seu grau de consumo de recursos naturais, matérias primas, produtos e serviços que praticou e que ainda pratica! A natureza tem as suas normas: são rígidas, imutáveis, incorromptíveis e necessitam ser seguidas. A natureza não perdoa! Não adianta espernear e dizer que tem dinheiro para pagar e esbanjar. De nada servirá se não há o que comprar com ele...

Olhe, para contornar esse problema existem várias soluções. Ainda bem que o tem uma pegada ecológica relativamente pequena. Mas cada um necessita ajudar a reduzir, para não faltar. Como? Alguns defendem a necessidade de se fazer planeamento familiar, para não aumentar muito a população que vai competir por espaço. Mas essa solução, na nossa percepção, poderia ser colocada no fim da fila de prioridades se nos comprometermos seriamente a fazer o seguinte:

1) Reduzir o uso perdulário de energia, de água, de alimentos e de outros matérias primas, como combustíveis e celulose (papel, embalagens). O que é uso perdulário? É, por exemplo, cozinhar 1 kg de arroz se a pessoa só vai comer 100 g e deixar 900 g se estragar; atirar materiais recicláveis na lixeira e aumentar a área necessária no aterro sanitário; deixar as luzes acesas e as torneiras abertas desnecessariamente; andar de carro, consumindo combustível fóssil, quando pode ir a pé ou de bicicleta; na construção da casa, utilizar o processo constrói-desmancha-reconstrói- desmancha..., produzindo uma montanha de entulho, sem necessidade e sem planeamento; morarem dois numa casa de 500 m2; ir ao trabalho num carro de alto consumo; ir de carro à padaria da esquina.

2) Lutar para que os produtos consumam menos energia. Para que os veículos rodem mais quilómetros por litro de combustível, os figorificos e os aparelhos de TV e outros electrodomésticos gastem menos energia e outros.

3) Lutar para que os produtos que consome sejam de sistemas de produção eficientes, muito bem planeados, não perdulários no uso de recursos naturais ou de adubos, de alimentos, de remédios e de venenos e fundamentados nas normas da natureza. Como assim? Se os sistemas de produção utilizam muita terra, para produzir pouco alimento e ainda assim degradam a área e necessitam derrubar florestas para continuar as mesmas práticas agrícolas, eles não servem. Como consumidores, compradores dos produtos, podemos exigir mais cuidado com os recursos do nosso planeta! Questione. Por exemplo, produzir 1.000 kg de milho por hectare e por ano em área degradada, em vez de 7.000 kg em ambiente conservado, constitui uso perdulário dos recursos naturais em sistemas de produção altamente ineficientes.

4) Lutar para que práticas agrícolas inadequadas às nossas condições não sejam utilizadas, destruindo a capacidade produtiva dos solos. Por exemplo, as queimadas necessitam ser abolidas. Os solos não devem ser impermeabilizados. As áreas verdes permanentes devem ser mantidas de maneira estratégica. Os sistemas de plantio directo (a cultura – como a soja – é plantada em solo protegido por palha), a integração lavoura-pecuária (se a pastagem está com falhas, quase não produz mais, essa área pode ser usada para plantar uma cultura anual, como o milho; depois da colheita do grão, a área volta a ser utilizada como pastagem, que aproveita o que ficou no solo da adubação do milho) ou, melhor ainda, os sistemas agrossilvipastoris (são sistemas que integram árvores nas pastagens e cultivos agrícolas) necessitam ser incentivados e promovidos.
Vaca maltratada, faminta, em pleno verão chuvoso, “imaginando” como seria diferente se o proprietário cuidasse das pastagens e de sua alimentação e assim reduzisse a pegada ecológica do consumidor.
5) Lutar para que os materiais consumidos não sejam produto de extrativismo predador e destruidor, como de madeira para construir nossas casas ou de carvão para as churrascadas ou de lenha para fazer os pãezinhos nas padarias. A madeira necessita ser plantada para essa finalidade. Os peixes deveriam ser produzidos para o consumo e não vir de pesca predatória.

6) Lutar para que nas áreas agrícolas (lavouras e pastagens) e urbanas se realizem práticas de conservação de solo e de água, a fim de não degradarem e depois serem abandonadas, com a necessidade de se destruir mais área florestal importante para garantir os serviços ambientais essenciais. Lutar para que as áreas degradadas sejam recuperadas e que voltem a produzir.

7) Exigir que no processo de colheita dos produtos não ocorram grandes perdas, que as máquinas sejam reguladas e que os operadores sejam capacitados e profissionalizados.

8) Exigir que os produtos colhidos sejam bem manipulados, bem embalados, bem transportados e bem armazenados, para reduzir perdas e desperdícios inúteis e que aumentam a pegada ecológica de cada consumidor.

9) Lutar para que a quantidade de lixo produzido seja reduzida e que o lixo seja reutilizado ou pelo menos reciclado. Para isso deve ser praticado a separação selectiva em cada casa ou estabelecimento comercial ou industrial.

10) Lutar para que se pare imediatamente a destruição das florestas e dos manguezais – berçários do mar - remanescentes no mundo.

11) Passar adiante o que não se usa mais – pode-se doar a quem precisa, vender num bazar ou para um amigo, mas nada de guardar coisas sem uso para si, que podem diminuir a necessidade de outra pessoa e diminuir o impacto sobre os recursos naturais.

12) Fazer rodízio de boleia com os colegas – muitas pequenas coisas que fazemos podem ajudar a diminuir a nossa pegada ecológica.

Se entendeu bem o que é isso, logo terá uma porção de ideias. Para começar a reduzir a pegada, faça as seguintes perguntas e reaja:

Moradia: quantas pessoas moram em sua casa? Quantas torneiras há em sua casa? Qual o sistema de aquecimento da água? Em que tipo de moradia vive?

Alimentação: Quantas vezes por semana come em casa? Quantas refeições de carne ou de peixe faz por semana? Procura comprar alimentos produzidos localmente?

Transporte: Como vai ao trabalho diariamente? Que tipo de veículo você tem? Quantos quilómetros tem de percorrer para chegar ao local de trabalho? Para onde viajou nas últimas férias? Em quantos fins-de-semana por ano viaja de carro (mínimo de 20 km de distância)?

Consumo: Quantas compras significativas você (ou seus familiares) fez (ou fizeram) nos últimos doze meses (ex.: televisor, vídeo, computador, móveis)? Costuma comprar produtos de baixo consumo de energia?

Resíduos: Procura reduzir a produção de resíduos? Ex.: evita adquirir produtos com muita embalagem, reutiliza papel, evita sacolas plásticas. Pratica compostagem com os resíduos orgânicos que gera? Faz separação selectiva do lixo? Quantos sacos de lixo (100 litros) sua casa produz por semana?

Percebeu? Reduzir consumo perdulário, consumir produtos de sistemas eficientes de produção e de agregação de valor, fazer separação selectiva de lixo, incorporar áreas degradadas ao sistema produtivo ajudam a diminuir em muito a pegada ecológica de cada cidadão. Mas isso necessita ser exigido e praticado. Tem de perguntar de onde vem o produto, como é produzido, se tem algum produto perigoso (como as pilhas). Às vezes, quem está vendendo não tem a menor ideia, nunca se preocupou com essas coisas. Foi só depois de aparecer a doença da vaca louca e outros problemas parecidos que os consumidores da Europa começaram a perguntar como era produzida a carne que eles consumiam...

Ser um verdadeiro cidadão consciente dá trabalho. Mas a gente se acostuma e melhora o planeta!

E os biocombustíveis, não constituem um grande benefício ambiental? A pergunta deve ser: para alimentar um sistema de uso perdulário de energia? A partir de um cultivo pouco eficiente e que produz pouco óleo ou pouco álcool por hectare? A partir de um cultivo que requereu o corte de novas áreas de floresta? Nesses casos, será um “coice” na natureza. A pegada ecológica ficará maior ainda, pois essas culturas utilizam área produtiva. Você, cidadão consumidor, se praticar consumo perdulário e de produtos originados de processos perdulários, pode chegar a ser um pegada-grande que contribui decisivamente para a destruição do futuro agrícola e ecoturístico do país e da humanidade!

Entendeu todos os pontos abordados? O que deve ser considerado? O que deve ser evitado? O que necessita replanear e repensar? Então, o que deve ser feito para reduzir sua pegada ecológica e para ser amigo da natureza e assim garantir o futuro dos seus filhos e dos seus netos? O que você poderia fazer em sua casa, em sua comunidade para reduzir a sua pegada ecológica, da sua família, da sua comunidade, do seu país? Reduza o desperdício de água, de energia eléctrica, de combustíveis, de alimentos. Elimine os vazamentos e os gastos desnecessários. Ajudar a tornar os sistemas de produção mais eficientes. E o que pode fazer para sensibilizar os familiares e os colegas da comunidade para colaborar neste movimento contra as “patadas” e “coices” contra a natureza? Se tiver ideias ou já estiver fazendo algo, divulgue, discuta em sua comunidade. Não se omita!

Sem comentários: