terça-feira, 12 de agosto de 2008

Uma desilusão troiana...

O Litoral Alentejano foi alvo de vários projectos PIN, com o objectivo de implementar vários grandes empreendimentos turísticos nesta costa.
Todos temos a perfeita noção que a concretização desses empreendimentos irá modificar em muito a forma de vida no Litoral Alentejano. No entanto a maioria dos habitantes da região acredita piamente que essas modificações irão trazer mais emprego e melhorias nas condições de vida e das infraestruturas locais.
Um desses empreendimentos decorre em Tróia promovido por empresas dos Grupo Sonae e algumas mais...
Por ser este o empreendimento mais avançado foi o primeiro a introduzir uma grande alteração numa das infraestruturas de uso público, as ligações via ferryboat entre Tróia e Setúbal.
Recentemente entrou ao serviço o novo cais de ferrys na península de Tróia, utilizado pelos ferrys 'verdes' que efectuam o transporte de viaturas e passageiros.
Na Ponta do Adoche o cais continua operacional com os ferrys 'brancos', mas exclusivamente para o transporte de passageiros.
Hoje fui a Setúbal e resolvi utilizar o novo cais! A melhor forma de valorizar as novas infraestruturas é utilizando-os!
Apesar de tencionar deixar o automóvel deste lado do Sado optei pelos ferrys 'verdes' mesmo sabendo que nesse caso iria pagar 2,00€ enquanto se optasse pelos ferrys 'brancos' na Ponta do Adoche pagaria apenas 1,15€.
A primeira observação foi boa, em vez dos 50kms que implicaria a deslocação de Grândola à Ponta do Adoche, até ao novo cais efectuei apenas 43kms.
Mas depois vieram as más noticias, ao chegar à bilheteira tive de sair do automóvel para adquirir o bilhete pois a mesma fica a um nível superior ao do tejadilho do automóvel. O prestável funcionário garantiu-me que essa falha na concepção da bilheteira iria ser reparada brevemente estando já em preparação as obras de alteração à bilheteira (pensava eu que era só nas obras públicas que se faziam obras desadequadas da realidade).
A noticia seguinte também não me animou... Logo após retomar o volante do automóvel, um prestável segurança da Prosegur teve a gentileza de me informar que não poderia levar a viatura para o interior, porque não havia parque de estacionamento, finalmente percebi porque encontrara viaturas estacionadas nas duas bermas da estrada desde a rotunda de entrada para o cais até à bilheteira... Não pude deixar de pensar enquanto arduamente procurava um espaço onde estacionar o meu automóvel, se agora que a maioria dos passageiros deixa as suas viaturas na Ponte do Adoche, por obviamente ser mais barato utilizar os barcos de transporte de passageiros a partir desse ponto, já o estacionamento no novo cais está esgotado, onde iremos estacionar as viaturas quando essa opção cessar e todo o serviço se realizar no novo cais? Nos parques de estacionamento pagos da Soltróia? Ou seja pagamos mais 74% pelo bilhete do barco acrescido do valor do parque de estacionamento! Bolas! Mesmo com o aumento dos combustíveis sairá mais barato ir de automóvel até Setúbal pela Nacional 120! 
Será esse o objectivo? Afastar os residentes daquela zona transformando-a num condomínio fechado para os clientes do Grupo Sonae?
Estacionado o automóvel, inicio uma caminhada pela estrada de acesso à praia onde durante cerca de 1km fui pensando como um cidadão deficiente em cadeira de rodas ou com outras dificuldades de locomoção se deslocará pelo estreito passeio da bilheteira até ao cais? Pior ainda num quilómetro de estrada sem qualquer abrigo contra as intempéries!
Mas ao chegar ao cais a minha desilusão continuou a crescer... Esperei quase 20 minutos por um ferry em pleno céu num cais desprovido de qualquer tipo de abrigo para os passageiros e não só!
Não resisti a deixar ao agente da GNR em serviço no local as minhas condolências pelas dificuldades que iria passar ao prestar serviço em dias de chuva e vento!
Também não resisti em perguntar ao funcionário do barco que recebeu o meu bilhete se no Inverno se podia trazer o champô para tomar duche no cais enquanto se esperava pelo barco!
A viagem decorreu sem problemas, apesar da maior distância foi evidente que a maior potência dos ferrys 'verdes' lhes permite executar a travessia a uma velocidade que acaba por ser realizada num tempo semelhante à da deslocação entre a Ponta do Adoche e Setúbal.
À chegada a Setúbal apesar das óbvias alterações ao cais de acostagem dos ferrys 'verdes' tudo se processou como sempre, quer no desembarque, quer mais tarde no embarque na viagem de regresso.
Por fim, resumo o meu comentário, aos principais pontos negativos, que sinceramente espero que para o bem de todos os habitantes das duas margens do Sado que usam o transporte fluvial como passageiros apeados e até como condutores de viaturas, sejam remodelados a curto prazo:
  1. A demasiado elevada altura do balcão da bilheteira;
  2. A ausência de um parque de estacionamento para os utentes dos barcos;
  3. A remodelação do passeio da estrada de forma a permitir o acesso aos barcos de cidadãos com deficiência;
  4. A criação de pontos de abrigo contra as intempéries ao longo do percurso da estrada, para os peões;
  5. O alargamento do barranco criado na duna de forma a permitir a passagem de uma terceira viatura, em caso de acidente que bloqueie as duas vias, ou de uma viatura de emergência num momento de grande volume de tráfego no sentido exterior em que a via de acesso ao barco estará forçosamente bloqueada pelas viaturas na fila de espera;
  6. A criação de um sala de espera no cais de embarque!
 

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