terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Squalius pyrenaicus, Escalo do Sul

Taxonomia
Actinopterygii, Cypriniformes, Cyprinidae.
 
Tipo de ocorrência
Residente. Endémica da Península Ibérica
 
Classificação
EM PERIGO - EN (B1b(ii,iii,iv)c(iv)+2b(ii,iii,iv)c(iv))
Fundamentação: Espécie com extensão de ocorrência e área de ocupação muito reduzidas, menores do que 450 km2 e 300 km2, respectivamente. Admite-se um declínio continuado na área de ocupação, na área, extensão e qualidade do habitat e no número de localizações e ainda a existência de flutuações acentuadas no número de indivíduos maduros.
 
Distribuição
Em Espanha encontra-se a sul da bacia hidrográfica do Tejo, inclusive. Foi também encontrada na bacia hidrográfica do Ebro (rio Matarraña), onde deverá ter sido introduzida (Doadrio 2001a).

Em Portugal encontra-se nas bacias hidrográficas do Tejo, Sado e Guadiana, nas pequenas bacias hidrográficas da Samarra, Colares e Lizandro (região Oeste) e nas bacias hidrográficas da Junqueira (entre as bacias hidrográficas do Sado e Mira) e do Gilão (Algarve) (Costa-Pereira 1995, Coelho et al. 1998, Magalhães & Collares-Pereira 1999, Collares-Pereira et al. 2000a, Santos 2001, Tiago et al. 2001, Collares-Pereira et al. 2002a, Mesquita & Coelho 2002). Poderá ocorrer nos cursos de água localizados entre as bacias hidrográficas do Tejo e Sado.

População
Calcula-se que o número de indivíduos maduros seja superior a 10.000 e que o seu efectivo possa ter sofrido uma redução inferior a 30% nos últimos 18 a 21 anos. O efectivo populacional desta espécie na bacia hidrográfica do Guadiana (Collares-Pereira et al. 2000a, Tiago et al. 2001, Collares-Pereira et al. 2002a) registou uma flutuação de magnitude de oito vezes, pelo que, devido às características das bacias hidrográficas do Sul do país, há a possibilidade de ocorrerem flutuações acentuadas (de magnitude superior a dez vezes) no número de indivíduos maduros entre anos hidrológicos extremos. Poderá ocorrer um declínio continuado do número de indivíduos maduros e do número de subpopulações ou localizações, pelo menos na bacia hidrográfica do Guadiana, devido à redução e degradação do habitat com a implementação do Empreendimento de Fins Múltiplos do Alqueva.

Habitat
Esta espécie pode ser encontrada em rios e ribeiros permanentes ou intermitentes e ainda em albufeiras (Rodrigues 1995, Ferreira & Godinho 2002). Ocorre em rios de ordem intermédia (Filipe et al. 2002, 2004), em zonas fluviais pouco profundas e bem oxigenadas, com vegetação aquática e ensombramento, havendo tendência para os indivíduos de maiores dimensões ocuparem zonas mais profundas que os juvenis (Magalhães 1993, Collares-Pereira et  al. 1995, Pires et  al. 1999). Dados recolhidos na bacia hidrográfica do Tejo indicam que estas populações possuem uma boa capacidade de adaptação e resiliência a diferentes tipos de habitat e também a variações bruscas e imprevisíveis das condições abióticas (Rodrigues 1999).

Factores de Ameaça
Os principais factores de ameaça são a degradação do habitat, provocada sobretudo pela construção de barragens, alteração do regime natural de caudais, captação de água, extracção de inertes, degradação da qualidade da água, e também a introdução de espécies não-indígenas (Collares-Pereira et al. 2000a,b) a qual poderá ter efeitos a nível da competição, predação ou como via de disseminação de agentes patogénicos. É de realçar a redução e degradação generalizada do habitat na bacia hidrográfica do Guadiana, resultante da construção de diversas barragens (Odeleite, Enxoé, entre outras) e actualmente pela implementação do Empreendimento de Fins Múltiplos do Alqueva.
 
Medidas de Conservação
Esta espécie está abrangida pela legislação nacional e internacional de conservação. O escalo do Sul foi abrangido nos estudos sobre a comunidade piscícola da bacia hidrográfica do Guadiana efectuados no projecto LIFE-Natureza dirigido para o saramugo Anaecypris hispanica (Collares-Pereira et al. 2000a) e sobre as medidas de Minimização e Monitorização para o Património Natural da barragem do Alqueva (Tiago et al. 2001, Collares-Pereira et al. 2002a). Algumas acções de manutenção e conservação do habitat (nomeadamente na melhoria da qualidade da água e algum controlo das extracções de inertes) têm sido efectuadas mas necessitam ser reforçadas.

É necessária a recuperação das zonas mais degradadas e o controlo das espécies não-indígenas,  medidas previstas nos diferentes Planos de Bacia Hidrográfica (INAG 1998-2001) onde a espécie ocorre, no Plano de Gestão do Saramugo (Collares-Pereira et al. 2000b) e no estudo de Minimização e Monitorização para o Património Natural da Barragem do Alqueva (Tiago et al. 2001, Collares-Pereira et al. 2002a). As medidas preconizadas na Directiva-Quadro da Água deverão atingir a melhoria permanente da qualidade dos habitats aquáticos. Devem ser minimizados os impactos de infra-estruturas hidráulicas implantadas ou a implantar, através do restabelecimento da conectividade das populações e da manutenção dos caudais mínimos, especialmente durante a época seca. Em particular, devem ser evitadas ou controladas as captações de água durante esta época, nomeadamente nos pegos. Outras medidas necessárias são o controlo da extracção de inertes, a gestão sustentada da pesca e a melhoria da sua fiscalização e ainda a sensibilização do público para a conservação dos ecossistemas aquáticos. É necessário aumentar os conhecimentos sobre a biologia e ecologia desta espécie, monitorizar os seus efectivos populacionais (em particular nos rios principais) e as medidas de conservação a implementar.

Outra bibliografia consultada
Lobon-Cervia & Sostoa (1987); Geraldes (1991); Brito (1992); Coelho et al. (1995); Fernández-Delgado & Herrera (1995); Geraldes & Collares-Pereira (1995); Pires (1999); Pires et al. (2000).
 in Livro Vermelho dos Vertebrados

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