terça-feira, 24 de abril de 2012

Bubo bubo, Bufo-real

Taxonomia
Aves, Strigiformes, Strigidae.

Tipo de ocorrência
Residente.
 
Classificação
QUASE AMEAÇADO - NT*  (D1)
Fundamentação: Espécie com população reduzida (inferior a 1.000 indivíduos maturos).
Na adaptação à escala regional baixou-se a categoria, por se admitir que a população em Portugal poderá ser alvo de imigração significativa das regiões vizinhas e por não ser de esperar que essa imigração possa vir a diminuir.

Distribuição
É uma espécie com uma grande e contínua área de distribuição, que se estende de norte a sul desde aproximadamente o Círculo Polar Árctico aos países mediterrânicos europeus, Extremo Oriente, Sul da Índia e da China, e de ocidente a oriente, desde a Península Ibéria até às Ilhas Sacalinas e Leste da China (Hagemeijer & Blair 1997, Cramp 1998).

A sua distribuição em Portugal, apesar de não ser contínua, é vasta e compreende uma larga parte do território continental, indo praticamente do Algarve até ao Norte e do litoral Oeste à fronteira com Espanha. É mais frequente na faixa mais raiana de Trás-os-Montes, Beiras interiores, Alentejo e Algarve, com as melhores e mais contínuas populações a localizarem-se na bacia do rio Guadiana, nas bacias do Douro e Tejo internacionais e ainda nas serras do Sul (Barrocal algarvio e Caldeirão) (Rufino 1989, Elias et al. 1998, Costa et al. 2003, ICN/SPEA dados não publicados). Nos restantes dois terços mais ocidentais do país, apesar de ser mais disperso ou mais raro, o bufo-real está presente desde que encontre afloramentos rochosos de média ou mesmo de pequena dimensão, em vales encaixados de ribeiras ou em encostas de algumas serras, como as do Minho, e.g. Peneda-Gerês, (Pimenta & Santarém 1996), maciço da Estrela, Sicó, Aire e Candeeiros e Montejunto (Rufino 1989, Elias et al. 1998, Barros & Marques 1999, ICN dados não publicados). Aparentemente, só não ocorrerá ou será particularmente escasso nas faixas litorais das regiões da Beira, Douro e Minho (Rufino 1989, ICN dados não publicados).

População
Os hábitos nocturnos desta espécie, aliados à sua discrição (apesar de se tratar de uma ave de grandes dimensões), ao facto de não construir ninho e de em muitos casos ser difícil de detectar e comprovar a sua nidificação (A Pinheiro, com. pess., C Carrapato, com. pess.), dificultam a obtenção de uma estimativa precisa sobre a sua população reprodutora. Contudo, considerando os números apontados para as diferentes IBA's - 100 a 200 casais (Costa et al. 2003) -, as estimativas para todo o vale do Guadiana e seus afluentes - 100 a 150 casais (Pinheiro et al. in press) -, e o conhecimento sobre a existência de numerosos casais isolados ou de pequenos núcleos dispersos por serras, ribeiras e áreas protegidas do restante território nacional (C Carrapato, com. pess., MC Pais, com. pess., G Rosa, com. pess., Onofre N dados não publicados), é possível chegar a uma estimativa grosseira de 250-500 casais de bufo-real em Portugal (Pinheiro et al. in press). Não se conhece a tendência actual da população mas supõe-se que esteja pelo menos estável, uma vez que globalmente não se reconhece um agravamento acentuado dos factores de regressão nos anos mais recentes. Admite-se contudo que se possam verificar declínios regionais, devido a destruição de habitat, nomeadamente por alagamento de vales encaixados na sequência da construção de barragens hidroeléctricas (Pinheiro et al. in press).

Em termos de estatuto de ameaça a nível da Europa, a espécie é considerada Depauperada embora ainda provisoriamente, tendo apresentado um declínio histórico acentuado (BirdLife International 2004). Na actualidade, as maiores populações europeias, incluindo a espanhola que está classificada como Pouco Preocupante (LC) (Madroño et al. 2004), estão em recuperação ou estáveis (Martinéz & Zuberogoitia 2003, BirdLife International 2004). Admitiu-se assim um risco de extinção em Portugal mais reduzido, tendo-se descido uma categoria na adaptação regional.
 
Habitat
A maior parte da população nacional encontra-se nos vales alcantilados de grandes rios e ribeiras, mas também nas encostas declivosas de serras, nidificando em regra em escarpas e outros afloramentos rochosos, mesmo que de pequena dimensão. A vegetação imediatamente circundante aos locais de ninho é quase sempre constituída por matos e matagais, mais ou menos densos e contínuos e com ou sem arvoredo. Caça em terrenos desarborizados ou de arvoredo não muito denso, com cerealicultura tradicional, restolho, pastagem e matos, bem como ainda ao longo dos vales e margens dos rios onde nidifica. Estudos indicam que é relativamente tolerante à presença ou às actividades humanas, embora na selecção do local de nidificação escolha com maior frequência áreas com encostas mais declivosas, bem revestidas por vegetação, onde, por conseguinte, a perturbação humana se faz sentir menos (Mikkola 1983, Donázar 1988, Pinheiro A, Onofre N & Carrapato C dados não publicados, entre outros). É uma espécie nidificante essencialmente rupícola, mas poderá criar em árvore, no chão ou em edifícios (MC Pais, com. pess., Onofre N dados não publicados).

Factores de Ameaça
A destruição de habitat, motivada pela construção de barragens hidroeléctricas ou de mini-hídricas, é uma das ameaças mais importantes para a espécie, visto a maioria da população portuguesa parecer estar localizada, para efeitos de reprodução, nesse tipo morfológico  de  paisagem.

A perseguição por abate directo a tiro, a destruição e roubo de ninhos são práticas ilegais frequentes e conhecidas desde há muito, em particular a primeira, tal como acontece em várias zonas de Espanha (Martinéz & Zuberogoitia 2003).

A depleção e as acentuadas variações sazonais e anuais das populações de coelho-bravo Oryctolagus cuniculus, devido às epizootias, deverão ter implicações nas populações e na sua produtividade, mas este é um aspecto que não está suficiente estudado em Portugal.

Às ameaças acima referidas poderão juntar-se ainda a mortalidade por electrocussão em postes de linhas de média e alta tensão (SPEA 2005), e o envenenamento, para o qual ainda não existe informação suficiente em Portugal, mas que em Espanha tem uma incidência significativa (Álvares 2003, Martinéz & Zuberogoitia 2003).

Medidas de Conservação
Para garantir a conservação desta espécie devem ser desenvolvidas campanhas de sensibilização dirigidas a caçadores, guardas e gestores de zonas de caça, agricultores, pastores e público em geral. Importa fomentar o diálogo e uma ampla cooperação com os gestores e utilizadores das zonas de regime cinegético especial, de modo a, por um lado, erradicar a aplicação de venenos, o abate a tiro e a destruição e roubo de ninhos e, por outro, recuperar e fomentar populações de coelhos imunes às epizootias imperantes. O condicionamento de acessos, trânsito de pessoas e veículos e, em particular, da própria actividade cinegética na proximidade dos ninhos deve ser tido em conta.

A espécie beneficiaria ainda com a intensificação das acções de fiscalização, com uma aplicação mais eficaz da lei e com o aumento das penalizações.

Em termos de estudos aplicados à conservação desta espécie, deve-se ainda:
  • dar continuidade aos estudos de monitorização da mortalidade provocada por electrocussão em linhas eléctricas e correcção das mesmas nas zonas mais importantes para a espécie;
  • incrementar os estudos epidemiológicos relativos às principais doenças que afectam o coelho-bravo e planear adequadamente repovoamentos nas áreas mais importantes da espécie;
  • aumentar o conhecimento sobre a espécie, quer ao nível da sua abundância no país (censos), quer de aspectos da sua biologia e ecologia, os quais são ainda pouco conhecidas e muito localizados no espaço nacional.
 in Livro Vermelho dos Vertebrados

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