terça-feira, 9 de outubro de 2012

Oryctolagus cuniculus, Coelho-bravo

Taxonomia
Mammalia, Lagomorpha, Leporidae.

Tipo de ocorrência
Continente: Residente.

Classificação
Continente: QUASE AMEAÇADO . NT* (A2bde+4bde)
Fundamentação: A espécie teve uma redução da população que pode ter atingido os 30% nos últimos 10 anos, por causas que podem não ter cessado, não ser compreendidas ou não ser reversíveis, de acordo com a avaliação de um índice de abundância, que se supõe persistir em consequência dos níveis de exploração e efeitos de agentes patogénicos; na adaptação à escala regional, desceu uma categoria por se considerar a possibilidade de ocorrer imigração significativa a partir de territórios adjacentes.

Distribuição
O coelho-bravo é originário da Península Ibérica. A sua actual distribuição mundial, desde a Europa à Austrália e em mais de 800 ilhas, resulta de numerosas e repetidas introduções.

Em Portugal, está presente em todo o território continental. Após os Descobrimentos, foi introduzido nos Arquipélagos dos Açores e da Madeira, nos quais só não ocorre na ilha do Corvo e nas ilhas Desertas (depois de ser objecto de uma campanha de erradicação (Bell 2001)).

População
Num estudo recente, foi estimado que, entre 1995 e 2002, houve um decréscimo populacional de 24% (Alves & Ferreira 2002).

A mixomatose foi introduzida em França na década de 50, tendo-se expandido rapidamente noutros países europeus (Gonçalves et al. 1998). A doença hemorrágica viral (DHV) foi detectada em populações selvagens em Portugal no início da década de 90, e rapidamente se expandiu por todo o território continental (Alves et al. 1998), ocorrendo igualmente em algumas ilhas do Arquipélago dos Açores.

Sabendo que em Espanha a mortalidade nos primeiros surtos em animais adultos foi de cerca de 55% (Villafuerte et al. 1994), em França de 88% (Marchandeau et al. 1998) e em algumas populações australianas de 90% (e.g. Cooke & Fenner 2002), estima-se que nos últimos 10 anos a redução no efectivo populacional, em Portugal, tenha sido superior a 30%.

Dado que continua a registar-se mortalidade causada pela mixomatose e pela DHV, que se trata de uma espécie cinegética, que está sujeita a uma significativa pressão de predação e se verifica uma contínua perda de habitat preferencial, admite-se continuar a existir uma regressão da população. No futuro, esta situação pode ser alterada dada a capacidade de recuperação da espécie.

Habitat
O seu habitat preferencial são as áreas mistas, do tipo mosaico, com abrigo (matos e bosques temperados) e zonas abertas (pastagens naturais e artificiais, terrenos agrícolas).

Factores de Ameaça
As populações desta espécie têm sido sujeitas a duas graves epizootias, mixomatose e DHV, para as quais não foram ainda descobertas vacinas ou outras formas de evitar a sua propagação.

A perda e degradação do habitat por redução de áreas de mosaico resulta da prática de agricultura intensiva, da produção florestal em grande escala, e do abandono agrícola.

A prática de medidas de gestão cinegética desadequadas como a sobreexploração e o recurso a acções de repovoamento sem um eficiente controlo sanitário e genético tem contribuído para a redução dos efectivos populacionais e para a descontinuidade na distribuição do coelho a nível nacional.

Medidas de Conservação
Só é legalmente permitido deter, criar e reproduzir em cativeiro e realizar repovoamentos com indivíduos da subespécie Oryctolagus cuniculus algirus, identificada como a que ocorre em Portugal. Esta medida tem por objectivo assegurar a integridade desta subespécie, minimizando as possibilidades de hibridação.

São necessários estudos para melhor conhecer a distribuição e efectivo populacional, à escala regional, bio-ecologia da espécie, estado do habitat e estrutura genética, assim como para monitorizar a tendência e estado sanitário da população.

Parece essencial recuperar os efectivos populacionais, assegurando a exploração adequada dos efectivos existentes (quer pelo controlo do número de animais abatidos quer pelo ajuste do período de caça), mantendo a estrutura do habitat tipo mosaico (incluindo o estabelecimento de pastagens e a construção de abrigos) e, caso necessário, recorrendo à utilização de cercados de reprodução com animais autóctones.

Notas
Estudos genéticos confirmam a existência em Portugal Continental e Insular da subespécie Oryctolagus cuniculus algirus e de uma acentuada estruturação genética a nível local (Van der Loo et al. 1991, Monnerot et al. 1994, Ferrand 1995, Hardy et al. 1995, Van der Loo et al. 1999, Branco et al. 2000, Branco et al. 2002).

Outra bibliografia consultada
Cabrera (1914); Soriguer (1980); Delibes & Hiraldo (1981); Soriguer (1981); Soriguer & Rogers (1981); Ribeiro (1983); Soriguer (1983); Iborra et al. (1990); Queirós et al. (1991); Alves (1994); Blanco & Villafuerte (1994); Rogers et al. (1994); Moreno & Villafuerte (1995); Alves & Moreno (1996); Gonçalves et  al. (2002).
in Livro Vermelho dos Vertebrados
 

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