sábado, 27 de outubro de 2012

Roma 1998 - Escrito

O Movimento dos Cursilhos de Cristandade é um instrumento que, mediante um método próprio intenta e pela graça de Deus trata de conseguir, que as realidades essenciais do cristão, se tornem vida na singularidade, na originalidade e na criatividade de cada pessoa, para que descobrindo as suas qualidades e aceitando as suas limitações, vá tomando interesse em empregar a sua liberdade para fazê-las convicção, a sua vontade para fazê-las decisão e firmeza para realizá-las com naturalidade no seu viver quotidiano pessoal e comunitário.

No mundo de hoje, pode-se detectar com toda a evidência que existe muita religiosidade sem fé, muita moral sem convicção e muita política sem autêntica preocupação pelos demais.

Por isso é mais que nunca necessário sublinhar, pôr em destaque e em primeira página, umas verdades que, com o correr do tempo, foram chegando às pessoas normais e correntes, de maneira desbotada, desleixada e não poucas vezes distorcida e sem a energia necessária, para convencer e pelo menos entusiasmar; razão pela qual muitos baptizados, em vez de viver a sua fé, estão parados na sua ignorância e nuns critérios que distam muito da verdade.

Pela via do hábito e da rotina, chegaram a crer:
  • Que a Igreja a integram somente os bispos, os sacerdotes, os religiosos e as religiosas.
  • Que o chamamento à santidade o tem exclusivamente uma determinada classe de cristãos. Que conta mais o estar enquadrado em alguma associação ou movimento, que o facto de estar baptizado.
  • Que a conversão, é um salto súbito à graça, esquecendo que mais que outra coisa, é uma atitude sempre vigente, vigilante, dinâmica e constante na vida do cristão consciente.

Estas realidades, e algumas mais centradas na sua verdade e explicitadas durante os três dias que dura o Cursilho, impactam, convencem e contagiam os que por própria vontade, resolveram assistir e participar no mesmo.

E se lhes explica, sempre positivamente, o que o Cursilho tenta conseguir, que:
  • Queremos ser e sentirmo-nos Igreja, não para mandar nela, mas sim porque só através dela nos chega a energia espiritual dos sacramentos.
  • Que o "ser perfeitos como nosso Pai do céu", chega a todos.
  • Que o título mais importante a que se pode aspirar é o de baptizado.
  • Que ao viver em graça consciente nos vamos convertendo cada dia e cada momento.

Quando estas verdades se apresentam ao vivo e em directo por cristãos que as evidenciam encarnando-as com fé viva e naturalidade humana, estimulam o viver e contagiam alegria, porque o baptizado descobre não só a sua função, mas sim a sua missão, que ao ir realizando-a e contagiando-a no seu normal viver, descobre o sentido da sua vida e o gozo de vivê-la à luz de Deus junto com os irmãos.

O estilo e o talento dos cristãos, se não se os confunde, consegue-se despertar o interesse dos que vivem no seu ambiente familiar, e social, sendo onde vivem a sua vida, fermento vivo e operativo, até tal ponto que muitos passam de um cristianismo de comportamento a ser cristãos com plena convicção. Estes criam e animam nos seus respectivos ambientes redes de comunicação pessoal e solidária, que lhes dão consciência de coesão amistosa e gratificante. Assim, por contágio, até muitos cristãos que acreditavam se tornam cristãos crentes, e a onda de preocupações que levantam entre uns e outros, até conseguiu que os cépticos ténues e os crentes debilitados, despertem da sua letargia.

O nosso Movimento, pela graça de Deus e as orações de muitos, tenta conectar, comunicar-se e criar amizade, entre uns cristãos que se esforçam por viver a sua fé evangélica em espirito e em verdade, com outras pessoas que vivem uma vida sem o Cristo vivo que a vivifique, e que voltam para fora pelas exigências do viver, ou quiçá somente de sobreviver, não tem tempo de preocupar-se nem de ocupar-se de si mesmos nem dos demais.

Para tratar de consegui-lo, o Movimento dos Cursilhos propicia, persegue e busca três encontros:
  • Com ele mesmo
  • Com Cristo e
  • Com os irmãos

Encontros que, com o interesse do interessado vão evoluindo, e ao transformar-se em amizade, lhe vão descobrindo o sentido da vida, da sua vida, o que lhe estimula e dinamiza para vivê-la e contagia-la com maior consciência e plenitude partindo sempre de si mesmo.

O encontro com ele mesmo. É o mais importante, porque é o que facilita, simplifica, pavimenta e prepara o encontro com Cristo e o encontro com os irmãos. A sua importância radica em que, antes que outra coisa, o que mais precisa é que cada um tente ganhar o espaço interior de si mesmo, onde está situado o reino de Deus, que é a potência do ser para adquirir com ele a dignidade de cristão desde dentro, pois sem essa dignidade o demais é inútil, e não pode ser eficaz.

O encontro com Cristo, é o encontro com o Cristo do Evangelho que, pela graça está vivo, real, amigo e próximo em cada um, e que à medida que se vai captando em toda a sua verdade, se fala Dele, porque "da abundância do coração fala a boca". Se fala com Ele na oração, e se chega a deixar-lhe falar a Ele, para que oriente a nossa vida, porque vamos notando a sua presença, e até experimentamos a sua proximidade. Sobretudo quando em vez de fazer as coisas por Deus, chegamos ao convencimento de que as fazemos a Deus.

O encontro com os irmãos, é o encontro com os irmãos possíveis, concretos, próximos. Talvez hoje a noção mais actualizada e mais simples do amor ao próximo, é a imediata possibilidade de fazer-se amigo do próximo. Hoje a vida é complicada, e o não poder encontrar tempo nem espaço para conseguir ter uma comunicação cordial e amistosa, pode ser um obstáculo que o impede a um poder partilhar com outros o seu ser cristão, e portanto a ir crescendo e desenvolvendo-se no terreno do espirito.

Fazer-se amigo do próximo é a chave para sentir-se empurrado desde dentro a ser transparente e coerente consigo mesmo, o que é muitíssimo melhor que se o impulso lhe tem que chegar desde fora, porque a amizade cria proximidade e a proximidade nem sempre cria amizade.

O encontro com os irmãos nos faz mais aptos para ir conhecendo-nos melhor a nós mesmos, e nos abre o caminho para também conhecer melhor o plano de Deus para cada um de nós e dos demais, activando o nosso ser e nosso fazer ao limite das nossas possibilidades pessoais e sociais segundo as circunstâncias concretas de lugar e de tempo: do nosso ambiente.

Para que a visão, a óptica, o foco e a perspectiva evangélica descoberta ou redescoberta no Cursilho, não se vão erodindo com o tempo, e se mantém viva na sua convicção, active a sua decisão e a afirme na sua constância, o Movimento dos Cursilhos oferece aos que tenham vivido os três dias que dura o Cursilho, uns meios muito concretos que ao longo do tempo demostraram ser eficazes, estos são a Reunião de Grupo: a vida como realidade partilhada em amizade. E a Reunião de Ultreia: circunstância periódica que possibilita que o melhor de cada um chegue ao maior número possível.

Isto é o que o Movimento dos Cursilhos pode oferecer ao homem de hoje. Não propomos ao homem do nosso tempo riquezas perecedoras, mas sim que queremos pôr ao seu imediato alcance os bens da graça que elevam o homem à dignidade de filho de Deus e que por isso lhe servem de autêntica ajuda para fazer a sua vida mais humana, ao mesmo tempo que são a garantia de tal vida.

Esta é a nosso mensagem, que quando é captada pela inteligência da pessoa e acolhido no seu coração, lhe propicia o descobrimento de que é possível ser cristão no lugar e no ambiente onde Deus a plantou, e ter o critério que se precisa para crescer e desenvolver-se nele, sabendo que o cristão, está onde está, se é cristão de verdade, pelo facto de sê-lo, converte qualquer ruido em harmonia.

Sou testemunha, desde a primeira hora, que quando o Cursilho se desenvolve assim, dá sempre resultado no terreno do espirito.

Eduardo Bonnín

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