terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Circus cyaneus, Tartaranhão-cinzento, Tartaranhão-azulado

Taxonomia
Aves, Accipitriformes, Accipitridae.

Tipo de ocorrência
Residente e invernante.

Classificação
População residente: CRITICAMENTE EM PERIGO - CR (C2a(i,ii); D)
Fundamentação: População muito reduzida (inferior a 20 casais), com evidências de que esta população e a sua área de distribuição têm declinado na última década e assumindo-se que todos os indivíduos estão concentrados numa única subpopulação.

População invernante: VULNERÁVEL - VU (D1)
Fundamentação: População reduzida (inferior a 1.000 indivíduos maturos).

Distribuição
Esta espécie reproduz-se na Eurásia (desde a Península Ibérica até à Península de Kamchatka, exceptuando a Itália, Grécia e outros países adriáticos), e na América do Norte, com populações totalmente migradoras na parte norte destas regiões e populações residentes, parcialmente migradoras ou dispersivas na restante (del Hoyo  et al. 1994, Cramp 1998). C.c.cyaneus inverna desde a Escócia e o Sul da Suécia até à Península Ibérica e algumas áreas no extremo norte de África e desde a Península Ibérica até a sudeste chinês, passando pela Turquia e Irão, enquanto que a C.c.hudsonius inverna principalmente em torno do Golfo do México até ao extremo norte da América do Sul (del Hoyo et al. 1994, Cramp 1998).

Poucos indivíduos invernam em África (Hagemeijer & Blair 1997, Cramp 1998).

A sua área de reprodução em Portugal é periférica relativamente à distribuição no Paleárctico ocidental, encontrando-se no limite sudoeste da mesma. O tartaranhão-azulado ocorre como nidificante apenas numa estreita faixa no norte (Onofre et al. 1995, Palma et al. 1999a), embora noutros tempos possa ter criado local e ocasionalmente mais a sul, como por exemplo nas zonas de Aveiro, Coimbra, na serra da Estrela e mesmo no Alentejo (Coverley c. 1945, Onofre & Palma 1986). Silva (1998) faz referência à observação de um casal na Serra da Malcata em Abril de 1994, mas não foi confirmada nidificação.

No Inverno ocorre em grande parte do território, praticamente de norte a sul, com uma esmagadora maioria das observações registadas no Alentejo (Onofre et al. 1995). Contudo, apesar de ser escassa a informação para o resto do país e de certamente existir enviesamento nas observações de invernantes apresentadas por estes autores, é provável que o Sul albergue um número bastante significativo de indivíduos durante o Inverno, uma vez que os campos agrícolas, que constituem os biótopos onde a espécie é mais observada em Portugal e em Espanha (de Juana et al. 1988), predominam na região alentejana. O número de invernantes no país varia de ano para ano (Onofre et al. 1995).

População
À semelhança da restante população ibérica, os efectivos portugueses serão residentes ou migradores parciais (Pinilla et al. 1994).

O tartaranhão-azulado nunca terá sido uma espécie nidificante comum ou abundante no país, de acordo com o referido por Coverley (c. 1945), Paulino de Oliveira (1928) e Reis Júnior (1931), sendo provável que muitas das suas observações incluíssem indivíduos invernantes, tal como outras constantes em Onofre & Palma (1986). A única estimativa existente para a população ocorrente na faixa norte do país data de 1993 e é de 10-20 casais (Onofre et al. 1995, Palma et al. 1999a), pensando-se hoje, em resultado do aparente declínio em número e em área nalguns locais (cf. Pimenta & Santarém 1996), que os efectivos possam ser menores. Contudo, aquela estimativa não é muito diferente da que se pode obter através dos dados constantes nas fichas das IBA.s Serras da Peneda e Gerês (PT002) e Serras de Montesinho e Nogueira (PT003) (Costa et al. 2003), que apontam para um intervalo entre 13-19 casais.

As observações de campo de vários ornitólogos conduzem a uma estimativa de 250-1.000 indivíduos invernantes.

Em termos de estatuto de ameaça a nível da Europa, a espécie é considerada Não Ameaçada, embora se apresente em declínio em alguns países europeus (BirdLife International 2004).

Habitat
O habitat da população nidificante em Portugal é formado por terrenos abertos revestidos por matos baixos e por pinhais jovens, entrecortados por searas e pastagens de altitude, sendo os matos preferidos como biótopo de nidificação (Reino 1994, Onofre et al. 1995, Pimenta & Santarém 1996, Silva 1998).

No Inverno o habitat utilizado pelos tartaranhões-azulados é bastante variado. Nas terras baixas e planas consiste em culturas arvenses de sequeiro (searas, restolhos, pousios e alqueives), pastagens, matos e montados relativamente abertos de azinho e sobro e nas serras, em matos baixos e pouco densos, pastagens, lameiros e pinhais jovens (Onofre et al. 1995, Onofre 1998c, Silva 1998). Ocorre também em zonas húmidas do litoral e interior (açudes, sapais, pauis, canteiros de arroz, etc.) (Onofre et al. 1995, Onofre 1998c).

Factores de Ameaça
Os factores que ameaçam esta espécie não são bem conhecidos. O facto de ter na Península Ibérica uma distribuição marginal, poderá explicar em grande parte a irregularidade da nidificação da espécie em Portugal. As alterações climáticas poderão eventualmente agravar este problema e fazer recuar o limite sudoeste da sua distribuição, podendo tais alterações representar uma ameaça séria. Com efeito, a ocorrência desta espécie, parece estar relacionada com a sua menor tolerância e o seu menor sucesso reprodutivo frente a temperaturas mais elevadas e menores precipitações (García & Arroyo 2001). Não é por isso de excluir a possibilidade do seu desaparecimento ou maior rarefacção no nosso país como nidificante, a médio-longo prazo, se as condições climáticas de aquecimento global progredirem como tem sido previsto (Santos & Miranda in press).

O abandono da cerealicultura tradicional de montanha (centeio e outros cereais praganosos de sequeiro), a arborização de terrenos abandonados (apesar dos povoamentos florestais jovens, enquanto tal, não serem adversos à espécie), a frequência demasiado elevada de grandes incêndios em zonas de mato que a espécie tradicionalmente frequenta e se reproduz, poderão também ameaçar a população nidificante no norte do país.

A destruição ou degradação de zonas húmidas e da sua vegetação, onde esta espécie muitas vezes pernoita e caça, bem como o declínio da cerealicultura extensiva (incluindo pousios e pastagens naturais), constituem factores de ameaça para a população invernante.

Finalmente, por se tratar de uma ave que explora o terreno em voo baixo, faz dela uma espécie vulnerável ao abate por tiro.

Medidas de Conservação

Face aos seus escassos efectivos, é urgente equacionar uma estratégia de conservação da espécie como nidificante em Portugal, apesar de ter no nosso país uma distribuição marginal.

A conservação da espécie no país, como nidificante e invernante, beneficiaria com a implementação das seguintes acções:
  • Conservação do habitat, nomeadamente através da divulgação e implementação de Medidas Agro-Ambientais, para além da conservação de áreas de matos onde a espécie nidifica;
  • Realização de censos e/ou monitorizações quinquenais, bem como de estudos sobre a ecologia e biologia (sucesso reprodutivo, selecção de habitat, demografia, movimentos e proveniências, etc.), inexistentes em Portugal;
  • Acções de sensibilização das populações locais, em particular agricultores, proprietários e técnicos florestais, visando a conservação da espécie e dos seus habitats.
in Livro Vermelho dos Vertebrados


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