terça-feira, 21 de setembro de 2010

Acrocephalus paludicola, Felosa-aquática

Taxonomia
Aves, Passeriformes, Sylviidae.

Tipo de ocorrência
Migrador de passagem.

Classificação
EM PERIGO . EN (D)
Fundamentação: População muito reduzida (admite-se ser superior a 50 indivíduos maturos). A sua relevância em termos de conservação, à escala europeia e global, levou a que se optasse pela avaliação do seu risco de extinção em Portugal, apesar de se tratar de uma espécie que no nosso território ocorre exclusivamente como migrador de passagem.

Distribuição
A área de nidificação desta espécie está praticamente restringida ao Paleártico Ocidental, concretamente à Europa de Leste; é uma espécie migradora que provavelmente inverna na África Ocidental e cujas rotas de migração se situam, pelo menos em parte, no extremo ocidental da Europa (Cramp 1992, Tucker & Heath 1994).

Em Portugal ocorre regularmente durante as passagens migratórias, por toda a faixa litoral, de norte a sul do território continental, e possivelmente também no interior. A sua área de ocupação poderá ser, no entanto, extremamente restrita.

População
Não existem praticamente dados sobre os quantitativos desta espécie que ocorrem em Portugal, embora seja possível suspeitar que os totais são baixos (entre 50 e 250 indivíduos maturos). Na Lagoa de Santo André, por exemplo, o número de aves capturadas anualmente durante o Verão situa-se, geralmente, abaixo dos 10 indivíduos (Catry 1993, ICN . Base de Dados Central Nacional de Anilhagem, dados não publicados). Noutras zonas, as capturas são ainda mais reduzidas (p. ex. Neto 2003) e frequentemente a captura ou observação desta espécie é tida como um acontecimento excepcional. A recaptura, em Santo André, de animais anilhados em anos anteriores (ICN - Base de Dados Central Nacional de Anilhagem, dados não publicados) sugere que a probabilidade de captura é relativamente elevada, o que reforça a ideia de que os totais envolvidos deverão ser baixos.

É uma espécie globalmente classificada como Vulnerável (VU) (IUCN 2004a); a nível da Europa é considerada Vulnerável, embora ainda provisoriamente (BirdLife International 2004).

Encontrando-se em declínio nas áreas de origem, será de presumir que o mesmo aconteça em Portugal. No entanto, é impossível determinar qual a taxa de declínio recente no nosso país. Sabe-se que tem existido uma tendência de declínio a longo prazo, pois a espécie foi tida por comum na primeira metade do século XX (Tait 1924, Reis Júnior 1931). Na Lagoa de Santo André também se tem feito notar (desde 1977 ao presente) uma certa tendência de diminuição do número de aves capturadas (ICN . Base de Dados Central Nacional de Anilhagem, dados não publicados), embora a amostra não seja suficientemente grande nem o esforço de captura mantido constante de forma a permitir uma conclusão robusta a este respeito.

Habitat
O habitat preferencial desta espécie são as zonas húmidas com vegetação palustre do tipo herbáceo, nomeadamente bunhais Scirpus spp. e caniçais Phragmites australis.

Factores de Ameaça
As principais ameaças em território nacional poderão prender-se com a drenagem e alteração dos habitats preferenciais, com vista a outros tipos de utilização dos solos (agricultura, pastoreio, construção de infra-estruturas, etc.). No entanto, as principais causas de redução da população europeia localizam-se nas áreas de nidificação, fora do nosso país (Tucker & Heath 1994, BirdLife International 2004).

Medidas de Conservação
Conservação das zonas húmidas, em particular de caniçais Phragmites australis e povoamentos similares. Embora muitas das áreas importantes de ocorrência se encontrem dentro de Áreas Protegidas ou de Zonas de Protecção Especial, são praticamente inexistentes as acções de gestão do habitat que visem a conservação e a expansão dos caniçais ou de povoamentos similares.

Notas
Ao contrário do que tem sido muitas vezes assumido na literatura nacional, esta espécie não deve ser encarada como acidental em Portugal, mas sim como um migrador de passagem regular, ainda que muito escasso. No passado, antes dos importantes decréscimos populacionais na Europa, a espécie era tida por comum (Tait 1924, Reis Júnior 1931). Tait (1887) demonstra ter conhecido bem esta espécie, distinguindo-a de A. schoenobaenus e descrevendo correctamente a sua fenologia e preferências de habitat.

in Livro Vermelho dos Vertebrados

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