Grândola foi palco, no dia 23 de Abril, de mais um acto no âmbito das comemorações dos 35 anos do 25 de Abril.
Desta feita um colóquio com a presença de Ramalho Eanes, Belmiro de Azevedo, Pacheco Pereira e Adelino Gomes.
Com a sala do Auditório Municipal, no Cine Granadeiro, totalmente esgotada, o presidente da Câmara Municipal de Grândola, iniciou o colóquio com algumas palavras, explicando as razões do colóquio, da presença dos convidados e apresentando-os.
Seguidamente tomou a palavra Adelino Gomes, descrevendo as razões da sua presença e os seus objectivos como moderador do colóquio.
Seguiu-se-lhe Belmiro de Azevedo, que entre outras coisas, em termos quase autobiográficos, descreveu a sua passagem pelo 25 de Abril bem como a gestão do grupo Sonae nos períodos conturbados que se lhe seguiram.
A palavra passou para Pacheco Pereira e por fim para Ramalho Eanes, tendo o colóquio prosseguido com várias questões colocadas pelos assistentes.
A LUSA descreveu desta forma o conteúdo do colóquio:
“Nós temos o governo que merecemos, temos os partidos que merecemos, temos os subsistemas de saúde e educação que merecemos, porque somos responsáveis pela nossa sociedade”, disse Ramalho Eanes, depois de citar um autor espanhol que responsabilizava os povos submetidos a regimes tirânicos, pela incapacidade de se revoltarem.
“Cabe-nos a nós impor regras, exigir condutas e, quando for necessário, substituirmos os governantes”, frisou Ramalho Eanes, no colóquio moderado pelo jornalista Adelino Gomes, em que também participaram o empresário Belmiro de Azevedo, o social-democrata Pacheco Pereira e o presidente da Câmara de Grândola, Carlos Beato, anfitrião e promotor deste colóquio comemorativo do 25 de Abril.
O general que comandou as tropas do 25 de Novembro (de 1975) - que para muitos significou o fim dos excessos do período revolucionário -, acrescentou que “é tempo de mudar” (de atitude), porque deve ser o povo português a definir as linhas do futuro.
Ramalho Eanes foi o último orador no colóquio em que o empresário de Belmiro de Azevedo contou como começou a construir o império da Sonae, de que detinha apenas 17 acções na fase inicial.
Belmiro de Azevedo, um dos maiores empresários portugueses, também se referiu às dificuldades que os portugueses atravessam, deixando um recado às gerações mais jovens para que apostem na qualificação e na “irreverência”.
Para o social-democrata Pacheco Pereira, “o 25 de Abril cumpriu-se no fundamental: somos livres, temos uma democracia - não funciona muito bem nas é incomparavelmente melhor (do que a ditadura do Estado Novo)”.
O comentador político advertiu, no entanto, para os perigos da crise económica que se faz sentir a nível mundial, e lembrou que “a democracia não sobrevive bem em ambientes em que as pessoas empobrecem rapidamente”.
“Estamos a aceitar coisas que são inaceitáveis: estamos a aceitar que, cada vez mais, sejamos controlados electronicamente, a aceitar que toda nossa vida possa ser reconstituída pelo estado”, frisou.
“Todos os meus movimentos bancários são conhecidos, todos os meus levantamentos no multibanco são conhecidos, os livros que compro numa livraria são conhecidos, se passear pela baixa de Lisboa estou permanentemente a ser filmado”, frisou Pacheco Pereira procurando evidenciar a necessidade de os portugueses continuarem a lutar pela liberdade, no dia-a-dia.
Pacheco Pereira disse ainda que “se houver uma deriva autoritária, há hoje instrumentos muito mais poderosos do que os bufos da PIDE”.
Durante o debate que terminou já hoje de madrugada, o jornalista Adelino Gomes leu um noticiário que foi transmitido na Rádio Renascença a 26 de Fevereiro de 1972 (dois anos antes da revolução de 25 de Abril de 1974), e que pouco mais era do que a agenda do então Presidente da República, almirante Américo Tomás.
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