terça-feira, 28 de junho de 2011

Os Filtros IV

Filtros de cores
 
Os filtros de cores utilizam-se com dois fins. Em  fotografia a cores utilizam-se para colorir certas zonas da cena. Em branco e preto utilizam-se para aclarar ou escurecer as colores de forma selectiva. Este tipo de filtros também existem de uma cor fixa em toda a cena ou degradados
  
Podemos utilizá-los para dar lhe mais dramatismo a uma colocação de sol
ou dar um tom de cor à cena, etc…
São os filtros mais facilmente emuláveis com retoque digital, inclusive em fotografia a preto e branco.

domingo, 26 de junho de 2011

O Celeron é na verdade um Pentium III castrado?

Os modelos 533A, 566 e 600 MHz em diante do Celeron, utilizam a mesma arquitectura do Pentium III, o famoso core Coppermine. Na verdade os processadores não apenas compartilham a mesma arquitectura, mas são na verdade processadores Pentium III, que tem metade de seu cache L2 desabilitado ainda em fábrica.

Esta é mais um caso da famosa linha de produção unificada da Intel. Por trazer o cache L2 integrado ao processador, existe um grande número de defeitos de fabricação no cache dos processadores Pentium III. Como o cache faz parte do processador, um único bit defeituoso do cache, condenaria todo o processador à lata de lixo, assim como acontecia na época do Pentium Pro.
Quando ocorre um defeito no cache, em geral apenas alguns poucos bits são afectados, quase sempre bits fisicamente próximos.

Antes de saírem de fábrica, todos os processadores são rigorosamente testados e os que apresentam defeitos no cache são separados, já que o defeito fatalmente causaria travamentos caso o processador fosse vendido, o que não deixaria o comprador muito contente.

Existe então um problema. O que fazer com esses processadores Pentium III com defeitos no cache? Simplesmente deitar fora não seria a melhor ideia, pois estes processadores custam caro para ser produzidos. A solução encontrada pela Intel foi transformá-los em Celerons.
Sim, parece estranho, mas é o que vem acontecendo. Como dissemos, quando existe um defeito no cache, quase sempre este erro ocorre em alguns bits, muito próximos fisicamente. Já que o Celeron possui apenas 128 KB de cache, bastaria então desabilitar a metade do cache onde está o defeito.

Como será usada apenas a metade “boa” do cache, o processador funcionará perfeitamente, e teremos mais um consumidor satisfeito, talvez rodando o seu Celeron de 600 MHz que custou 100 dólares a 900 MHz em overclock :-)

Basta verificar as especificações dos dois processadores. Veja-se que tanto o Celeron com core Coppermine, quanto o Pentium III Coppermine possuem o mesmo número de transístores, instruções SSE, etc. as únicas diferenças dizem respeito ao cache.

in Manual de Hardware Completo
de Carlos E Marimoto

sábado, 25 de junho de 2011

Grampo, Moleiro (Açores), Grampus griseus

Taxonomia
Mammalia,  Cetacea,  Odontoceti,  Delphinidae.

Tipo de ocorrência
Continente:  Residente.
Açores:  Residente.
Madeira:  Desconhece-se  se  é  migrador  ou  visitante.

Classificação
Continente:  INFORMAÇÃO  INSUFICIENTE  -  DD
Açores:  INFORMAÇÃO  INSUFICIENTE  -  DD
Madeira:  INFORMAÇÃO  INSUFICIENTE  -  DD
Fundamentação: Não existe informação adequada para avaliar o risco de extinção nomeadamente  quanto  ao  tamanho  da  população  e  tendências  de  declínio.

Distribuição

O grampo tem uma vasta área de distribuição, abrangendo as águas quentes e temperadas de todos os oceanos. No Atlântico Norte, distribui-se entre a Terra Nova e a Suécia, a norte, e o Mediterrâneo e as Ilhas Antilhas, a sul (Leatherwood & Reeves 1983). É uma espécie cosmopolita, associada a águas profundas, estando ausente em águas polares.

No Continente, ocorre ao longo de toda a plataforma continental podendo, ocasionalmente, ser avistado em zonas costeiras de menor profundidade.

Pode  utilizar  toda  a  área  das  Zonas  Económicas  Exclusivas  dos  Açores  e  da Madeira,  especialmente  junto  às  ilhas  e  bancos  submarinos  que,  normalmente, constituem zonas de maior produtividade relativa.

População
Apesar de não haver informação disponível que permita estimar a dimensão e a tendência populacional,  não  há  evidências  que  sustentem  a  possibilidade  de existência  de  várias  subpopulações.

Habitat
O grampo é uma espécie pelágica que ocorre em zonas de mar aberto. Na maior parte  da  sua  área  de  distribuição,  as  observações  efectuadas  próximo  da  orla costeira  são  justificadas  pela  reduzida  largura  local  da  plataforma  continental (Martin 1990).

Factores de Ameaça
Os principais factores de ameaça são a captura acidental em artes de pesca e a poluição por organoclorados e metais pesados. Nos Açores e na Madeira, as actividades de observação de cetáceos são consideradas um factor de perturbação para  a  espécie.

Medidas de Conservação

No  Continente,  está  em  vigor    legislação  específica  nacional  de  protecção  de mamíferos  marinhos,  bem  como  transposição  e  regulamentação  de  legislação internacional.  O  "Guia  de  Identificação  de  Cetáceos"  (Sequeira  &  Farinha  1998) foi produzido como material de divulgação.

Nos Açores, para além da legislação internacional em vigor, foi criada regulamentação para a actividade recreativa e comercial de observação de cetáceos. Estão a ser realizadas campanhas de educação e sensibilização ambiental, no âmbito de projectos de investigação diversos.

Na  Madeira,  para  além  da  legislação  internacional  em  vigor,  foi  implementada legislação regional de protecção. O Museu da Baleia dinamiza a investigação, a divulgação e a sensibilização para a conservação dos cetáceos neste Arquipélago.

No  âmbito  do  "Projecto  para  a  Conservação  dos  Cetáceos  no  Arquipélago  da Madeira", promove-se a avaliação dos efectivos populacionais, estudos de biologia e ecologia, bem como a avaliação das principais ameaças no sentido de apresentar às  entidades  competentes  propostas  de  novas  medidas  de  conservação  e campanhas  de  educação  e  sensibilização  ambiental.  Uma  das  medidas  de conservação  actualmente  em  processo  de  implementação  é  o  regulamento  de adesão voluntária para as embarcações comerciais de observação de cetáceos no  sentido  de  minimizar  o  impacto  desta  actividade  na  Região  Autónoma  da Madeira. Igualmente no âmbito daquele projecto, está a ser preparado um plano de monitorização das populações de cetáceos a longo prazo.

Outra bibliografia consultada
Sarmento (1948); Perrin & Reilly (1984); Kruse et al. (1999); Freitas et al. (2002).

in Livro Vermelho dos Vertebrados

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Os adultos no Movimento Escutista

Para ser um Dirigente Escuteiro você só precisa ter:
  • Boa vontade para auxiliar
  • Tempo para planear, executar e avaliar as actividades,
  • Identificação com os princípios que orientam o Movimento Escutista
 

sábado, 18 de junho de 2011

Marushin X Cartridge S&W M60 (8mm/3 polegadas)

Fabricante: Marushin
Código do produto: MURS-4920136040519
Hop-Up: ajustável
Peso: 368grs
Comprimento: 190,0mm
Capacidade: 5 munições
Potência: 180fps
Fonte de energia: HFC 134a
Blowback: não
Modo de disparo: Semi/Dupla acção
Um pequeno revólver de 5 munições que utiliza cápsulas actuais; o sistem X-Cartridge utiliza normalmente um depósito de gás no interior da arma mas as BB's são carregadas em cápsulas de imitação que são carregadas no revólver como as reais. Neste caso as cápsulas são para BB's de 8mm.
Apesar da sua pouca potência, como arma de 8mm, as suas BB's de 0,4grs asseguram que se for atingido vai de certeza sentir. Só será efectiva a curta distância mas mesmo assim atingirá um alvo do tamanho de um ser humano facilmente e por este preço é uma das mais baratas armas de carregamento por cápsulas existente.
Com um punho de 7,5 cm de comprimento, este revólver de 19 cm é a escolha perfeita para aquela pequena pistola usada como arma de backup ou arma principal num cenário especial VIP num jogo. Ela apenas permite 5 disparos, mas a curta distância aquelas BB's de 8mm tem um impacto significativo.
in RedWolf Airsoft

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Os filtros III

Densidade neutra
 
São filtros que unicamente reduzem a quantidade de luz que entra na objectiva, sem modificar as cores. Isto permite aumentar a exposição e evitar zonas queimadas na foto. Os filtros de densidade neutra podem ser normais (que afectam toda a cena) ou degradados (afectam uma parte da cena e tem uma zona de transição). Existem de diferentes graduações, em função da quantidade de luz que se quer limitar. O filtro ND2 reduz a luz a metade (1 passo), o ND4 a quatro vezes menos (2 passos), o ND8 8 vezes menos (3 passos), e assim sucessivamente.
Os filtros de densidade neutra são especialmente úteis quando há muita diferença de luz entre o céu e a terra em fotografia de paisagens. Assim utilizamos o filtro de densidade neutra parcialmente para escurecer o céu. Este método também se utiliza em fotografia nocturna.
Também são especialmente úteis se no ambiente há grande quantidade de luz e queremos aumentar o tempo de exposição mais do que a câmara nos permite com a dita quantidade de luz existente. Por exemplo para conseguir um efeito seda num rio, uma fonte ou similar.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Celeron Coppermine (Celeron II)

Assim como o Pentium III, que depois da versão de 600 MHz passou a ser produzido utilizando o core Coppermine, que permite frequências maiores devido a uso de transístores menores, o Celeron, seguindo sua evolução natural, também passou a ser produzido através da nova técnica de produção a partir da versão de 533 MHz. Note que, apesar de mais raros, também existem Celerons de 533 MHz produzidos usando a arquitectura antiga. Para diferenciar as duas séries, o Celeron de 533 MHz Coppermine é chamado de 533A.

Mantendo a intenção de vender um processador de baixo custo, que tenha um bom desempenho, mas que ao mesmo tempo não concorra directamente com os processadores mais caros, temos quatro desvantagens do Celeron Coppermine sobre um Pentium III Coppermine com a mesma velocidade:

A primeira é a frequência de barramento mais baixa. O Celeron Coppermine continua utilizando barramento de 66 MHz, com o multiplicador travado. Um Celeron de 600 MHz por exemplo, utiliza multiplicador de 9x! Quanto mais alto o multiplicador, mas baixo é o desempenho. A partir do Celeron 800 já é usado bus de 100 MHz, atenuando (mas não resolvendo) o problema.

A segunda é o facto do Celeron continuar vindo com apenas 128 KB de cache L2 full-speed (trabalhando na mesma frequência do processador), enquanto o Pentium III Coppermine vem com o dobro: 256 KB de cache L2, também full-speed.

As duas últimas também referem-se ao cache L2:

Além de menor, o cache L2 do Celeron Coppermine é castrado de mais duas formas. Primeiro, o cache do Celeron possui 4 linhas de associação, contra 8 linhas do cache do Pentium III. Mais linhas de associação melhoram a eficiência do cache, principalmente quando é usada muita memória RAM. Segundo que, no Celeron, o cache L2 tem latência de dois tempos, enquanto no Pentium III não existe latência.

Somando todos estes factores, o Celeron realmente fica atrás do Pentium III Coppermine em termos de desempenho. Em algumas aplicações o Celeron Coppermine chega a ser 20% mais lento que um Pentium III Coppermine com a mesma velocidade. Não é mais como no tempo do Pentium II, onde o Celeron com cache apresentava quase que o mesmo desempenho que processadores Pentium II da mesma velocidade.

Em termos de placa mãe, temos os mesmos requisitos que no Pentium III Coppermine, já que essencialmente o Celeron II é um Pentium III Coppermine, apenas com as modificações limitadoras de performance, e em termos de recursos e desempenho não temos nada muito melhor que tínhamos nas versões antigas do Celeron com cache. As vantagens do Celeron Coppermine são as versões com maior velocidade, e o suporte às instruções SSE, que não eram suportadas nas versões anteriores. Veja alguns números mostrando o desempenho das novas versões do Celeron:

in Manual de Hardware Completo
de Carlos E Marimoto

terça-feira, 14 de junho de 2011

Anthus spinoletta, Petinha-ribeirinha

Taxonomia
Aves, Passeriformes, Motaciliidae.
 
Tipo de ocorrência
Nidificante, que se desconhece se é residente ou migradora.

Classificação
População  nidificante:  EM  PERIGO  -  EN*  (D)
Fundamentação: Espécie com população muito reduzida (inferior a 50 indivíduos maturos) e com uma distribuição muito circunscrita ao Norte do país, apresentando uma área de ocupação diminuta e um número de localizações muito restrito. Na adaptação à escala regional desceu uma categoria, por se admitir que a população regional poderá ser alvo de imigração significativa e que previsivelmente esta não diminuirá.

Distribuição
Espécie  com  distribuição  holártica  (Cramp  1988)  e  parcialmente  migradora.  Como nidificante, na Europa apresenta uma distribuição fragmentada e na Península Ibérica está confinada aos cumes desflorestados das montanhas do Norte e Centro.

Em Portugal, como nidificante, apresenta uma distribuição muito restrita, a norte. No Gerês foi dado como tendo nidificação possível em apenas duas quadrículas (Pimenta & Santarém 1996), sendo em Montesinho que se localiza a única nidificação confirmada desta espécie (Reino 1994).

População

Apenas é conhecido um casal nidificante em Portugal, pelo que a população nacional foi estimada como sendo inferior a 50 indivíduos maturos. Não há evidências de declínio continuado da sua população.

No Atlas de Montesinho, confirmou-se a nidificação da espécie nos anos de 1992 e 1994 na área da Lama Grande, a uma altitude próxima dos 1.450 m; posteriormente, e já  durante  o  final  da  década  de  noventa  e  início  da  actual,  voltou-se  a  confirmar  a nidificação da espécie no mesmo local, tendo-se inclusive descoberto uma nova área junto à Barragem de Serra Serrada onde a espécie poderá eventualmente nidificar, mas sem que tal se tenha confirmado (L Reino, com. pess.).

Em  termos  de  estatuto  de  ameaça  a  nível  da  Europa,  a  espécie  é  considerada  Não Ameaçada, embora ainda provisoriamente (BirdLife International 2004).

Atendendo a que em Espanha está classificada como Pouco Preocupante (LC) (Madroño et  al.  2004)  e  a  que  não  estão  detectados  declínios  nesse  país  (Vázquez  2003a), admitiu-se um risco de extinção mais reduzido no nosso país e desceu-se uma categoria na adaptação à escala regional.
 
Habitat
No Gerês foi localizado a mais de 1.100 m de altitude, em áreas com lameiros, pastagens de  montanha  ou  extensões  rochosas  intercaladas  com  matos  esparsos  (Pimenta  & Santarém 1996). Na área de Montesinho encontra-se associada a zonas de lameiros de altitude,  com  sebes  arbóreas  de  vidoeiros  Betula  alba  e  pinheiros-silvestres  Pinus sylvestris; normalmente constrói o seu ninho dentro de um curral utilizado pelos pastores para guardarem o gado (L Reino, com. pess.).
 
Factores de Ameaça
Não  se  conhecem  problemas  de  conservação  específicos.  Para  Espanha  não  está identificada nenhuma ameaça grave e generalizada para a conservação da espécie; no entanto,  estão  referidas  colisões  de  exemplares  desta  espécie  com  aerogeradores (Vázquez  2003a).

Afectações pontuais do seu habitat, resultantes do turismo, instalação de parques eólicos, entre outras, podem constituir uma grave ameaça a esta espécie com uma distribuição tão localizada no nosso país. Nomeadamente na área de Montesinho, a perturbação pelo facto da área ser muito utilizada como zona de lazer pode constituir um problema à manutenção da espécie.
 
Medidas de Conservação
A sua área de distribuição está incluída em Áreas Protegidas e em Rede Natura 2000.

A conservação do habitat na sua área de ocorrência deve ser assegurada nos Planos de Ordenamento das Áreas Protegidas.

Notas
Ocorre também no Continente uma população invernante, com população muito numerosa e distribuição alargada, em situação Pouco Preocupante (LC).
in Livro Vermelho dos Vertebrados

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Os adultos no Movimento Escutista

  • O Escutismo conta com trabalho voluntário de adultos com mais de 18 anos, mesmo sem qualquer experiência anterior.
  • As associações escutistas possuem sistemas de formação que capacitam o adulto a actuar como Dirigente Escuteiro, sem prejuízo de sua vida profissional ou familiar.

domingo, 12 de junho de 2011

Festas do Espírito Santo

Hoje é Domingo de Pentecostes, nos Açores realizam-se as Festas do Espírito Santo. A sua importância na realidade local é tão grande, que a Assembleia Regional dos Açores, quando teve de escolher um dia para celebrar o dia da Região Autónoma dos Açores, não hesitou em escolher a Segunda-feira do Espírito Santo.

As razões da implantação destas festas nos Açores, quando praticamente desapareceram no continente português, poderão ser muitas, mas creio que as apresentadas pelo Prof. Carlos Enes no trabalho que transcrevo são mais do que válidas.
AS FESTAS DO ESPÍRITO SANTO NOS AÇORES
RAZÕES PARA A SUA PERMANÊNCIA E CAUSAS DA DECADÊNCIA

1 - Origens
 
As festas do Espírito Santo têm origem no pensamento do abade cisterciense, Joaquim de Fiore, que viveu no século XII. De acordo com a sua teoria da História, o mundo teria passado pela Idade do Pai ou da Lei, pela Idade do Filho ou da submissão filial e ia entrar na Idade do Espírito Santo que correspondia a uma etapa da fraternidade entre os povos.
 
O pensamento do monge calabrês espalhou-se pela Europa e chegou à Península Ibérica através dos monges de Cluny, de Cister e dos franciscanos "espiritualistas". No século XII, já há notícias  de confrarias do Espírito Santo espalhadas por várias localidades da França e por outras cidades de diversos países que dispunham de casa própria para guardar oferendas de pão, vinho e outros comestíveis.
 
No que respeita a Portugal, embora existam notícias de uma confraria do Espírito Santo em Benavente, em 1237, todas as fontes apontam para a introdução do culto no reinado de D. Dinis. Sua mulher, Isabel de Aragão, fundou a Igreja do Espírito Santo em Alenquer, onde se realizaram os rituais da coroação do pobre, distribuindo pelos seus vizinhos o pão, a carne e o vinho.
Por acção dos franciscanos, o culto do Espírito Santo expandiu-se por todo o continente. No final do século XVI, segundo Jaime Cortesão, existiam 75 vilas e cidades onde havia templos da sua invocação, 80 hospitais e albergues com as respectivas capelas, cerca de um milhar de igrejas, conventos e ermidas que possuíam confrarias do Espírito Santo, nas quais realizavam procissões, festas e romarias alusivas ao Império e à coroa do Imperador. Para os séculos XV e XVI, há notícias de festas do Espírito Santo em várias regiões do continente que forneceram os primeiros povoadores do arquipélago dos Açores. Muitas delas desapareceram ao longo dos tempos, mas outras subsistem em várias localidades.

Estes povoadores levaram consigo as festas do Espírito Santo  e realizaram-nas, desde cedo, em diversas ilhas. Gaspar Fructuoso, que escreveu as "Saudades da Terra" nos finais do século XVI, faz referência ao culto do Espírito Santo em algumas ilhas do arquipélago. Documentos vários atestam a existência delas nos finais do século XV e o seu incremento ao longo do século XVI. Para esta divulgação das festas nas ilhas terá contribuído a acção dos franciscanos que acompanharam os primeiros povoadores.
2 - Características gerais da festa
 
De acordo com o pensamento de Joaquim de Fiore, as festas do Espírito Santo revestem formas de solidariedade comunitária, numa quadra de fraternidade, de abundância e de alegria. A festa realiza-se ao longo de oito semanas que medeiam entre o Domingo de Páscoa e o Domingo da Trindade. Porém, podem realizar-se os impérios ou funções "fora de tempo", quando o número de promessas individuais excede as oito semanas. Estes impérios "fora de tempo" coincidem, geralmente, com épocas de grandes vagas emigratórias, em que os emigrantes pagavam a promessa por terem alcançado um bem desejado ou no período da guerra colonial cuja promessa era paga se o soldado regressava são e escorreito. Nos dias de hoje, já são muito raros os impérios fora da quadra tradicional.
 
Os elementos basilares da festa são a missa da coroação, o bodo e o jantar. O ritual que os acompanha evoluiu ao longo dos tempos, bem como as formas de organização da própria festa. Por outro lado, sempre existiu uma grande diversidade entre as ilhas e mesmo em cada ilha no que respeita à estruturação genérica do ritual, ao conteúdo e confecção da alimentação e às cerimónias religiosas. Nesta abordagem, procurámos caracterizar, apenas, a festa nas suas linhas gerais e a nossa reflexão parte de um conhecimento pessoal vivido numa freguesia rural, Vila Nova, da Ilha Terceira.
O culto do Espírito Santo exerce-se na Vila Nova por duas vias: 1) o da irmandade, em que um número de irmãos se encarrega todos os anos de organizar o bodo. Os mordomos, para além dos contributos individuais, recolhem os donativos para a aquisição do pão, vinho e carne para distribuir aos pobres, aos irmãos e, nalgumas localidades, aos próprios forasteiros. O bodo realiza-se no 7º e 8º Domingo, junto ao Império, um pequeno templo onde se venera a coroa, o ceptro e a bandeira. Estes impérios ou "triatos" até ao século XIX eram geralmente de madeira e desmontáveis. A partir de então, começaram a ser construidos em pedra em quase todas as localidades; 2) a da promessa individual, em que o imperador realiza a função, ou seja oferece um jantar a convidados e esmolas aos pobres. Durante a semana em que o Espírito Santo está em casa do Imperador, este é ajudado pelos vizinhos e todos os dias, à noite, se reza o terço e se dança na sala em frente à coroa do Espírito Santo.
 
Em ambos os casos, a festa é sempre de abundância, de partilha, de fraternidade, de entreajuda. A coroação exige sempre uma refeição comunitária e a distribuição de carne e pão.
Estas festas têm como mestres de cerimónia e animadores os conhecidos foliões. São indivíduos encarregados de anunciar, dirigir e orientar todos os rituais relacionados com a festa. Desapareceram nos nossos dias, mas acompanhavam a coroação, bailavam e cantavam na capela-mor enquanto se realizava a coroação dos imperadores. Usavam vestes próprias, com opas enramadas e coloridas, lenços na cabeça, e tocavam instrumentos vários, nomeadamente, tambor e pandeiro.
3 - Censuras e proibições
 
Desde o início, a festa do Espírito Santo escapou à esfera de influência da hierarquia da Igreja. Pelos abusos, excessos e extravagâncias foram censuradas e proibidas determinadas formas exteriores do culto que não estavam de acordo com a doutrina da Igreja. Esta procurava, assim, separar o sagrado do profano e impor o domínio total do sagrado. Mesmo não havendo intenção de eliminar definitivamente as festas, o facto é que as censuras e proibições parcelares contribuíram para que fossem desaparecendo na Europa e noutras zonas de Portugal.
 
Analisando a longa lista de proibições e censuras constata-se que há em primeiro lugar a preocupação de purificar a festa dentro da Igreja. Em 1559, n´As Constituições Diocesanas proibiu-se o costume de os imperadores pregarem no púlpito ou em qualquer lugar da Santa Igreja. Esta prática frequente nalgumas ilhas, provavelmente uma reminiscência das Festas dos Loucos em França, causava embaraços à estrutura da Igreja e colocava o sacerdote em posição subalterna. Em 1600, D. Jerónimo Teixeira proíbe os foliões de bailar na capela-mor das igrejas, como era hábito durante as coroações. Em 1610, proíbe-se os foliões de cantar cantigas profanas no interior do templo. Em 1678, proíbe-se a coroação do imperador antes de acabada a missa ou a sua entrada na Igreja com a cabeça coberta.
 
Estas proibições levam muito tempo a ser acatadas. Não se sabe quando se deixou de bailar nas igrejas, mas nos anos cinquenta do nosso século, na ilha Terceira, os foliões nalgumas freguesias ainda cantavam e tocavam dentro da Igreja e dirigiam parte da cerimónia da coroação.
A luta entre o poder espiritual e temporal também está presente numa determinação de 1645, em que se proíbe o pároco de ir a casa dos imperadores dar-lhes o ceptro e tirar-lhes a coroa da cabeça. Se a entrega do ceptro demonstra o poder do investidor, o retirar a coroa da cabeça representa o serviço que um subordinado presta ao senhor. Os impérios de mulheres, acusadas como causa e objecto de pecado, foram proibidos em 1679. Em 1894, não se permite que sejam coroadas raparigas com mais de dez anos, mas a determinação não foi acatada.
 
Outro tipo de proibições procura alterar a festa nos espaços públicos ou privados. Em 1636, não são permitidos jantares depois do anoitecer; em 1843, são proibidos os bailes na casa onde se encontra a coroa do Espírito Santo; em 1894, pretende-se acabar com jogos e outros divertimentos profanos em casa do imperador, bem como as mudanças da coroa à noite ou os banquetes nos impérios. Por outro lado, procurou-se também afastar os sacerdotes de todas as cerimónias que se realizassem fora da Igreja. Em 1645, não se permite que os padres "assistam à mesa dos imperadores"; em 1876 e novamente em 1894, os mesmos são proibidos de fazerem parte da administração dos impérios.
Em relação às irmandades do Espírito Santo, a Igreja nunca se pronunciou contra as mesmas, apesar de aquelas terem um estatuto autónomo, regido por leis próprias que nalguns casos se sobrepõem às da Igreja. Por exemplo, o estatuto da irmandade do império dos Quatro Cantos, ilha Terceira, determinava, em 1868, que competia à irmandade dar parte ao padre da hora em que o imperador devia coroar.
 
As irmandades viveram sempre à margem da Igreja, mas, em 1959, o bispo decidiu uniformizar os estatutos, colocando-os sob a alçada da Igreja. Geraram-se conflitos verbais em várias ilhas e, na Terceira, o assunto foi tema de artigo do jornal. Pela pena do dr. Valadão, autoridade civil e pessoa de prestígio local, apelava-se ao bom senso de ambas as partes, mas o autor não deixa de frisar que as autoridades eclesiásticas, ao longo da história, haviam recuado várias vezes perante a firmeza dos costumes, a força deles e a fé viva que ardia nas populares festas. A Igreja, uma vez mais, cedeu perante a firmeza popular: a maioria das irmandades continuou a funcionar sem subscrever os estatutos propostos pela Igreja.

Todas estas proibições ou intromissões só muito lentamente produziram alguns efeitos. A resistência a todas elas foi muito activa provocando frequentes desaguisados entre a população e os representantes da Igreja. Os açorianos sempre encararam, e encaram, estas festas como uma festa sua, "a festa do povo", nitidamente distinta de outras festas religiosas, "a festa do padre". 
4 - Razões para a permanência
 
Tentar compreender as razões porque permaneceram, de forma tão arreigada, as festas do Espírito Santo nos Açores e o seu quase desaparecimento no continente só é possível no terreno das hipóteses. Os estudos que conhecemos limitam-se, na generalidade, a descrever e interpretar as características, os rituais e a simbologia da festa, mas não avançam propostas explicativas globais para responder àquela questão. As explicações para a permanência da festa incidem, essencialmente, sobre o carácter religioso do povo açoriano que, atormentado pelos frequentes tremores de terra, encontra no Espírito Santo um protector contra este tipo de catástrofes naturais.
 
Pensamos que a ideia é válida, mas insuficiente. Por isso, procuraremos levantar algumas hipóteses explicativas da permanência da festa nos Açores, apesar da tenacidade das proibições e censuras feitas pela Igreja.
 
1 - De todas as festas levadas pelos povoadores, as do Espírito Santo, porque eram comuns a uma boa parte deles, permitem estabelecer um elo de união entre gentes provenientes dos lugares mais distantes de Portugal continental. São as que melhor se enquadram no espírito de solidariedade necessário para enfrentar as dificuldades sentidas nos primeiros tempos de vida no arquipélago. Pelas suas características, são as que melhor ajudam a esquecer as agruras da vida, longe da terra natal. São, por isso, festas que permitem uma espécie de catarse colectiva, comendo, bebendo e "foliando" até à exaustão, nas quais se retemperam as forças para viver o resto do ano.
 
2 - Para a realização destas festas é necessário trigo, carne e vinho. Desde os primeiros tempos do povoamento, estes três ingredientes fundamentais existem com relativa abundância nos Açores, pelo que a realização de um bodo ou de uma "função" se pode efectuar sem grandes dificuldades. Apesar das profundas desigualdades sociais e das várias crises económicas, os níveis mínimos de subsistência estavam garantidos à generalidade da população. Deste modo, o elemento material, condição necessária para a realização da festa, é um factor importante para a permanência da mesma. Na Terceira, foi na zona mais rica e produtiva da ilha, o chamado Ramo Grande, que as festas do Espírito Santo ganharam maior projecção e sumptuosidade.
 
3 - No século XVI, as festas do Espírito Santo começam a ser perseguidas pela Igreja. As práticas pagãs não eram aceites pela Contra-Reforma saída do Concílio de Trento e o poder eclesiástico iniciou uma ofensiva contra os "desmandos" vividos na época do Pentecostes.
 
Por todo o lado, terá havido resistência a essa intromissão, mas no continente, onde a Igreja se encontrava melhor organizada, era mais fácil actuar e controlar os comportamentos religiosos da população. Se tivermos em conta as dificuldades económicas sentidas na generalidade do país, é de admitir que, aos poucos, as festas do Espírito Santo, nuns casos tenham desaparecido, noutros tenham sido reconvertidas ou integradas noutras festas religiosas. Nos anos 80, assistimos à passagem de uma procissão numa localidade entre Vila Nova de Poiares e Coimbra, cujo cortejo era aberto por três foliões com bandeira, tambor e opas coloridas. Os símbolos da festa do Espírito Santo permaneceram, mas foram incorporado noutras cerimónias.
 
Nos Açores a situação é diferente. Os primeiros povoadores foram acompanhados pelos franciscanos que se encarregaram de promover as festas do Espírito Santo e a sua acção parece não ter assumido uma função repressiva face à liberdade ou liberalidade dos costumes, própria de uma sociedade que se foi estruturando livre do controlo da hierarquia da Igreja e demais autoridades tradicionais. Esse papel moralizador coube aos jesuítas que sofreram a animosidades da população desde a sua fixação no arquipélago. Os privilégios que lhes foram concedidos para exportar cereais originaram pequenos conflitos com o povo. O apoio dado pelos jesuítas à causa de Filipe II de Espanha desencadeou um dos episódios mais violentos contra a Igreja: durante um ano os padres jesuítas estiveram enclausurados no Colégio de Angra, a pão e água, acabando por ser expulsos antes da tomada da ilha pelas forças espanholas. Os conflitos entre franciscanos e jesuítas contribuíram também para que o clero se tornasse menos actuante e eficaz junto da população. Quando, no século XVI, se pretende iniciar a alteração dos rituais tradicionais de uma festa popular, a Igreja não está em condições de poder levar a cabo a sua missão e os seus agentes são contestados pelo povo. Nos séculos posteriores, a atitude do clero açoriano no geral é permissiva porque incorporou, pela sua vivência e educação, os valores da tradição popular.
4 - O período de maior perseguição a estas festas coincide com a dominação filipina, época em que chegaram a ser proibidos os bodos. Como é sabido, a ilha Terceira resistiu durante três anos a essa dominação, insurgindo-se contra os jesuítas e o Bispo, que foi obrigado a refugiar-se em S. Miguel. Quando os espanhóis vencem os terceirenses, a hierarquia da Igreja identifica-se com o invasor e a resistência à repressão sobre as festas do Espírito Santo assume, neste contexto, um conteúdo político. Deste modo, a defesa da permanência das festas reveste também a forma de uma resistência contra a dominação política e de afirmação da liberdade do povo para prosseguir com as suas tradições. Esta tensão contribuiu para o enraizamento da festa e talvez explique a razão por que está mais popularizada na ilha Terceira.
5 - No século XIX, as festas do Espírito Santo continuam a evidenciar sinais de forte vitalidade, porque em quase todas as ilhas os "triatos" de madeira desmontáveis foram substituídos por pequenos edifícios de pedra e cal. No final do século, e até à primeira Guerra Mundial, quando a crise económica atinge o arquipélago de forma mais profunda, a emigração desempenha um papel importante na manutenção da festa.
 
Nos finais do século, a emigração açoriana dirige-se maioritariamente para a América do Norte, enquanto a do continente se encaminha para o Brasil. Devido à devoção ao Divino Espírito Santo, os emigrantes açorianos fazem-lhe frequentemente promessas em troca de graças alcançadas. Muitos deles, devido à relativa facilidade de transportes, vêm de propósito à respectiva ilha pagar a promessa, trazendo consigo dinheiro e, sobretudo, a farinha que abundava na América a preços mais baixos. Outros, por sua vez, enviavam a farinha para os familiares, o que aliviava o sacrifício material do pagamento da promessa. Este movimento de importação era tão significativo que encontrámos na imprensa, no início do século XX, uma série de protestos contra as autoridades locais que pretendiam proibir a entrada de farinhas para a festa do Espírito Santo ou exigiam o pagamento de taxas elevadas.
 
As autoridades foram obrigadas a ceder e a emigração açoriana da América do Norte, com o seu auxílio material, foi um factor importante que contribuiu para a permanência das festas do Espírito Santo nos Açores, no referido momento de maior crise económica.
6 - Influenciada pela corrente saudosista, liderada por Teixeira de Pascoaes, que, desde 1912, procurava ressuscitar a Pátria Portuguesa, a elite açoriana procura também "reatar o fio da Tradição e do Passado", de forma a atingir a alma das camadas populares e despertar, assim, o "impulso da Grei". A descoberta do passado e a recuperação da tradição assumem, a partir de então, um papel ideológico importante.
 
Na imprensa surgem uma série de críticas à onda de universalismo que invadia as ilhas, responsável pela perda da identidade tradicional. Para travar todas estas alterações, desencadeia-se nas décadas de 20 e 30 um movimento revivalista, talvez mais intenso do que no resto do país, que visa preservar a alma açoriana e "açorianizar os Açores". As festas do Espírito Santo que vinham perdendo algum vigor, devido à crise económica e ao encerramento da emigração depois da I Guerra Mundial, e sofrendo algumas modificações próprias de uma sociedade em mudança, vão ser atingidas por esta onda revivalista dinamizada pelos intelectuais, onde se incluíam muitos membros da Igreja. Em vários jornais e revistas, muitos deles dirigidos pelo clero, surgem artigos descrevendo as festas tradicionais e apelando-se à recuperação da participação dos foliões que nalgumas localidades tinham desaparecido. Este movimento é, assim, responsável pela revitalização da festa que vai sendo defendia como um factor de identidade dos açorianos. Esta perspectiva mantém-se nos dias de hoje, dado que a Segunda-Feira do Espírito Santo foi escolhida pela Assembleia Regional, em 1980, como o dia da Região Autónoma dos Açores.
7 - A todos os factores apontados, que contribuíram para o enraizamento e permanência das festas do Espírito Santo, juntam-se evidentemente, os de ordem religiosa. Desde os tempos mais remotos que é notória uma fé muito profunda no poder do Divino Espírito Santo. Nos momentos de aflição, a Ele se recorre, nomeadamente por ocasião dos sismos ou erupções vulcânicas. Na nossa memória colectiva continuam vivas as histórias dos milagres do Espírito Santo como um apelo constante à Sua veneração. Mas, conjuntamente com essa fé, subsiste um medo terrível em relação ao Divino, que se exprime através de uma frase muito popular e muito enraizada: "com o Senhor Espírito Santo não se brinca".
 
Se a maioria dos açorianos acredita nos benefícios da intervenção do Divino também acredita nas vinganças por Ele executadas. Exemplifiquemos: uma pessoa prometeu ao Divino Espírito Santo uma determinada galinha em troca de um benefício alcançado. No dia do pagamento da promessa, dirige-se à capoeira e, em vez da galinha prometida, porque era a mais gorda, troca-a por outra. Castigo fatal: nesse dia, ou nos seguintes, a referida galinha morreu. Esta é, apenas uma das muitas histórias transmitidas de geração em geração, que funcionam como uma coação psicológica, impondo respeito e medo. A eficácia destas histórias e medos tem sido muito forte no seio de uma sociedade, até há bem pouco tempo, essencialmente rural, tradicional e supersticiosa. Este estádio psicológico tem sido responsável pela permanência da festa ao longo dos anos, levando as pessoas a participarem e a organizarem a mesma com receio de possíveis castigos do Divino.
5 - Causas da decadência
 
Os factores apontados contribuíram para que as festas do Espírito Santo se enraizassem e permanecessem nos Açores com maior intensidade que no resto do país. A repressão que a Igreja pretendeu exercer tornou-se ineficaz perante a resistência do povo e a complacência de uma boa parte do clero, imbuído das mesmas crenças populares. As alterações que se registaram ao longo dos séculos são mais uma consequência da evolução da própria sociedade do que um resultado directo das proibições da Igreja.
 
Nos finais do século XIX e no início do século XX, altura em que a civilização burguesa vai conquistando os espaços urbanos e penetrando mais lentamente nos meios rurais, a alteração dos costumes também atinge as festas do Espírito Santo. Em muitas freguesias os foliões foram desaparecendo e os excessos desencadeados com a sua acção no interior do templo sucumbiram por si. As filarmónicas passaram a acompanhar as coroações, dando-lhe o tom festivo, mas sem interferir nas cerimónias religiosas. Na casa dos imperadores continuaram a fazer-se bailes e outros jogos profanos, mas à medida que a sociedade criou outros espaços de convívio e diversão mais frequentes, o baile deixou de ser o grande motivo de atracção das noites em que se rezava o Terço. As festas do Espírito Santo foram sendo aos poucos, pela dinâmica da própria sociedade, depuradas de várias "atitudes de desrespeito" para com o sagrado, como resultado da própria evolução dos costumes e das práticas sociais.
Os anos sessenta do nosso século correspondem ao início do grande ponto de viragem da sociedade açoriana. Nesta década assiste-se à desarticulação das formas de solidariedade comunitárias que ainda subsistiam entre os camponeses. A partir dos anos setenta, modificou-se profundamente a estrutura da sociedade tradicional açoriana, com a diminuição da população activa ligada à agricultura e o crescimento acentuado do sector de serviços. Nos meios rurais, com a predominância da actividade pecuária, instalou-se o individualismo e muitas formas de solidariedade foram desaparecendo nestes últimos anos. Ao mesmo tempo, cresceram os índices de escolaridade e alfabetização em todo o arquipélago e os valores e padrões culturais da juventude açoriana, com uma maior abertura ao exterior por influência da televisão, têm sofrido uma forte aculturação.
As festas do Espírito Santo pelo seu forte enraizamento têm permanecido, mas a pujança e o entusiasmo vividos até aos anos sessenta sofreram um forte abalo. As "folias" com os bezerros enfeitados, música e cantoria, realizadas nas vésperas da "função", foram desaparecendo. A festa levada a efeito na 5ª feira de bodo, dia em que os carros de bois se engalanavam para ir buscar o vinho, também sucumbiu. Nos dias de hoje, o vinho é transportado em camionetas sem qualquer carácter festivo. Na maior parte das freguesias já não se realiza o bodo e as promessas individuais já não preenchem oito Domingos da quadra do Pentecostes. As elevadas despesas inerentes à realização de um "Função" e a mudança da mentalidade das pessoas, que já não estão dispostas a suportar sacrifícios e canseiras, têm contribuído para alterar a essência da festa do Espírito Santo. Muitas pessoas pagam a sua promessa individual, recebendo, apenas, o Espírito Santo em casa durante uma semana, realizam a coroação, mas já não oferecem o banquete nem as esmolas aos pobres. A atitude de repartir com os outros a riqueza vai sendo cada vez menos assumida. De uma forma nítida, os sentimentos individualistas vão ganhando terreno, transferindo-se para o Estado a responsabilidade da solidariedade para com os outros. A subida do nível de vida e as exigências de bem-estar já não se compadecem com as tradicionais formas de afirmação. Por outro lado, as festas do Espírito Santo vão sofrendo a concorrência de outras festas mais dinâmicas, mais emotivas e mais espectaculares em que cada um, individualmente ou em grupo, procura outras formas de exibição ou separação do outro. E por isso a rivalidade cada vez mais exacerbadas entre as festas levadas a cabo em cada freguesia ou cidades do arquipélago.
Apesar de todas estas alterações, em que são evidentes os sinais de decadência em relação a um passado muito recente, vão surgindo novos dados que revelam uma vontade de continuar com a festa. Há poucos anos, na freguesia de Vila Nova, ilha Terceira, o Centro de Convívio da terceira idade da freguesia assumiu, como instituição, realizar uma "função" para preencher uma vaga em aberto num dos oito Domingos destinados ao culto. Por outro lado, também na ilha Terceira, neste ano, um grupo de mulheres decidiu organizar a festa do Império do Canadá de Belém. É muito provável que o exemplo prolifere e, no futuro, o monopólio até aqui exercido pelos homens, possas ser compartilhado com as mulheres na organização da festa.
Independentemente do que possa vir a acontecer no futuro, parece evidente que, neste final de século, estamos numa fase de transição, com importantes alterações de forma e conteúdo nas tradicionais festas do Espírito Santo no Açores.
Carlos Enes