terça-feira, 7 de junho de 2011

Chondrostoma lusitanicum, Boga-portuguesa

Taxonomia
Actinopterygii,  Cypriniformes,  Cyprinidae.
 
Tipo de ocorrência
Residente. Endémica do Continente (bacias costeiras do centro e sul).
 
Classificação
CRITICAMENTE  EM  PERIGO  -  CR  (A2ce+3ce+4ce)
Fundamentação:  A  redução  da  espécie  nos  últimos  10  anos  pode  ter  atingido 80% do número de indivíduos maduros e prevê-se que possa continuar a verificar-se nos próximos 10 anos ou em qualquer período da mesma amplitude que abarque o passado e o futuro. As causas da redução embora geralmente compreendidas, não são reversíveis, nem cessaram. A avaliação da redução é baseada no declínio da qualidade do habitat e também na expansão de espécies não-indígenas.

Distribuição
Este endemismo ocorre nas pequenas bacias a norte do rio Tejo (Ribeiras de Samarra,  Cheleiros  e  Colares),  na  bacia  hidrográfica  do  Tejo  nos  afluentes  do  seu curso inferior, na bacia hidrográfica do Sado e nas pequenas bacias litorais entre o Sado e o Mira. Nas bacias hidrográficas do Tejo e Sado apresenta uma distribuição muito localizada e fragmentada. Em 2003 a espécie só foi detectada em 11 dos 81 locais prospectados nestas bacias (Fluviatilis 2003). Estes dados revelam uma  redução  da  área  de  ocupação,  já  que  não  foi  possível  confirmar  a  sua presença em algumas sub-bacias onde ocorria nas décadas de 80 e 90 (Collares-Pereira 1983b, Alves & Coelho 1994).

População
Calcula-se que o número de indivíduos maduros seja superior a 10.000. Esta espécie é ainda frequente e abundante na bacia hidrográfica da Samarra mas pouco frequente nas bacias hidrográficas do Tejo e Sado, embora possa ser localmente abundante. A redução da área de ocupação observada nestas bacias terá causado uma  redução  acentuada  do número  de  indivíduos  maduros.  Esta  tendência  de redução deverá continuar no futuro, já que o risco é acentuado pela distribuição fragmentada  que  dificulta  a  recolonização.  É provável  que  a  boga-portuguesa apresente flutuações acentuadas em anos hidrológicos extremos, tendo em consideração as flutuações observadas em espécies próximas do ponto de vista evolutivo e ecológico em rios com regimes hidrológicos análogos, nomeadamente na boga-de-boca-arqueada  Chondrostoma  lemmingii  na  bacia  hidrográfica do  Guadiana (Collares-Pereira  et  al.  2000a,  Tiago  et  al.  2001,  Collares-Pereira  et  al. 2002a)  e  na boga  do  Sudoeste  C.  almacai  na  bacia  hidrográfica do  Mira (Magalhães  2002).

Habitat
Ocorre  preferencialmente  em  pequenos  cursos  de  água.  Não  existem  estudos que permitam  identificar  as  suas  preferências  quanto  ao  habitat.  Não  existem registos da espécie em albufeiras (Ferreira & Godinho 2002).

Factores de Ameaça
Esta espécie tem regredido devido à degradação do habitat, provocada sobretudo pela implementação  de  infra-estruturas  hidráulicas,  regularização  dos  caudais, captação  de água,  extracção  de  inertes  e  degradação  da  qualidade  da  água  e ainda devido à introdução de espécies não-indígenas, a qual poderá ter efeitos a nível da competição, predação ou como via de disseminação de agentes patogénicos. O facto desta espécie apresentar uma distribuição circunscrita a pequenas sub-bacias  aumenta  a  sua vulnerabilidade  face  aos  factores  de  ameaça.

Medidas de Conservação
Esta espécie está abrangida pela legislação nacional e internacional de conservação. Vários locais foram designados para a lista nacional de sítios ao abrigo da Directiva Habitats devido à sua presença, entre outros valores, mas carecem ainda de medidas de ordenamento e gestão dirigidas à espécie. Esta espécie foi estudada quanto às suas características genéticas (Collares-Pereira 1983a,b, Alves & Coelho 1994, Rodrigues & Collares-Pereira 1996, Coelho et al. 1997b) e comportamento reprodutor (Carvalho et al. 2002), mas faltam outros estudos de biologia e ecologia importantes para definir medidas de conservação. Algumas acções de manutenção e conservação do habitat (nomeadamente na melhoria da qualidade da água) têm sido efectuadas mas necessitam ser reforçadas.

É necessária a preservação das zonas mais importantes para a espécie nomeadamente  na  bacia  hidrográfica da ribeira  da  Samarra,  a  recuperação  das  zonas mais degradadas e o controlo das espécies não-indígenas. As medidas para a recuperação dos habitats fluviais naturais previstas nos Planos de Bacia Hidrográfica dos rios Tejo e Sado e no das ribeiras do Oeste (INAG 2000a,d, 2001) e na Directiva-Quadro da Água deverão atingir a melhoria permanente da qualidade dos habitats aquáticos. Devem também ser minimizados os impactos de infra-estruturas hidráulicas implantadas ou a implantar, de modo a evitar uma maior fragmentação das populações e a manter os caudais mínimos, especialmente durante a época seca. Em particular, devem ser controladas as captações de água durante esta época,  nomeadamente  nos  pegos.  Outras  medidas  necessárias  são  o  controlo da extracção de inertes, a gestão sustentada da pesca e a melhoria da sua fiscalização e ainda a sensibilização do público para a conservação dos ecossistemas aquáticos. É necessário monitorizar os seus efectivos populacionais e a eficiência das medidas de conservação a implementar sendo também fundamental aumentar os conhecimentos sobre a sua biologia e ecologia.
 
Outra bibliografia consultada
Collares-Pereira  (1978,  1980);  Nelva  et  al.  (1988);  Collares-Pereira  et  al. (1995); Elvira  (1997).
in Livro Vermelho dos Vertebrados

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