Os jogadores de airsoft portugueses ainda estão em estado de choque, a 19 de Março de 2009 a Assembleia da República aprova uma alteração à Lei n.º 5/2006 que vem por em causa a forma como se pratica do airsoft em Portugal.
Para muita gente isso representou um sintoma de perseguição politica à nossa modalidade... Será? A revista espanhola ARMAS n.º 317 de Novembro de 2008, trás um artigo que creio representar, ainda no campo das armas, um exemplo claro do desfasamento entre o poder politico e a realidade do mundo das armas.
Recentemente tivemos acesso a um novo modelo de pistola de origem austríaca. O fabricante não é outro que a conhecida marca Glock e a arma em questão a G19.
Clássica entre os diferentes modelos que hoje constituem a ‘família’ de pistolas plásticas mais difundidas em todo o mundo e, com um tamanho que facilita o seu transporte tanto por pessoal uniformizado ou por quem confia nela para defesa ou uso geral, a ‘nova’ G19 inclui uma ‘mudança radical’ até agora inédita nas armas desta marca.
O botão que activa a nova segurança manual está localizado logo acima do botão da retenção do carregador. Ainda que redundante, a sua posição é óptima. |
A mesma refere-se à transformação do que foi o conceito original desenhado por Gaston Glock nos primeiros anos da década de oitenta, no século passado. O que foi desenhado então, há já quase trinta anos, foi uma semiautomática extremamente simples e segura, com um mecanismo automático que evitava qualquer manipulação adicional por parte do atirador para a sua activação ou desactivação. Carregada a arma, apenas tem de se pressionar o gatilho - que incorpora na sua parte central, uma alavanca que impede o seu accionamento se não for premida adequadamente – para realizar o disparo, mantendo sempre a máxima certeza de que não se fará fogo se não for de uma forma totalmente voluntária.
O desafio luso
Parece que em Portugal pensaram que esse mecanismo, que o fabricante chama de Safe Action pela sua configuração especial e simplicidade, não cumpria com o que os agentes dos seus corpos policiais necessitavam para cumprir as missões atribuídas. Por isso, decidiram adquirir a pistola “made in Áustria” mas com uma série de modificações, das quais vamos fazer eco nas linhas seguintes.
A que mais chama a atenção é o redesenho geral dos seus sistemas internos para acomodar um mecanismo de segurança adicional que se adiciona aos que, automaticamente, actuam sobre a agulha percutora para evitar que alcance a espoleta do cartucho que possa encontrar-se na câmara.
É assim a configuração das Glock 19 portuguesas. À vista simples nada chama a atenção, mas mesmo assim tem uma importante modificação em relação aos modelos clássicos. |
Depois dos estudos pertinentes, que não devem ter sido poucos, para manter a “reputação” internacional da Glock, desenharam uma modificação da configuração original, de forma que o atirador tem a possibilidade, se assim o desejar, de activar um bloqueio manual que complementa os já clássicos.
Colocou-se na armação, próximo do que retém o carregador na sua posição correcta, um dispositivo mecânico que actua sobre a biela que activa o pistão de bloqueio da agulha percutora. Depois do saque, ou acompanhando esse movimento, há que actuar sobre um botão situado no lado esquerdo com o dedo polegar, movimento que, em alguns casos e em função do tamanho da mão do utilizador, obrigará a parar um pouco o empunhamento. Então, a arma passa a funcionar como as anteriores versões, pois mantém-se a “segurança” no próprio gatilho, o que tem uma posição especialmente útil para facilitar o trânsito mais rápido e eficiente desde uma situação de segurança total àquela em que se realizam um ou vários disparos. No lado direito aparece então outro botão, com elementos de cor vermelha que dão aviso visual de que a arma está em disposição de poder efectuar fogo; são marcas localizadas na parte superior e anterior, para que os utilizadores as vejam com facilidade.
O catálogo normal do fabricante se acompanha de uma folha adicional em português, para que o utilizador conheça melhor a arma que lhe é entregue. |
Falámos com polícias em Portugal. No geral, aqueles com certa experiência com as armas ou os que trabalham em unidades de intervenção, comentaram-nos que essa transformação não era mais do que o resultado de uma “obsessão” dos responsáveis políticos que dirigem o Ministério do Interior português, pois a concepção original desse modelo o converte numa referência mundial em segurança e funcionalidade. Houve inclusive alguém que apontou a possibilidade de eliminar esse “acessório”, em que além de pouco funcional não encontrava qualquer acréscimo positivo no fim pretendido.
"Força de Segurança" num vistoso tom branco, está pintado no lado da corrediça. Identifica as novas armas destinadas a Portugal. |
Sem querer entrar em polémica, a verdade é que adicionar uma segurança manual a um sistema de seguro automático não é mais do que uma redundância que tem pouco a ver com as qualidades pretendidas para quem está sendo dotado com este modelo. Faz com que o funcionamento geral seja mais lento, pois requer-se mais algum tempo entre o saque e o disparo, além de adicionar um “problema” mais no caso de quem a use não se recorde de desactivá-lo no caso de uma situação com alto índice de stress. Se é verdade que para a maioria agentes lusos, que como em outras nações europeias, tem falta de um programa de formação intensivo e eficaz no manejo das armas curtas, vá supor-se mais uma vantagem do que uma desvantagem, pois é difícil que tenha de sacá-la no decorrer de uma operação ao longo da sua vida; para os seus “gestores”, supor-se-á uma “segurança” acrescida que evite um disparo involuntário, ainda que como contraposição também pode incidir em situações em que os agentes sejam atingidos por projécteis daqueles com quem se enfrentam.
As armas curtas que se estão distribuindo em Portugal incluem as siglas "LSU" nas suas marcações. |
A G19 adquirida para os polícias portugueses incorpora também outra modificação que pode considerar-se também mais do que um problema pontual. Foi prevista com um mecanismo de libertação do carregador ambidestro. Não é o clássico que pode colocar-se num lado e no outro para poder ser usado por destros ou canhotos. É um que liberta a retenção do carregador indistintamente se se pressiona o botão situado no lado esquerdo ou no direito, o que pode incidir em mais de uma situação em que, involuntariamente, se produza a extracção do carregador que acolhe os quinze cartuchos alojados no carregador standard deste modelo.
Em algumas unidades é especialmente útil o ponto de ligação situado na base do punho, para que a arma fique sempre "sujeita" por um fiador. |
Outro “ponto forte” que não é nada operacional é o que se refere à inclusão de um visível letreiro de cor branca, com o rótulo “Força de Segurança”, em ambos os lados da corrediça, mais adiantado no direito e centrado no esquerdo. É verdade que ajuda a identificar, ao quem posso lê-lo quando se encontra imerso numa situação “explosiva”, como Policia a quem emprega a arma, o objectivo que pode ter motivado a inclusão dessas frases pintadas sobre o acabado Tenifer clássico nas Glock. Também o é o facto que pode produzir algum reflexo nada discreto, sobretudo em situações em que o nível de luz seja baixo; outro detalhe refere-se ao facto de que pode chegar a afectar a arma gerando oxidações ou que acabe degradando-se com o uso continuado.
O botão da nova segurança integra-se bem neste modelo. É um "pequeno" detalhe que pode passar despercebido aos neófitos. |
Muitas dúvidas
Como o leitor terá podido observar, a chegada deste novo modelo parece trazer mais sombras do que luzes num conceito que já foi aprovado e validado, nos cenários mais difíceis. De momento, a realidade da entrada em serviço levou ao aparecimento de certos comentários negativos em relação com o que já explicamos acerca da segurança, botão de retenção e letreiro na corrediça.
O novo activador da segurança manual inclui, no seu lado direito, marcas de cor vermelha que avisam de que a arma está em posição de fogo. |
Pelo contrário, a sua chegada às polícias portuguesas será – e isto sim está mais do que claro – um avanço contundente no que é a sua potência de fogo, segurança de uso, portabilidade e, o que é mais importante, fiabilidade. Os primeiros exemplares entregues – muito poucos – foram-no faz agora um ano, numa cerimónia oficial que contou com a presença do Ministro Rui Pereira, responsável do Interior. Teve lugar nas instalações de Queluz e os destinatários foram tanto uniformizados da Polícia de Segurança Pública (PSP) como da Guarda Nacional Republicana (GNR), um corpo de carácter policial que, como a Guarda Civil espanhola, realiza tarefas de Segurança interior.
Desde então, as novas G19 vão chegando a conta-gotas aos utilizadores, ainda que nos últimos meses – no início de Setembro de 2008 teve lugar a recepção de um lote de 8.750 novas armas deste tipo –, se tenham intensificado as entregas a unidades tão representativas como o Regimento de Infantaria n.º 1, onde podemos aproximar-nos deste novo modelo usado por unidades de intervenção, anti-distúrbios, desactivadores, mergulhadores ou de salvamento multipropósito. Prevê-se que até 2012 estejam em serviço entre 42.000 e 50.000 pistolas. Outras do mesmo fabricante, já eram usadas por unidades especiais ou por outros corpos de Segurança, como a Polícia Marítima desde princípios de 2007.
As entregas, que contemplam exemplares fabricados nas instalações que a Glock tem na Áustria, vão permitir retirar catorze modelos que estavam em serviço na PSP e doze na GNR. Muito antigos e com “raridades” clássicas como as PP (Polizei Pistole) da Walther, incluíam armas de calibres como o 7,65 ou o 9 Curto, mudança que também vai permitir a homogeneização nos cartuchos usados e nos métodos formativos.
A compra, na qual se vão investir uns dezoito milhões de euros, é o fruto de um processo que se iniciou há um par de anos, quando se constatou da forma como o estado das armas curtas que se usavam era em mais de um caso lamentável. Estabeleceu-se um conjunto de especificações e abriu-se um concurso internacional. Na comissão formada para o efeito, incluíram-se técnicos e contou-se com o assessoramento dos responsáveis do Grupo de Operações Especiais (GOE, PSP) e Companhia de Operações Especiais (COE, GNR). Ao concurso apresentaram-se fabricantes alemães, israelitas, suíços e italianos.
Sabemos que em Março do ano passado tiveram lugar umas avaliações que contaram com a presença da ganhadora e das P30 e USP “Compact” da H&K, “Jericho” RSL da Israel Weapons Industries (IWI), Px4 “Storm” da Beretta e Pro 2022 da SIG-Sauer. Nas primeiras provas participaram especialistas da PSP e GNR procedentes de divisões de patrulha, trânsito ou investigação criminal; as avaliações complementares relacionadas com o uso, o preço ou a manipulação, estas últimas dirigidas por elementos do GOE e da COE.
Estas Glock incluem, também como novidade, um retém do carregador ambidestro. |
Modelo comum
No fim do processo se tomou a decisão que parece mais acertada, pois permitirá dar baixa de armas com muitos anos de serviço e normalizar a munição. Previu-se que os agentes receberiam uma nova pistola e a mantenham até que deixem o serviço, incidindo assim um maior interesse pessoal no seu cuidado e manutenção.
Agora mesmo está aberto outro concurso destinado ao coldre. De momento, foram-se entregando com os Safariland de vaso rígido e triplo dispositivo de retenção, ainda que possam optar por um novo modelo que seguramente não será tão eficaz mas mais económico.
Octavio Diez Cámara"
1 comentário:
De facto Portugal começa a investir mais nas competências técnicas das nossas polícias, (se bem que se esperam mais mudanças), de facto a G19 é um modelo com o qual me encontro familiarizado, mas a força da qual eu faço parte possui G19 com as 3 seguranças "standard", segurança do gatilho, segurança do percutor, e segurança do mecanismo de disparar, sendo que as mesmas, são na minha opinião, mais que suficientes para o desempenho das minhas funções em segurança, nunca tive de usar a arma em situações reais, mas estou certo que, tal como nas carreiras de tiro, é uma arma fiável, robusta, e muito segura, não havendo na minha opinião necessidade de incluir um botão de segurança. quando já existem 3. Penso que a Polícia hoje em dia deve andar, um passo á frente dos "maus" e não é a segurança extra que vai ser benéfica para o agente que estiver de frente para uma .40 ou .45 de um qualquer "mitra" no cumprimento do seu dever! Esta situação é fruto do facto de as decisões serem tomadas sem se consultar primeiro o pessoal realmente operacional, quem anda "entre a espada e a parede", o concurso para a aquisição das armas foi mal redigido, e a casmurrice ou a falta de operacionalidade de quem o fez, resultou numa pseudo-glock com patilha de segurança. O que acho incrível é que tenham sido fornecidos também os coldres safariland, e estes estejam a ser (na sua maioria) mal utilizados pelos agentes que os possuem, e digo isto pois já tive oportunidade de verificar por várias vezes que a maioria dos agentes que os possuem andam sem nenhuma segurança activada e isso é que é problemático, nos dias que hoje correm não acho que seja a melhor opção para assegurarem a sua integridade física. Sei no entanto que o momento do saque é um momento tenso e que deverá ser efectuado da maneira mais simples possível, por isso deixo aqui uma ideia para aqueles que por aqui passem, (que foi a solução adoptada por mim) podem retirar a primeira segurança do coldre (a patilha que impede a segunda patilha de ser empurrada para baixo), e ficar só com a patilha de segurança que está ligada à fita que impede o saque da arma, é claro que o saque será ligeiramente mais lento, mas se repararem após a libertação dessa segurança, a empunhadura fica perfeita e a probabilidade de acertarmos no que realmente queremos acertar é muito maior. Saudações.
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