sexta-feira, 2 de maio de 2014

Gestão de Cor — O Fluxo de Trabalho

Uma das questões frequentemente
esquecida é a visualização das imagens.
Uma boa alternativa é uma cabina de
visualização. Imagem cortesia de
Just-Normlicht.
Os resultados das imagens obtidas através de combinações de câmaras, ecrãs e impressoras, podem ter uma qualidade surpreendente, mesmo quando a cor não é controlada de forma nenhuma. Mesmo que as cores não sejam precisas, são pelo menos agradáveis, principalmente porque a maioria das câmaras e outros dispositivos foram projectados para mostrar e imprimir imagens dentro do espaço sRGB. De facto, a reprodução exacta de todos os tons para além dos tons de pele, não é importante para a maioria das pessoas. Se a flor amarela que foi retratada, permanecer amarela no ecrã e na impressão, isso é suficiente – ninguém se importa, ou é capaz de dizer que não é o mesmo tom de amarelo. No entanto, a fotografia é uma arte visual, e quando começar usar o formato RAW e outros espaços de cor, cedo começará a notar em características das cores, das quais nunca antes se tinha apercebido. Para muitas pessoas, a precisão de reprodução das cores torna-se muito importante.

À medida que prepara as imagens para serem exibidas em ecrã ou impressas, elas são movidas ao longo do fluxo de trabalho. Ao fazê-lo, raramente as cores de mantêm previsíveis e constantes. A imagem no ecrã é diferente da cena original, e a prova impressa é diferente das outras duas. Quando, mais tarde, partilhar as imagens com os seus amigos, elas também serão diferentes das suas, tanto no ecrã, como no papel. Para poder confirmar este facto, pode deslocar-se a uma loja de electrónica e reparar nas montras com os televisores, todos eles exibindo cores ligeiramente diferentes. Se publicar as suas imagens na Web, a sua aparência variará igualmente quando forem exibidas noutros ecrãs.

Os sistemas de gestão de cor (CMS – Color Management Systems) são projectados para ajudar a manter a consistência e a previsibilidade das cores, à medida que as imagens percorrem os vários passos do fluxo de trabalho. Apesar de não ser possível controlar os dispositivos das outras pessoas (ou mesmo os nossos próprios dispositivos, tais como o ecrã do televisor), é possível assegurar que as cores de uma imagem sejam, tanto quanto o possível, próximas da perfeição. Para conseguir esta consistência, um sistema de gestão de cor, ajusta as cores entre as várias gamas dos dispositivos. Por exemplo, as cores de uma imagem original, da sua reprodução num ecrã e da sua impressão podem pertencer a gamas distintas. É, no entanto, muito mais fácil usar os sistemas de gestão de cor, do que entendê-los, ou pagar por eles. Existem apenas dois passos – criar os perfis dos seus dispositivos e usar esses perfis para exibir ou imprimir imagens.

Começar a gerir as cores – criar perfis
O primeiro passo da gestão de cores é medir o desvio dos seus dispositivos, da norma ou padrão. Essas diferenças são medidas e guardadas em ficheiros de texto, chamados perfis, com a extensão .ICC ou .ICM. O sistema de gestão de cores usa a informação guardada nesses perfis para determinar os ajustes necessários para tornar precisas as cores no ecrã e na impressão. Existem vários tipos de perfis de dispositivos:

• Os perfis de imagens foram desenvolvidos para o sRGB ou outros espaços de cor. Estes perfis definem as cores de uma imagem de forma genérica e são integrados na imagem quando esta é capturada. Em alguns casos, estes perfis (ao contrário dos perfis de entrada discutidos mais à frente) são usados pelos sistemas de gestão de cor.

• Os perfis de entrada (input profiles) para câmaras digitais específicas estão repletos de complicações porque a câmara manipula fortemente as imagens JPEG e conversores RAW fazem o mesmo às imagens desse formato. A menos que esteja a fotografar numa situação muito controlada (num estúdio, por exemplo), é preferível usar o perfil de cor da imagem e não o perfil para a câmara.

• Perfis para ecrãs CRT ou LCD. Para criar um perfil para um monitor, é colocado, no ecrã, um dispositivo de medição de cor chamado espectro- fotómetro ou colorímetro. O programa de atribuição de perfis exibe então, no ecrã, várias cores conhecidas, enquanto o dispositivo de medição de cor lê cada um dos valores dessas cores. As diferenças entre os resultados conhecidos e os resultados da medição são guardados no perfil do ecrã. Alguns sistemas de gestão de cor permitem a criação de um perfil para o ecrã, visualmente, sem recurso a dispendiosos disposivos de medição de cor. Estes programas acompanham-no no ajuste de brilho, contraste e balanço de cores, para criar um perfil passo a passo. Apesar de não ser tão rigoroso como um perfil feito com um instrumento, é melhor que nada.

O Artisan Color Reference System
da Sony atribui perfis de cor
integrados em equipamentos
e programas.
• Perfis de saída para dispositivos, tais como impressoras e projectores. Para atribuir um perfil a uma impressora, é aberta uma imagem de um gráfico de cor, com valores de cores previamente conhecidos, que depois é impressa. Depois, é usado o colorímetro para ler cada uma das cores dessa impressão. O programa de criação de perfis compara os valores conhecidos e os valores obtidos na leitura de cada uma das cores e armazena os valores das diferenças no perfil do dispositivo.

As impressoras novas têm geralmente vários perfis criados pelo fabricante, para vátios tipos de papel. Como estes perfis são genéricos, aqueles que criar especificamente para a sua impressora serão muito mais rigorosos. No entanto, terá que criar um perfil para cada combinação que usar de tinta e papel. Apesar de inconveniente, este processo garante-lhe os melhores resultados que a sua impressora pode obter, sempre que use um papel ou uma tinta de outro fabricante.

Para simplificar o uso dos perfis, o ICC – International Color Consortium (Consórcio Internacional da Cor), definiu um formato amplamente aceite para que possam funcionar todos juntos. Isto torna possível mover imagens com perfis ICC integrados entre aplicações, equipamentos e sistemas operativos diferentes, mantendo a fidelidade da cor. Se uma determinada imagem não tem um perfil ICC integrado, é possível atribuir-lhe um perfil em aplicações como o Photoshop.

O sistema PrintFix, da ColorVision, disponibiliza
um alvo, que é aberto no computador, e
impresso. Depois, a impressão é digitalizada, e
as cores apresentadas são comparadas às
cores originais do alvo. As diferenças são
guardadas no novo perfil de cor da
impressora.
Uma maneira interessante de usar os perfis é num processo chamado soft proofing (pré-visualização da impressão). O objectivo deste teste é mostrar num ecrã a aparência que uma imagem terá, quando impressa num tipo de papel específico. Quando realiza este processo, o programa usa o perfil da impressora, normalmente usado como perfil de saída, como um perfil de entrada. Depois de este ser equiparado ao perfil de saída do ecrã, é obtida uma imagem que é uma aproximação à aparência que a fotografia terá quando for impressa.

Gestão de Cor – Usar os perfis
Quando uma imagem é transferida de um dispositivo para outro, são necessários um perfil de entrada e um de saída. Um perfil sozinho descreve um dispositivo, mas não o afecta. Os perfis que podem ser usados aos pares podem ser os seguintes:

• O perfil de cor de uma imagem, ou de entrada, é integrado na imagem pela câmara, ou pode ser integrado posteriormente numa aplicação de edição de imagem. Muitos programas de edição permitem também escolher um perfil de espaço de cor, que depois é associado ao perfil do ecrã.

Os sistemas de gestão de
cores usam um perfil de
entrada, um espaço de
correcção e um perfil de
saída para ajustar as cores
à medida que estas são
transferidas de um
dispositivo para outro.
• O perfil de cor do ecrã pode ser alterado, através do sistema operativo.

• O perfil de saída, geralmente referente a um tipo de papel, é especificado na caixa de diálogo de impressão, do programa de edição de imagem.

Assim que tiver especificado alguns perfis, o sistema de gestão de cor:

1. Procura, no perfil de entrada, cada um dos valores das cores existentes na imagem, e ajusta-os consoante as suas especificações.

2. Procura a cor ajustada num CMM – Color Matching Method (Método de Correspondência de Cores), que inclui um espaço de cor independente de dispositivos, tais como o CIE LAB, designado por espaço de conexão de perfis (profile connection space). Isto atribui-lhe um valor de cor independente de dispositivos, para usar no próximo passo.

3. Procura o valor da cor independente de dispositivos do CIE LAB, no perfil de saída e usa o ajuste para determinar o valor de cor a enviar para o dispositivo de saída.

Este processo em três passos, chamado rendering (rendição de cor), converte os valores das cores encontradas na imagem inicial, para os valores necessários para obter cores rigorosas na saída. Quando isto se processa, podem existir cores que um dispositivo pode reproduzir, que outro não consiga, por se encontrarem fora da sua gama. Quando isto acontece, o valor da cor de entrada é alterado para uma cor que exista na gama do dispositivo de saída. As regras que determinam este ajuste, quando são usados perfis ICC são conhecidas como objectivo de rendição.rendering intent. Pode ser escolhida uma de quatro rendering intents:

• O objectivo (intent) perceptual é o mais usado em fotografia digital e é baseado no facto de que os valores de cor relativos são mais importantes para o utilizador, do que os valores absolutos. Este objectivo (intent) ajusta toda a gama de cor de uma imagem, para corresponder à gama do dispositivo de destino. Até as cores que estavam dentro da gama são ajustadas, para que as relações entre as cores se mantenham e a aparência geral da imagem seja preservada.

• O objectivo (intent) colorimétrico vem em duas versões – relativo e absoluto (a diferença reside no facto do ponto branco ser ajustado, ou não). Em fotografia digital é usada por vezes a versão relativa, e o ponto branco do espaço de cor de origem é alterado para o mesmo tom de branco do papel, para que os brancos da imagem original, se mantenham brancos na saída. Isto pretende manter uma relação exacta entre cores dentro da gama, mesmo que exclua as cores fora da gama. Em contraste, a rendição de cor perceptual, tenta preservar alguma relação entre as cores fora da gama, mesmo que disto resultem algumas incorrecções nas cores dentro da gama. Se usar a rendição colorimétrica para fazer conversões para espaços de cor mais pequenos, pode ocorrer banding, posterização ou outros efeitos indesejáveis.

• O objectivo (intent )de saturação está projectado para produzir cores saturadas sem tentar ser preciso na sua reprodução. Este objectivo nunca é usado em fotografia digital, mas é a melhor opção quando se imprimem gráficos circulares e outras cores sólidas presentes em gráficos empresariais.

Os perfis de cor no Photoshop
Quando o perfil de cor de uma imagem que é aberta no Photoshop não corresponde ao perfil definido no computador, são-lhe dadas várias opções:

• Usar o perfil de cor integrado (em vez do perfil do computador)

• Converter para o perfil de cor do computador.

• Descartar o perfil de cor integrado e não gerir a cor.

Em vez de escolher um perfil de cor às cegas, pode seleccionar a última opção de descartar o perfil integrado. Quando a imagem é aberta, é possível usar o comando Edit (editar)> Assign Profile (atribuir perfil) para lhe atribuir outros perfis, e verificar qual é que obtém o melhor efeito nas cores. Quando por fim, guardar a imagem, pode integrar o novo perfil de cor na imagem.


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