terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Gyps fulvus, Grifo


Taxonomia
Aves, Accipitriformes, Accipitridae.
 
Tipo de ocorrência
Residente.
 
Classificação
QUASE AMEAÇADO - NT* (D1)
Fundamentação: Espécie com população reduzida (inferior a 1.000 indivíduos maturos).

Na adaptação à escala regional desceu uma categoria, por se admitir que a população em Portugal poderá ser alvo de imigração significativa das regiões vizinhas e por não ser previsível que essa imigração venha a diminuir.

Distribuição
Espécie com distribuição essencialmente Paleártica, que apresenta na Europa uma área de nidificação alargada (BirdLife International 2004). Nidifica ainda na região montanhosa de Marrocos, Península Arábica, Turquia e Cáucaso (del Hoyo et al. 1994). A espécie é essencialmente residente, mas algumas aves (sobretudo juvenis e imaturos) realizam movimentos migratórios pós período reprodutor para África (região subsariana) e península Arábica e norte do subcontinente indiano (Tucker & Heath 1994).

Em Portugal, a maior parte da população nidificante de grifos encontra-se confinada aos vales alcantilados do Douro e Tejo superiores e seus afluentes, havendo também alguns casais nas cristas quartzíticas serranas da região de Vila Velha de Ródão, Proença-a-Nova, Serra de Penha Garcia e Serra de S. Mamede. Em 1999 registou-se uma tentativa de nidificação na zona de Barrancos, onde a espécie não nidificava há várias décadas (Berliner et al. 2001). As aves não reprodutoras surgem numa área mais vasta, onde aparentemente há disponibilidade de alimento, nomeadamente na região de Castro Verde e em toda a faixa fronteiriça desde Barrancos até Montesinho (ICN dados não publicados).
 
População
De acordo com o último censo da espécie, realizado em 1999, Portugal possui um total de 262-272 casais nidificantes, que se distribuem por 31 colónias e 14 casais isolados (Berliner et al. 2001).

O grifo em Portugal apresentou um claro aumento populacional entre os censos de 1989 e de 1999, acompanhado de uma ampliação da sua área de distribuição. A população portuguesa teve um incremento superior ao triplo entre os dois censos. Em termos de distribuição o incremento não foi proporcional, sendo apenas ligeiro na região nordeste enquanto que na Beira Baixa assumiu maior proporção (Berliner et al. 2001). De 1999 em diante, o incremento e expansão da espécie abrandaram, mantendo-se a população relativamente estável desde então (Pacheco C, Monteiro A & Berliner A dados não publicados). A espécie não instalou ainda núcleos estáveis a sul do Tejo (Berliner et al. 2001).

A nível europeu a espécie é considerada como Não Ameaçada, embora sejam referidos alguns declínios populacionais recentes na Turquia e no Cáucaso (BirdLife International 2004). Em Espanha o grifo está classificado como Pouco Preocupante (LC) (Madroño et al. 2004), sendo referida uma tendência populacional positiva para esse país (Martí 2003).
 
Habitat
No nosso país o seu habitat de nidificação corresponde exclusivamente a escarpas rochosas de grande dimensão, associadas a barrancos fluviais ou cristas montanhosas.

Faz o ninho em saliências ou pequenas cavernas nas escarpas. Os ninhos de anos anteriores são geralmente reutilizados em anos sucessivos (Cramp & Simmons 1980). Em Portugal, o seu habitat de alimentação corresponde a campos desarborizados ou com árvores esparsas, aproveitados para a pecuário extensiva, como matos esparsos, cerealicultura extensiva de sequeiro e também montados de sobro e azinho.

Factores de Ameaça
Pacheco et al. (1999) e Berliner et al. (2001) identificaram a morte por envenenamento devido à utilização de iscos envenenados para eliminar predadores de espécies pecuárias ou cinegéticas como o principal factor de ameaça para o grifo, por se tratar de uma ave necrófaga, gregária e muito dependente da disponibilidade de cadáveres. Recentemente, em Idanha-a-Nova, em Novembro de 2003, 33 grifos foram encontrados mortos por envenenamento comprovado, não sendo raros os casos de indivíduos que dão entrada em centros de recuperação com sintomas de intoxicação.

Prevê-se que o incremento das exigências higieno-sanitárias, nomeadamente a obrigação de enterrar ou recolher os cadáveres dos animais de criação, venha num futuro próximo a conduzir a uma redução da disponibilidade trófica. A diminuição do aproveitamento pecuário extensivo de ovinos, caprinos e bovinos e a rarefacção dos animais de carga e tracção devida à modernização agrícola resultam também em redução da disponibilidade alimentar.

A degradação dos habitats de nidificação e/ou alimentação devido à construção de infra-estruturas diversas (barragens, parques eólicos, estradas), instalação de regadios, arborização para produção lenhosa intensiva e actividade de extracção de inertes, constituem outras ameaças relevantes.

A perturbação humana em zonas de nidificação e durante os períodos mais sensíveis, provocada por actividades agro-silvícolas, cinegéticas, de turismo e lazer, conduz a uma redução da produtividade ou mesmo ao abandono dos locais de nidificação.

A colisão e electrocussão em linhas aéreas de distribuição e transporte de energia é outra causa preocupante de mortalidade não natural, uma vez que espécie utiliza frequentemente apoios  eléctricos  como  poiso  e  dormitório.

Também a perseguição humana, através do abate a tiro e da pilhagem de ninhos constituiu um factor de mortalidade nesta espécie.

Medidas de Conservação
Para  manter a população e aumentar a área de distribuição desta espécie em Portugal identificam-se as seguintes medidas:
- implementar um programa nacional de erradicação do uso de venenos;
- aumentar a disponibilidade alimentar associada às explorações gro-pecuárias, através da criação e gestão de campos de alimentação de aves necrófagas;
- promover a manutenção e valorização do mosaico agro-florestal e a pecuária extensiva, através de aplicação de programas de Medidas Agro-Ambientais nos principais núcleos da espécie que minimizem a perda e degradação do habitat;
- aumentar a eficácia dos meios e esforços de fiscalização e vigilância nas áreas de nidificação durante os períodos mais sensíveis;
- compatibilizar a gestão cinegética com a conservação da espécie, promovendo uma gestão correcta da caça maior através do estabelecimento de protocolos e da implementação de manuais de gestão ambiental;
- proibir ou condicionar a instalação de traçados eléctricos, parques eólicos, estradas, albufeiras e outras infra-estruturas nas zonas importantes para a espécie (nidificação, invernada/dispersão);
- interditar/condicionar as actividades recreativas e o turismo nas áreas de maior sensibilidade para a espécie;
- corrigir e sinalizar traçados e apoios da rede de distribuição de electricidade que sejam muito perigosos para a espécie e monitorizar o impacte das linhas eléctricas de transporte de energia sobre os núcleos mais importantes da espécie;
- estabelecer sistemas eficazes de monitorização da população nas áreas problemáticas e/ou especialmente importantes para a população nacional;
- desenvolvimento de campanhas de sensibilização junto a caçadores, guardas e
gestores de caça, agricultores, pastores e público em geral, nas áreas de ocorrência da espécie a par com a intensificação das acções de fiscalização e de aplicação efectiva da lei. Nomeadamente, importa realizar uma campanha nacional de sensibilização e educação ambiental da população rural relativamente às aves de rapina.

in Livro Vermelho dos Vertebrados


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