terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Hieraaetus fasciatus, Águia-perdigueira, Águia de Bonelli


Taxonomia
Aves, Accipitriformes, Accipitridae.

Tipo de ocorrência
Residente.

Classificação
EM PERIGO -– EN (D1)
Fundamentação: Espécie com população muito reduzida (entre 50 e 250 indivíduos adultos).

Distribuição
Esta espécie ocorre nos países europeus mediterrânicos, noroeste de África, sudoeste e sudeste da Arábia, Paquistão, Índia, norte da Indochina e sul da China  e ainda nas pequenas Ilhas de Sonda (de Sumbawa a Timor) (Sibley & Monroe 1990, del Hoyo et al. 1994).

Em Portugal a águia-de-Bonelli ocorre numa porção considerável do território continental, que compreende as serras do sudoeste, parte do Alentejo, da Estremadura e das Beiras interiores e ainda Trás-os-Montes (Palma et al. 1999a; ICN dados não publicados).

Salvo nas serras do sudoeste e no Tejo e Douro internacionais, distribui-se de um modo bastante disperso na maioria da sua área (Palma et al. 1999a; ICN dados não publicados).

Nos últimos 10-15 anos houve algum declínio da sua extensão de ocorrência, tendo sido abandonados vários territórios na costa rochosa do sudoeste (Palma et al. 1999a), e nalgumas localidades de Trás-os-Montes (Fráguas 1999).

População
Em 2000 a população nacional foi estimada em 77-80 casais (Pais 2000), mas na actualidade deverá ultrapassar esse valor dado que se encontra em expansão contínua no Alentejo e nas serras do sudoeste (L Palma & MC Pais, com. pess.). Os maiores e mais densos núcleos da espécie situam-se no nordeste (Trás-os-Montes e Beira Alta) e nas serras do sudoeste (de Grândola ao Caldeirão), existindo, globalmente, cerca de 30% de casais com territórios internacionais (Palma et al. 1999b, Pais 2000).

Em 1998 a população nacional tinha sido estimada em 77-79 casais (Palma et al. 1999a), o que indica uma aparente recente estabilidade ou um muito ligeiro aumento populacional. Note-se, no entanto, que esta tendência se deve em certa medida a uma questão aritmética, pois o número de casais que desapareceu nalgumas regiões ou núcleos foi simplesmente compensado por muitos dos novos casais que se instalaram noutros núcleos. Com efeito, excepto nas serras do sudoeste e Baixo Guadiana, cujas subpopulações ou núcleos estão em expansão a uma taxa de 1-2 casais/ano (Palma et al. 1999b, L Palma, com. pess.), a restante população de águia-de-Bonelli em Portugal encontrava-se, em 1999-2001, em ligeiro declínio nas bacias do Douro, Tejo e Sado (Inácio et al. 1999a, Palma et al. 1999b, Pais 2000, Fráguas et al. 2001). Nos últimos 10-15 anos verificou-se o desaparecimento de pelo menos 15 casais, ou seja 15% da população (Palma et al. 1999a).

Em termos de estatuto de ameaça a nível da Europa, a espécie é considerada Em Perigo, apresentando um população muito pequena e em declínio (BirdLife International 2004).

Habitat
Tal como é característico da espécie no Paleárctico, parte da população portuguesa, principalmente a residente a norte do rio Tejo, está fixada nos vales encaixados de ribeiras e rios mais importantes, em particular nas bacias do Douro e Tejo. Nestas regiões instala os seus ninhos principalmente em escarpas e noutros afloramentos rochosos e caça nos terrenos agro-pastoris, montados de azinho e matagais das redondezas (Fráguas 1999). Contudo, no sul e nomeadamente nas serras do sudoeste, existe uma população que ocupa habitats florestais ou de matagal arborizado e que nidifica maioritariamente em árvore – grandes sobreiros e eucaliptos (Palma et al. 1999a, L Palma, com. pess). A nidificação em árvore repete-se, aliás, com bastante frequência nas planícies alentejanas e na parte sul da bacia do Tejo, por norma em cursos de água onde a espécie tem à sua disposição tanto escarpas como eucaliptos e pinheiros-bravos grandes para nidificar, rodeados por cerealicultura extensiva, pastagens, pousios, matos e montados (Inácio et al. 1999b, MC Pais, com. pess.).

Os juvenis e os adultos não reprodutores concentram-se em áreas preferenciais (áreas de assentamento) localizadas principalmente no sul de Portugal, constituídas sobretudo por cerealicultura extensiva e, em menor grau, por zonas húmidas (Pais 2000).

Factores de Ameaça
De entre as ameaças mais importantes a esta espécie contam-se a alteração ou degradação de habitat, provocadas, por um lado, por arborizações localmente desadequadas que restringem o habitat de caça e alteram o habitat de nidificação (com implicações na produtividade) ou, por outro, pelos incêndios florestais e pelo corte ou a morte (por doenças e pragas) de sobreirais e de grandes sobreiros e eucaliptos, que constituem um importante substrato de nidificação da espécie no sul do país (Palma et al. 1999a, Pais et al. 2003, L Palma & MC Pais, com. pess.).

A perturbação dos locais de nidificação, a perseguição através do abate directo, a escassez de recursos tróficos e a elevada mortalidade provocada por electrocussão em linhas de transporte de energia eléctrica são outras ameaças importantes (Inácio et al. 1999a, Palma et al. 1999b, Pais et al. 2003).

A morbilidade e a mortalidade juvenil motivada por doenças, em particular a Tricomoníase, que resulta do consumo de pombos domésticos infectados, motivam preocupação e têm especial incidência nas serras do sudoeste (Palma et al. 1999b, Pais et al. 2003).

Finalmente, tal como sugerem Inácio et al. (1999c), há a mencionar as alterações climáticas globais. Com efeito, a prosseguirem, estas poderão afectar a produtividade e distribuição desta águia, uma vez que estes autores encontraram uma associação negativa entre a probabilidade da sua ocorrência no país e a quantidade de precipitação em Fevereiro, que nalgumas regiões tem mostrado uma tendência para aumento nesse período, que é crítico para a espécie visto coincidir com o seu período de incubação.

Medidas de Conservação
As medidas de conservação para esta espécie prendem-se com (Pais et al. 2003):
  • gestão do habitat, tendo em vista a conservação dos territórios e o aumento dos recursos tróficos, através de um reordenamento e gestão ecologicamente sustentados da floresta portuguesa; a incorporação de medidas específicas no Manual de Boas Práticas Florestais, com vista à conservação do habitat desta e de outras espécies ameaçadas que habitam zonas predominantemente florestais;
  • vigilância e condicionamento de actividades e projectos que possam destruir ou degradar o habitat nas imediações dos ninhos ou causar perturbação que ponham em causa sectores da população ou mesmo casais individuais; reforço da  vigilância, aumento das penalizações e aplicação da lei mais efectiva de modo a minimizar ou erradicar o abate a tiro, a destruição e o espólio de ninhos.
  • correcção de troços de linhas de transporte de energia eléctrica e de parques eólicos em áreas sensíveis;
  • estudo da Tricomoníase e tratamento de crias infectadas;
  • monitorização regular da população e de outros parâmetros demográficos da espécie;
  • desenvolvimento de campanhas de sensibilização junto a proprietários e gestores agro-florestais e cinegéticos, bem como da restante população.
Notas
Em Sagres, durante as campanhas de observação de 1990, 1992 e 1994 foram observados anualmente entre 5-10 juvenis ou imaturos, que se pensa tratarem-se de indivíduos em dispersão, possivelmente provenientes dos casais que nidificam nas regiões vizinhas (Tomé et al. 1998).

in Livro Vermelho dos Vertebrados


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