terça-feira, 12 de março de 2013

Coracias garrulus, Rolieiro

Taxonomia
Aves, Coraciiformes, Coraciidae.

Tipo de ocorrência
Estival nidificante.
 
Classificação
CRITICAMENTE EM PERIGO - –CR (C2a(ii))
Fundamentação: Espécie com população que se admite poder ser inferior a 250 indivíduos (estimada em 80-150 casais) e em declínio continuado, inferido a partir do declínio do habitat e também de situações locais conhecidas, admitindo-se que todos os indivíduos estão concentrados a uma única subpopulação.

Distribuição
Distribui-se como reprodutora pelo Paleártico, desde o Noroeste de África e Península Ibérica a Oeste dos Himalaias) e inverna na África subsariana (Tucker & Heath 1994, del Hoyo  et  al.  2001).

Em Portugal, a espécie apresenta uma distribuição algo fragmentada, podendo falar-se de três núcleos populacionais principais: Castro Verde, Vila Fernando/Elvas e Beira Baixa. Reproduz-se ainda, em número reduzido, na zona de Moura/Mourão, Monforte e Cuba (ICN dados não publicados). Aparentemente ter-se-á extinguido recentemente na zona de Évora e da Beira Alta/Trás-os-Montes e Alto Douro (Rufino 1989, ICN dados não publicados), pelo que se pode afirmar que a área de distribuição está a sofrer uma contracção significativa.

População
Em Portugal, a informação sobre distribuição e abundância é muito escassa em algumas regiões. No período de 1978-84, Rufino (1989) estima grosseiramente a população em 100 a 1000 casais. Em 2003, a SPEA consultou diversos ornitólogos com bom conhecimento das áreas de ocorrência e obteve uma estimativa de 100 a 300 casais (in BirdLife International 2004). Em 2004, efectuaram-se censos parciais em algumas áreas, ainda provisórios, que sugerem uma nova estimativa, menos ampla, que aponta para 80 a 150 casais (Silva 2003, I Moreira, C Pacheco & J Silva, com. pess.).

Apesar da clara falta de dados populacionais fiáveis, observa-se em algumas regiões (Beira Alta/Trás os Montes e Alto Douro, Beira Baixa e Alto Alentejo) um declínio continuado do seu habitat (por abandono das praticas agrícolas tradicionais, alteração de culturas e intensificação agrícola) pelo que se infere que a população se encontra em declínio. Esta tendência parece confirmada pelas observações de campo em alguns locais, cujo acompanhamento sugere declínio desta ave, nomeadamente na região da Beira Alta/Trás-os-Montes e Alto Douro (onde provavelmente se extinguiu), da Beira Baixa e do Alto Alentejo (A Monteiro, C Pacheco & JP Silva, com. pess.).

Em termos de estatuto de ameaça a nível da Europa, a espécie é considerada Vulnerável, tendo sofrido possivelmente um declínio recente acentuado (BirdLife International 2004).

Habitat
Na Beira Baixa frequenta áreas planas e abertas com árvores dispersas ou pequenos bosquetes de carvalho-negral Quercus pyrenaica e também montados de sobro Quercus suber e azinho Quercus rotundifolia esparsos. Utiliza principalmente pastagens, pousios, zonas incultas com matos esparsos e terrenos de cerealicultura extensiva. Nesta região, nidifica em árvores velhas com cavidades e também em antigos ninhos de picapau-malhado-grande Dendrocopus major, quer em árvores quer em postes telefónicos; os ninhos em habitações abandonadas são muito raros (C Pacheco, com. pess.).

Nas áreas de Castro Verde e Vila Fernando (Elvas) o habitat do rolieiro é caracterizado fundamentalmente por um mosaico de cerealicultura extensiva em sistema rotativo (campos cultivados e lavrados, pousios, etc.) e pastagens, com árvores (principalmente azinheiras, sobreiros e oliveiras Olea europaea) e habitações abandonadas dispersas, onde nidifica (Silva 2003, I Moreira, com. pess.). Nestas regiões, o número crescente de construções humanas abandonadas parece estar a beneficiar a espécie (I Moreira, com. pess.).

Observa-se em algumas regiões, nomeadamente Beira Alta/Trás os Montes e Alto Douro, Beira Baixa e Alto Alentejo, um declínio continuado do seu habitat devido a abandono agrícola, intensificação agrícola por substituição das práticas agrícolas tradicionais por culturas de regadio e florestações de áreas de uso extensivo.

Factores de Ameaça
As principais ameaças para o rolieiro são a perda e fragmentação do seu habitat, devido a intensificação agrícola (e.g. transformação de sequeiro em regadio, supressão da rotatividade cultural, aumento da utilização de agro-químicos, substituição de culturas tradicionais por outras não adequadas), florestação de terrenos agrícolas, abandono agrícola (com consequente desenvolvimento de matagais) e do pastoreio extensivo (Tucker & Heath 1994, C Pacheco, com. pess., JP Silva, com. pess., S Infante, com. pess.).

A perturbação humana junto dos locais de nidificação pode levar ao abandono das posturas ou das crias. A predação e a pilhagem dos ovos e das crias são também factores negativos.

Outra ameaça relevante é a perda de suportes de nidificação, por obstrução ou destruição das cavidades em construções humanas, ou por corte (geralmente devido à morte induzida por fungos do género Phytophora sp. ou por incêndios) e queda de árvores maduras.

Também a competição inter-específica pode contribuir para uma redução dos locais de nidificação adequados. A escassez de locais de nidificação, parece ser um factor limitante importante, pelo menos na região da Beira Baixa (C Pacheco, com. pess.).

Há ainda a referir a mortalidade não natural, causada por electrocussão em linhas de transporte de energia eléctrica (S Infante, com. pess.), embora a magnitude deste fenómeno seja desconhecida.

Medidas de Conservação
As medidas de conservação mais prioritárias são as que levem à preservação dos habitats de alimentação e de nidificação. Neste sentido, importa nomeadamente: informar os agricultores das áreas agrícolas extensivas de sequeiro sobre os incentivos existentes para a manutenção desses sistemas; criar novos incentivos de modo a melhorar a adesão dos agricultores; promover a agricultura biológica; criar mecanismos que impeçam utilização de outros subsídios com efeitos negativos sobre aqueles habitats (e.g. florestação de áreas pseudo-estepárias); manutenção de construções humanas em ruínas e, quando possível, criar cavidades que favoreçam a nidificação e sejam de difícil acesso a predadores; colocar ninhos artificiais em áreas onde estes sejam um recurso limitado. A espécie beneficiaria com a classificação de mais áreas com características estepárias.

Será necessário também reduzir a mortalidade por electrocussão, corrigindo as linhas identificadas como perigosas e criando normas para a construção de novas linhas que reduzam a probabilidade de electrocussão.

Por outro lado, é importante implementar um programa de monitorização da espécie bem como promover uma campanha de informação para a comunidade rural e a população em geral sobre os valores naturais das áreas agrícolas extensivas de sequeiro e sobre as necessidades de conservação das espécies delas dependentes.

in Livro Vermelho dos Vertebrados

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