Taxonomia
Aves, Accipitriformes, Accipitridae.
Tipo de ocorrência
Residente.
Classificação
VULNERÁVEL . VU (D1)
Fundamentação: População reduzida (inferior a 1.000 indivíduos maturos).
Distribuição
A área de distribuição desta espécie é muito vasta, estendendo-se de um modo contínuo por grande parte do Holárctico (del Hoyo et al. 1994). O açor distribui-se por uma área bastante grande em Portugal continental, a qual deverá ser superior àquela que é evidenciada no atlas de Rufino (1989) ou no Novo Atlas (ICN dados não publicados).
Este facto deve-se à dificuldade da metodologia dos atlas em representar a dispersão real no terreno de algumas espécies, nomeadamente as aves florestais de comportamento mais discreto, devido à sua metodologia, poucas e curtas visitas às quadrículas, sem esforço especialmente dirigido a espécies deste tipo. No Centro e Norte do país a distribuição do açor é mais contínua da que vem representada nos atlas e tem uma população mais densa. A espécie também existe em largas áreas do Sul (Alentejo e serras algarvias), embora a sua presença aqui seja bastante mais dispersa, bem como a sua densidade (Palma et al. 1999a), encontrando-se ausente nalgumas regiões.
População
Tal como para grande parte das aves de rapina florestais do país, nunca se fez um censo específico e completo para esta espécie a nível nacional, com base em amostragem e metodologia apropriadas. A única estimativa existente é a de Palma et al. (1999a), a qual apontava para uma população de 200-300 casais, que se pensa estar em declínio, devido à destruição e escassez crescente do seu habitat preferido, os pinhais bravos de alto-fuste. Atendendo à grande perda de pinhal que se tem verificado nos últimos anos devido aos incêndios florestais e que em 2003 tiveram uma incidência particularmente grave, é provável que uma parte não desprezável da população indicada por Palma et al. (1999a) tenha sido directamente afectada.
Em termos de estatuto de ameaça a nível da Europa, a espécie é considerada Não Ameaçada, embora se apresente em declínio em alguns países europeus (BirdLife International 2004).
Habitat
No sul de Portugal o açor encontra-se quase sempre nos barrancos arborizados de cursos de água, mas nalgumas zonas, como na Comporta, cria também em pinhal-bravo e terrenos planos. No centro e norte do país o principal habitat de nidificação do açor é composto por pinhais-bravos adultos e possuidores de árvores de grande porte, por bosques e bosquetes de folhosas autóctones (e.g. carvalhais maduros) e, por vezes, em eucaliptais. Circundantes às formações arbóreas onde nidifica, encontram-se terrenos abertos de mato, culturas agrícolas e pastagens (Rufino 1989, Pimenta & Santarém 1996, Silva 1998), onde tende a caçar perto das orlas. Evita as paisagens demasiado compartimentadas ou demasiado contínuas (Rufino 1989), mas em áreas predominantemente florestais, como a região de Mira ou o Pinhal de Leiria (onde a cobertura pinhal é superior a 85%), quantificaram-se ainda assim densidades de açor da ordem dos 4-5 casais (Petronilho 2001a) e 2-3 casais (Onofre et al. 1999) por 100 km2.
Os incêndios florestais, mas também a sua reconversão para eucaliptal de curtas rotações, têm provocado um declínio acentuado do habitat principal do açor, o pinhal-bravo, em particular aquele constituído por arvoredo mais maduro, com 40-50 anos. De acordo com as revisões do inventário florestal (DGF 2001), a área de pinheiro-bravo declinou, entre 1964 e 1995, em 323.000 ha. Este declínio em área tem continuado, sendo de realçar os 260.000 hectares de matas que terão sido destruídos em 2003, ano em que a área ardida foi 4 vezes superior à média anual verificada entre 1980 e 2004 (DGRF 2005).
Factores de Ameaça
Os incêndios florestais que destroem áreas mais ou menos vastas de pinhal e outro arvoredo maduro são a principal ameaça para o açor em Portugal. A par com este factor de destruição, a reconversão para eucaliptal de curta rotação das antigas manchas de pinhal das serras da região Centro limita grandemente a adequação do habitat para efeitos de nidificação. Com efeito, salvo alguns exemplares de grande porte, a maioria dos eucaliptos e em particular os das plantações florestais, devido ao tipo de inserção e à fragilidade dos seus ramos, não providenciam as melhores condições para o suporte de ninhos de grandes dimensões e aqueles que neles são construídos caem com alguma facilidade aquando de ventos mais fortes (González 2004, Onofre N dados não publicados). O corte de povoamentos ou árvores onde a espécie nidifica, a perseguição através do abate directo, destruição de ninhos e o roubo de crias são outros factores que afectam a população portuguesa.
Por se tratar de um predador essencialmente ornitófago, o açor é uma espécie potencialmente sensível aos efeitos dos pesticidas e metais pesados, que poderão afectar o sucesso reprodutivo. Por outro lado, sendo o pombo (nomeadamente o doméstico Columba livia var. domestica), uma presa muito frequente na sua dieta (Petronilho & Vingada 2002), é provável que se verifique alguma morbilidade e mortalidade em resultado de Tricomoníase e Candidíase na população portuguesa. Por exemplo, na região de Mira, foram detectados juvenis no ninho infectados com Tricomoníase (J Petronilho, com. pess.).
Medidas de Conservação
As medidas de conservação para esta espécie prendem-se fundamentalmente com as políticas florestais de reordenamento, gestão e repovoamento florestal e de prevenção de incêndios. Importa promover espaços florestais diversificados, tanto ao nível dos cobertos arbóreos como de outros, e prevenir a ocorrência dos grandes incêndios florestais. Adicionalmente, o Manual de Boas Práticas Florestais deverá incorporar num futuro próximo medidas com vista à conservação das aves de rapina e do seu habitat, para além de outros valores naturais.
Deve ainda ser dinamizada a reflorestação com folhosas naturais e a conservação dos bosques e bosquetes de carvalhos (puros ou mistos), através da sensibilização ao recurso generalizado às Medidas Agro-Ambientais apropriadas. A reconversão para eucaliptal das antigas áreas de pinhal deve ser desencorajada, não devendo a rearborização com pinheiro-bravo deixar de ser apoiada.
Devem ser desenvolvidas campanhas de educação ambiental junto aos proprietários e gestores florestais e cinegéticos, madeireiros, resineiros, com vista à sensibilização destes para a conservação das aves de rapina.
Importa ainda reforçar a fiscalização e tornar a aplicação da lei mais efectiva, relativamente às infracções e crimes contra a natureza e as aves de rapina em particular. Neste aspecto, não devem ser esquecidos a fiscalização e um controlo apertado sobre os animais comercializados e utilizados em cetraria, nomeadamente sobre as suas proveniências.
Urge realizar estudos sobre biologia e ecologia da espécie, que são praticamente inexistentes, e investigar sobre os níveis e efeitos de pesticidas e metais pesados À semelhança das restantes espécies de rapinas florestais, é necessária a realização de censos ou programas de monitorização periódicos, de modo a avaliar e a seguir regularmente a população da espécie.
Aves, Accipitriformes, Accipitridae.
Tipo de ocorrência
Residente.
Classificação
VULNERÁVEL . VU (D1)
Fundamentação: População reduzida (inferior a 1.000 indivíduos maturos).
Distribuição
A área de distribuição desta espécie é muito vasta, estendendo-se de um modo contínuo por grande parte do Holárctico (del Hoyo et al. 1994). O açor distribui-se por uma área bastante grande em Portugal continental, a qual deverá ser superior àquela que é evidenciada no atlas de Rufino (1989) ou no Novo Atlas (ICN dados não publicados).
Este facto deve-se à dificuldade da metodologia dos atlas em representar a dispersão real no terreno de algumas espécies, nomeadamente as aves florestais de comportamento mais discreto, devido à sua metodologia, poucas e curtas visitas às quadrículas, sem esforço especialmente dirigido a espécies deste tipo. No Centro e Norte do país a distribuição do açor é mais contínua da que vem representada nos atlas e tem uma população mais densa. A espécie também existe em largas áreas do Sul (Alentejo e serras algarvias), embora a sua presença aqui seja bastante mais dispersa, bem como a sua densidade (Palma et al. 1999a), encontrando-se ausente nalgumas regiões.
População
Tal como para grande parte das aves de rapina florestais do país, nunca se fez um censo específico e completo para esta espécie a nível nacional, com base em amostragem e metodologia apropriadas. A única estimativa existente é a de Palma et al. (1999a), a qual apontava para uma população de 200-300 casais, que se pensa estar em declínio, devido à destruição e escassez crescente do seu habitat preferido, os pinhais bravos de alto-fuste. Atendendo à grande perda de pinhal que se tem verificado nos últimos anos devido aos incêndios florestais e que em 2003 tiveram uma incidência particularmente grave, é provável que uma parte não desprezável da população indicada por Palma et al. (1999a) tenha sido directamente afectada.
Em termos de estatuto de ameaça a nível da Europa, a espécie é considerada Não Ameaçada, embora se apresente em declínio em alguns países europeus (BirdLife International 2004).
Habitat
No sul de Portugal o açor encontra-se quase sempre nos barrancos arborizados de cursos de água, mas nalgumas zonas, como na Comporta, cria também em pinhal-bravo e terrenos planos. No centro e norte do país o principal habitat de nidificação do açor é composto por pinhais-bravos adultos e possuidores de árvores de grande porte, por bosques e bosquetes de folhosas autóctones (e.g. carvalhais maduros) e, por vezes, em eucaliptais. Circundantes às formações arbóreas onde nidifica, encontram-se terrenos abertos de mato, culturas agrícolas e pastagens (Rufino 1989, Pimenta & Santarém 1996, Silva 1998), onde tende a caçar perto das orlas. Evita as paisagens demasiado compartimentadas ou demasiado contínuas (Rufino 1989), mas em áreas predominantemente florestais, como a região de Mira ou o Pinhal de Leiria (onde a cobertura pinhal é superior a 85%), quantificaram-se ainda assim densidades de açor da ordem dos 4-5 casais (Petronilho 2001a) e 2-3 casais (Onofre et al. 1999) por 100 km2.
Os incêndios florestais, mas também a sua reconversão para eucaliptal de curtas rotações, têm provocado um declínio acentuado do habitat principal do açor, o pinhal-bravo, em particular aquele constituído por arvoredo mais maduro, com 40-50 anos. De acordo com as revisões do inventário florestal (DGF 2001), a área de pinheiro-bravo declinou, entre 1964 e 1995, em 323.000 ha. Este declínio em área tem continuado, sendo de realçar os 260.000 hectares de matas que terão sido destruídos em 2003, ano em que a área ardida foi 4 vezes superior à média anual verificada entre 1980 e 2004 (DGRF 2005).
Factores de Ameaça
Os incêndios florestais que destroem áreas mais ou menos vastas de pinhal e outro arvoredo maduro são a principal ameaça para o açor em Portugal. A par com este factor de destruição, a reconversão para eucaliptal de curta rotação das antigas manchas de pinhal das serras da região Centro limita grandemente a adequação do habitat para efeitos de nidificação. Com efeito, salvo alguns exemplares de grande porte, a maioria dos eucaliptos e em particular os das plantações florestais, devido ao tipo de inserção e à fragilidade dos seus ramos, não providenciam as melhores condições para o suporte de ninhos de grandes dimensões e aqueles que neles são construídos caem com alguma facilidade aquando de ventos mais fortes (González 2004, Onofre N dados não publicados). O corte de povoamentos ou árvores onde a espécie nidifica, a perseguição através do abate directo, destruição de ninhos e o roubo de crias são outros factores que afectam a população portuguesa.
Por se tratar de um predador essencialmente ornitófago, o açor é uma espécie potencialmente sensível aos efeitos dos pesticidas e metais pesados, que poderão afectar o sucesso reprodutivo. Por outro lado, sendo o pombo (nomeadamente o doméstico Columba livia var. domestica), uma presa muito frequente na sua dieta (Petronilho & Vingada 2002), é provável que se verifique alguma morbilidade e mortalidade em resultado de Tricomoníase e Candidíase na população portuguesa. Por exemplo, na região de Mira, foram detectados juvenis no ninho infectados com Tricomoníase (J Petronilho, com. pess.).
Medidas de Conservação
As medidas de conservação para esta espécie prendem-se fundamentalmente com as políticas florestais de reordenamento, gestão e repovoamento florestal e de prevenção de incêndios. Importa promover espaços florestais diversificados, tanto ao nível dos cobertos arbóreos como de outros, e prevenir a ocorrência dos grandes incêndios florestais. Adicionalmente, o Manual de Boas Práticas Florestais deverá incorporar num futuro próximo medidas com vista à conservação das aves de rapina e do seu habitat, para além de outros valores naturais.
Deve ainda ser dinamizada a reflorestação com folhosas naturais e a conservação dos bosques e bosquetes de carvalhos (puros ou mistos), através da sensibilização ao recurso generalizado às Medidas Agro-Ambientais apropriadas. A reconversão para eucaliptal das antigas áreas de pinhal deve ser desencorajada, não devendo a rearborização com pinheiro-bravo deixar de ser apoiada.
Devem ser desenvolvidas campanhas de educação ambiental junto aos proprietários e gestores florestais e cinegéticos, madeireiros, resineiros, com vista à sensibilização destes para a conservação das aves de rapina.
Importa ainda reforçar a fiscalização e tornar a aplicação da lei mais efectiva, relativamente às infracções e crimes contra a natureza e as aves de rapina em particular. Neste aspecto, não devem ser esquecidos a fiscalização e um controlo apertado sobre os animais comercializados e utilizados em cetraria, nomeadamente sobre as suas proveniências.
Urge realizar estudos sobre biologia e ecologia da espécie, que são praticamente inexistentes, e investigar sobre os níveis e efeitos de pesticidas e metais pesados À semelhança das restantes espécies de rapinas florestais, é necessária a realização de censos ou programas de monitorização periódicos, de modo a avaliar e a seguir regularmente a população da espécie.
in Livro Vermelho dos Vertebrados
Sem comentários:
Enviar um comentário