terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Chondrostoma almacai, Boga do Sudoeste

Taxonomia
Actinopterygii,  Cypriniformes,  Cyprinidae.
 
Tipo de ocorrência
Residente. Endémica do Continente (bacias do Mira e Arade).
 
Classificação
CRITICAMENTE  EM  PERIGO  –  CR  (B1ab(ii,iii,iv)c(iv)+2ab(ii,iii,iv)c(iv))
Fundamentação: Espécie com extensão de ocorrência e área de ocupação extremamente reduzidas, com cerca de 20 km2 e 15 km2, respectivamente. Verifica-se  uma  fragmentação  elevada,  admite-se  um  declínio  continuado  na  área  de ocupação  e  na  área,  extensão  e  qualidade  do  habitat,  prevê-se  um  declínio  no número de subpopulações e verifica-se ainda a existência de flutuações acentuadas no número de indivíduos maduros.

Distribuição
Endemismo do Continente que ocorre apenas nas bacias hidrográficas dos rios Mira e Arade (Coelho et al. 1997a, Mesquita et al. 2001, Mesquita & Coelho 2002, Coelho et al. 2005). Não existem registos recentes da espécie no rio Arade à excepção  da  zona  de  cabeceira  (COBA  1997).

População
Calcula-se que o número de indivíduos maduros seja superior a 10.000. A redução nos últimos 10 anos deverá ter sido inferior a 30% mas prevê-se que se possa acentuar até cerca de 50% nos próximos 10 anos ou em qualquer período de 10 anos que abarque o passado e o futuro. Dado terem sido registadas flutuações de magnitude superior a cinco vezes no efectivo populacional da bacia hidrográfica do Mira (Magalhães 2002), considerou-se que poderão ocorrer flutuações acentuadas (de magnitude superior a dez vezes) no número de indivíduos maduros entre anos  hidrológicos  extremos.  Não  existem  registos  desta  espécie  em  albufeiras (COBA 1997, Ferreira & Godinho 2002), pelo que se prevê que ocorra um declínio continuado do número de indivíduos maduros devido à construção da barragem de  Odelouca,  entre  outras  ameaças.

Habitat
Ocorre  preferencialmente  em  rios  e  ribeiras  intermitentes  e  permanentes,  com águas de temperatura relativamente elevada e alguma profundidade (Pires et  al. 2004).  No  período  de  estiagem  ocorre  principalmente  em  sectores  lóticos  com profundidade moderada, sendo comparativamente menos comum em pegos de grandes dimensões (Magalhães et al. 2002). Esta espécie não foi capturada nas albufeiras do Funcho e Arade (COBA 1997).

Factores de Ameaça

A bacia hidrográfica do Arade está muito intervencionada, possuindo duas grandes albufeiras, Arade e Funcho, que terão causado uma perda importante da área de ocupação disponível para a espécie. Está em construção uma outra, a barragem de  Odelouca,  que  irá  acentuar  a  diminuição  da  área  de  ocupação,  pelo  que  a área adequada para a espécie ficará bastante reduzida. É provável que a ausência da espécie em quase toda a extensão do rio Arade seja uma consequência da construção das barragens, da alteração do regime natural de caudais e da proliferação de espécies exóticas (Pires et al. 2004). Outras causas de degradação do habitat são a extracção de inertes, a captação de água e a perda da qualidade da água. A introdução de espécies não-indígenas poderá também ter efeitos a nível da competição, predação ou como via de disseminação de agentes patogénicos.

Medidas de Conservação

Esta espécie está abrangida pela legislação nacional e internacional de conservação. Vários locais nas bacias hidrográficas do Mira e Arade foram designados para a lista nacional de sítios ao abrigo da Directiva Habitats devido à sua presença, entre outros valores, mas carecem ainda de medidas de ordenamento e gestão dirigidas à espécie. A Boga do Sudoeste foi abrangida nos estudos sobre a ictiofauna dulciaquícola do Sudoeste de Portugal (Magalhães & Collares-Pereira 1999). No  entanto,  sendo  uma  espécie  recentemente  descrita,  sabe-se  ainda  muito pouco sobre a sua biologia e ecologia. Para além de medidas gerais de melhoria da qualidade da água, nunca foram implementadas acções dirigidas à conservação desta  espécie.
 
É necessário efectuar a recuperação das zonas mais degradadas e o restabelecimento da continuidade entre as populações, perdida com a construção de barragens e açudes. A execução das medidas previstas nos Planos de Bacia Hidrográfica do Mira e das ribeiras do Algarve (INAG 1999a, 2000b) e na Directiva-Quadro da Água deverão atingir a melhoria permanente da qualidade dos habitats aquáticos. Em particular, deve ser assegurada a manutenção da estrutura geral e heterogeneidade dos habitats estivais e não apenas a preservação dos pegos permanentes  de  grandes  dimensões  (Magalhães et  al.  2002).  Importa  ainda  implementar medidas de controlo da expansão das espécies não-indígenas, e interditar a concretização de novas introduções (Magalhães & Collares-Pereira 1999). Embora a distribuição desta espécie seja conhecida é necessário monitorizar os seus efectivos populacionais, aumentar os conhecimentos sobre a sua biologia e ecologia e sobre as medidas de conservação mais adequadas. A sensibilização do público para  a  conservação  dos  habitats  e  fauna  aquáticos  necessita  também  de  ser reforçada.
 
Outra bibliografia consultada
Magalhães  et  al. (2003).
in Livro Vermelho dos Vertebrados

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