Taxonomia
Aves, Strigiformes, Strigidae.
Tipo de ocorrência
Residente.
Classificação
INFORMAÇÃO INSUFICIENTE - DD
Fundamentação: Não existe informação adequada para avaliar o risco de extinção. Com efeito, não são conhecidos parâmetros básicos referentes a esta população, como tamanho e tendências.
Distribuição
Ocorre no Holárctico, com uma distribuição desde aproximadamente o Círculo Polar Árctico até às regiões mediterrânicas e de estepe. No Paleárctico nidifica desde as Ilhas Britânicas, Península Ibérica e Marrocos até ao extremo leste da Sibéria, Kamchatka e Japão e de Norte para Sul desde a Escandinávia e Sibéria até o noroeste de África, Ásia Menor, região do sudeste do Mar Cáspio, com bolsas no norte do Paquistão, Índia e sudoeste da China (cf. Sibley & Monroe 1990, Cramp 1998). As populações do Norte do Paleárctico, são migradoras, invernando no Egipto, norte da Índia e no sul da China, enquanto que as meridionais são principalmente sedentárias (Cramp 1998).
Nidifica em quase todo o território continental nacional, com uma distribuição provavelmente não tão dispersa como a indicada nos atlas (Rufino 1989, Reino 1993, Lourenço et al. 2001, ICN dados não publicados). Nos Açores a espécie ocorre em todos os grupos do arquipélago não existindo contudo confirmação da nidificação em todas as ilhas.
População
As características da espécie - muito discreta e a grande irregularidade ou flutuação na sua nidificação -, tornam muito difícil estimar o tamanho da população. É referida como uma ave rara ou pelo menos pouco abundante e localizada (Rufino 1989, Reino 1993, ICN dados não publicados) sendo reduzidas as referências à sua ocorrência em Portugal continental (e.g. Oliveira 1994b, Cruz et al. 1994, Lourenço et al. 2001, Petronilho 2001a, b). A tendência da população do bufo-pequeno no nosso país é desconhecida, mas de acordo com as observações a nível local, deve ser irregular ou flutuante, com oscilações inter ou plurianuais, em que a espécie parece nidificar ou deixar de nidificar quase de um ano para o outro sem causas aparentes, tal como Fajardo & Babiloni (1996) referem.
Nos Açores a espécie nunca foi alvo de estudos ou censos dirigidos e nesse sentido não existem dados sobre a sua abundância a nível regional ou tendência populacional.
Em termos de estatuto de ameaça a nível da Europa, a espécie é considerada Não Ameaçada embora ainda provisoriamente, apresentando-se na actualidade estáveis as maiores populações europeias (BirdLife International 2004). Em Espanha, a subespécie nominal presente no Continente e Baleares, está classificada como Pouco Preocupante (LC) (Madroño et al. 2004), não se conhecendo bem a sua tendência populacional (Cortés & Martí 2003); a subespécie canariensis está classificada como com Informação Insuficiente (DD).
Habitat
O habitat no Continente é constituído por pinhais (Pinus spp.), carvalhais (Quercus spp.), pequenos soutos (Castanea sativa), matas ribeirinhas (Rufino 1989, Silva 1998, Petronilho 2001a,b) e por montados de azinho (Q. rotundifolia) abertos, com sobreiros (Q. suber) e pinheiros no sul (Cruz et al. 1994, S Godinho, com. pess.). Tem sido observada a nidificar em ninhos antigos de aves de rapina diurnas, principalmente, construídos em pinheiros, sobreiros e azinheiras (Cruz et al. 1994, Petronilho 2001a, S Godinho, com. pess.).
Nos Açores, ocorre em zonas de bosque ou floresta, nomeadamente de coníferas.
Factores de Ameaça
As ameaças a esta espécie no nosso país não são bem conhecidas.
A competição com a coruja-do-mato Strix aluco, pelo espaço, plataformas de nidificação e alimentação é referida por alguns autores como factor limitante desta espécie (cf. Fajardo & Babiloni 1996, Cortés & Martí 2003, entre outros).
O envenenamento na sequência de campanhas de controlo e extermínio de pragas de roedores na agricultura e nas arborizações florestais, bem como em lixeiras constitui uma ameaça potencial. Em Espanha, existem casos documentados de envenenamento de exemplares de bufo-pequeno (Fajardo & Babiloni 1996, Cortés & Martí 2003).
Como as outras aves de presa nocturnas, a morte por colisão em linhas de transporte de energia (Onofre N dados não publicados) ou por colisão com automóveis poderá também constituir um factor de mortalidade não-natural. Também é provável que o abate ilegal ainda seja um importante factor de ameaça, tendo em conta o número significativo de espécimes embalsamados encontrados em vários pontos do país (Palma 1985, Cruz et al. 1994). Esta vulnerabilidade ao abate a tiro deve-se, em muito, ao seu hábito de apenas fugir a distâncias muito curtas quando acercada (Cortés & Martí 2003).
As podas em montados, frequentemente desregradas na intensidade e desordenadas no espaço, podem contribuir para a desestabilização e diminuição da produtividade de núcleos da espécie no Sul (Cruz et al. 1994).
A destruição, por incêndio ou corte, de linhas ou pequenas manchas de pinhal e bosquetes ribeirinhos, onde existem ninhos de aves de rapina e de corvídeos e que constituem locais de nidificação, actual ou potencial, constituem um factor de perda ou degradação de habitat.
O abate de gralha-preta Corvus corone, para correcção de densidade ou a sua eventual integração na lista de espécies cinegéticas exploráveis, afectará negativamente o bufo-pequeno, pois diminuirá a disponibilidade de plataformas naturais de nidificação em árvore a médio prazo.
Nos Açores a substituição em larga escala de áreas de floresta natural por zonas de pastagem constitui a principal ameaça para a população do arquipélago.
Medidas de Conservação
A conservação desta espécie pode ser assegurada através das seguintes medidas:
- dinamização de campanhas de sensibilização ambiental e de conservação das aves de rapina, dirigidas a caçadores, guardas e gestores de caça, proprietários florestais e público em geral, afim de minimizar o abate ilegal e roubo de ninhos;
- a adopção e divulgação de boas práticas agrícolas e florestais, nomeadamente a minimização do corte de árvores com ninhos de corvídeos e aves de rapina;
- implementação de medidas de controle da venda e do uso de substâncias tóxicas para controle de roedores.
Para as regiões Centro e Norte e nas serras do sul, em particular, deverá ser condicionado o corte de linhas ou cortinas de arvoredo, nomeadamente ripícolas, e no caso das pequenas manchas de pinheiro-bravo os cortes selectivos devem ser privilegiados em oposição ao corte raso. A conservação do seu habitat pode ser obtida através de uma maior divulgação e incentivo das Medidas Agro-Ambientais. No Sul, a conservação do seu habitat passa por ordenar e fiscalizar as podas de arvoredo de montados, em intensidade, extensão e calendário das operações.
Não deverá ser permitida a inclusão de gralha-preta como espécie cinegética explorável no calendário venatório. Por outro lado, mesmo as acções de correcção de densidade de gralha-preta só devem ser autorizadas pelas autoridades competentes após verificação dos prejuízos causados e aferição do potencial impacte dessa correcção neste bufo.
Deve ser reforçada a fiscalização e a aplicação mais efectiva da lei, relativamente ao abate ilegal e roubo de ninhos.
Importa realizar censos e monitorizações periódicas, e aprofundar aspectos da sua bioecologia.
Deve ser feita monitorização da mortalidade nas linhas de transporte de energia e correcção das mesmas, sempre que tal se justifique, nomeadamente nas zonas que se venham a revelar como mais importantes para a espécie.
Notas
Ocorre também nas passagens outonais de aves migradoras na região de Sagres (Tomé et al. 1998).
in Livro Vermelho dos Vertebrados