terça-feira, 19 de agosto de 2014

Falco columbarius, Esmerilhão


Taxonomia
Aves, Accipitriformes, Accipitridae.

Tipo de ocorrência
Invernante.

Classificação
VULNERÁVEL - VU* (D)
Fundamentação: Espécie com população reduzida (entre 50-250 indivíduos maturos). No entanto, por ser um taxon visitante não reprodutor cujas condições não se estão a deteriorar nem fora nem no interior da região, o que leva a admitir um risco de extinção mais reduzido em Portugal, desceu uma categoria na adaptação à escala regional.

Distribuição
Tem uma vasta distribuição, essencialmente circumpolar no Holárctico como nidificante. À excepção de um pequeno número de populações (no Sudeste da Islândia, Grã Bretanha, no extremo sul da Noruega, na região dos países bálticos e Bielo-Rússia (Cramp 1998) e no leste da América do Norte (del Hoyo et al. 1994)), as restantes populações são migradoras. Embora as populações ocidentais invernem fundamentalmente na Europa, em regra as áreas de invernada não se sobrepõem às áreas de nidificação (del Hoyo et al. 1994). A região circunmediterrânea (e.g. Península Ibérica e Itália) não parece assumir muita importância como quartel de Inverno (ao contrário do que acontece na região europeia central) e são poucos os indivíduos que chegam ao norte de África (de Juana et al. 1988,  Cramp  1998).

Em Portugal Continental, o esmerilhão ocorre praticamente em todo o território continental português (Costa et al. 1996). Não obstante a ainda deficiente cobertura geográfica e a possibilidade de algum enviesamento nas observações registadas, a espécie tende a ocorrer com maior frequência no baixo Tejo, a sul deste rio e junto ao litoral. Segundo Costa et al. (1996), esta tendência poderá ser explicada pelo facto de o esmerilhão ser essencialmente ornitófago e procurar regiões e locais ricos em aves, como as zonas húmidas e os terrenos agrícolas das extensas planícies alentejanas. Estes autores, reforçados pelas observações de Sunyer & Viñuela (1990), acrescentam ainda que, globalmente em termos nacionais, as regiões onde não se obtiveram registos da espécie correspondem a zonas de habitat desfavorável para a espécie (áreas acima dos 1.000 metros ou densamente florestadas).

População
Não obstante alguns esforços desenvolvidos, como os de Costa et al. (1996) e Elias et al. (1998), a informação sobre o efectivo de esmerilhão que inverna em Portugal é muito reduzida. Parece no entanto ser consensual que é baixa a abundância de esmerilhões a invernarem no país, tendo em conta o número de registos mais recentes, estimando-se que a população invernante esteja compreendida entre os 50 e 250 indivíduos. Uma análise grosseira do número de registos apresentados por Costa et al. (1996) e por Costa (1998e), apontam para uma média de cerca 10 e de 3 indivíduos por ano observados, respectivamente, no país e no Baixo Alentejo. É certo que se trata de uma espécie pouco conspícua, devido ao seu pequeno tamanho e comportamento, e logo difícil de detectar, pelo que é de calcular que estes valores estejam algo subestimados.

Em termos de estatuto de ameaça a nível da Europa, a espécie é considerada Não Ameaçada, embora ainda provisoriamente, pois apesar de um ligeiro declínio na Suécia durante 1990-2000, a espécie permanece globalmente estável (BirdLife International 2004). Esta tendência levou a assumir um risco de extinção da população invernante no nosso território mais reduzido, tendo descido uma categoria na adaptação à escala regional.

Habitat
O habitat onde a espécie ocorre em Portugal é constituído por culturas de sequeiro, pousios e pastagens, principalmente no Sul, lezírias, albufeiras, pauis, prados costeiros e prados de montanha (Costa 1995, Costa 1998e, Costa et al. 1996).

Factores de Ameaça
O continuado declínio dos sistemas de exploração tradicional agrícola e a sua substituição por culturas agrícolas ou florestais de carácter intensivo ou mesmo o mero abandono e conversão para matos degradados, pode vir a ter implicações negativas para a espécie no  médio-longo  prazo.

O uso abusivo e desregrado de pesticidas pode constituir uma ameaça para as populações cujos indivíduos vêm invernar no nosso país, em face dos efeitos nefastos da bio-acumulação no seu organismo e no sucesso reprodutor. Segundo Hagemeijer & Blair (1997), é provável que a elevada contaminação dos esmerilhões britânicos (a situação mais grave entre as aves de rapina dessa ilha), com organoclorados e outros pesticidas, e que afectou a produtividade das suas populações até inícios da década de 1990 (JNCC 2005), tenha tido origem nas áreas de invernada. Contudo, nos países escandinavos não existem evidências das suas populações estarem a ser contaminadas por pesticidas, desde os anos de 1980 (Hagemeijer & Blair 1997).

O abate a tiro constitui igualmente uma ameaça para esta espécie, pois a sua estadia coincide com a época venatória.

Medidas de Conservação
A conservação do esmerilhão requer a implementação das seguintes acções:
  • campanhas de sensibilização ambiental e de conservação da fauna, em particulardas aves de rapina e outros predadores, dirigidas quer a agricultores, caçadores, guardas  e  gestores  de  caça,  quer  ao  público  em  geral,  afim  de  minimizar  ou erradicar o abate ilegal;
  • sensibilização dos agricultores para a adopção de boas práticas agrícolas, tanto em termos da racionalização no emprego de pesticidas como da utilização preferencial pela luta integrada e de produtos de mais rápida e inofensiva degradação;
  • divulgação e incentivo ao recurso mais generalizado das Medidas Agro-Ambientais junto  a  proprietários  e  produtores  agrícolas,  de  modo  a  ser  mantida  uma  área suficiente de agricultura tradicional nos terrenos do Sul e/ou que minimizem a degradação do habitat e promovam a pecuária extensiva.
  • Tendo em vista a manutenção de habitat favorável a esta espécie, as acções de arborização de terras agrícolas marginais deverão ser efectuadas com folhosas autóctones (sobreiros e azinheiras), e em densidades de plantação que não levem à constituição de povoamentos demasiado densos (de preferência não com mais de 30% de ocupação do solo pelo copado  do  arvoredo).
Uma vez que é uma espécie sobre a qual se sabe muito pouco sobre aspectos demográficos e da sua ecologia no nosso país, é importante realizar censos que permitam conhecer os efectivos médios anuais que visitam o país no Inverno, identificar as regiões ou áreas de maior importância para a espécie e estudar temas como a selecção de habitat e alimentação invernal.

Notas
Enquanto ave de passagem, têm sido muito poucos os esmerilhões observados em Sagres, durante as campanhas de observação de aves migradores (Costa et al. 1998).

in Livro Vermelho dos Vertebrados


Sem comentários: