Taxonomia
Aves, Falconiformes, Pandionidae.
Aves, Falconiformes, Pandionidae.
Tipo de ocorrência
Residente e invernante.
Classificação
População residente: CRITICAMENTE EM PERIGO - CR (A2ac+3c+4c; B1ab(i,ii,v); C2a(i,ii); D)
Fundamentação: A observação directa da espécie e o decréscimo da sua área de ocupação e extensão de ocorrência indicam que a população nidificante sofreu nos últimos 27-30 anos um declínio dramático (superior ou igual a 80%), estando hoje quase extinta como nidificante no nosso país, reduzida a um indivíduo maturo. As causas dessa redução não cessaram, prevendo-se que essa tendência se mantenha para os próximos 27 anos. Apresenta extensão de ocorrência muito reduzida, encontrando-se restrita a um único local da costa portuguesa, e tem sofrido um declínio continuado da sua extensão de ocorrência, área de ocupação e número de indivíduos maturos.
População invernante: EM PERIGO - EN* (D)
Fundamentação: População invernante em Portugal muito reduzida (inferior a 50 indivíduos maturos). No entanto, dado que as duas maiores populações do norte da Europa, de onde provêm os nossos invernantes, estão em crescimento (Suécia) ou estáveis (Finlândia), e que não é de prever a médio-longo prazo alterações negativas no habitat onde a espécie é observada, admitiu-se que as condições para a espécie não se estão a deteriorar, nem fora nem no interior do país, tendo-se descido uma categoria na adaptação à escala regional.
Distribuição
Esta espécie tem uma distribuição cosmopolita Velho e Novo Mundo, Austrália e grande parte das ilhas do Pacífico. Apresenta populações estivais nidificantes na América, Europa do Norte e ao longo da Ásia Central, e sedentárias nas zonas mediterrânicas e subtropicais (e.g. Califórnia, Florida, Cabo Verde e Mar Vermelho), no litoral australiano e ilhas do Pacífico (Indonésia, Filipinas, etc.) (del Hoyo et al. 1994). Inverna na Península Ibérica, América do Sul, África tropical e ainda do Egipto à Indochina, entre outras regiões (del Hoyo et al. 1994).
No Paleárctico Ocidental, para além de ocorrer nas ilhas Canárias, Baleares e Córsega, existe na Grã-Bretanha (Escócia em particular), nos países centro-norte e leste europeus e na Escandinávia (Hagemeijer & Blair 1997). As populações europeias invernam maioritariamente na África tropical (Cramp 1998).
Em Portugal continental, a águia-pesqueira já nidificou desde a costa rochosa da Estremadura portuguesa (possivelmente até mesmo no Pinhal de Leiria), até à costa sul algarvia (zona de Albufeira) (Palma 2001). Actualmente, o único espécimen está restrito a uma pequena zona na costa oeste algarvia, de Vila do Bispo a Aljezur (Palma et al. 1999a, Palma 2001). Durante o Inverno a águia-pesqueira está presente numa larga porção do território nacional, em particular no Centro e Sul do país, nos vales e estuários dos grandes rios (Costa et al. 1999).
População
De acordo com Palma (2001), a população nidificante de águia-pesqueira terá atingido os 22-30 casais no princípio do século XX e nos finais de 1970 já só existiam dois casais activos. A partir de 1991 a população ficou reduzida a um casal e a partir de 1997 a um único macho, que conseguiu emparelhar com uma nova fêmea em 2000, sem que no entanto o casal se tenha reproduzido (Palma 2001). Na actualidade, a espécie está quase extinta, pois após o desaparecimento desta última fêmea em 2000/2001, são escassas as observações de indivíduos nas proximidades do último ninho activo (L Palma, com. pess.). Contudo, não é de excluir a presença de um indivíduo ainda vivo, com um comportamento mais ou menos divagante, que possa ser recrutado para nidificação.
A ocorrência desta espécie durante o Inverno em Portugal é relativamente rara, com efectivos que não devem ultrapassar as duas dezenas de indivíduos (Costa et al. 1999).
Apresenta no entanto carácter regular ao longo dos anos, em vários locais.
A nível europeu a espécie é considerada Rara; apesar de se registar um aumento moderado no conjunto da população europeia, a sua dimensão reduzida ainda a torna susceptível aos riscos que afectam as populações pequenas (BirdLife International 2004). As populações do norte da Europa apresentam-se estáveis ou em aumento, o que levou a assumir um risco de extinção da população invernante no nosso território mais reduzido, tendo descido uma categoria na adaptação à escala regional.
Habitat
Enquanto nidificante, o habitat da espécie em Portugal é formado por falésias e ilhéus rochosos, onde nidifica, e pelo oceano, estuários, lagoas e albufeiras litorais, onde pesca.
O habitat de invernada da espécie em Portugal é constituído por estuários, cursos de água relativamente largos e de águas lentas, lagoas e albufeiras, tanto perto do litoral como no interior (Costa 1998d, Costa et al. 1999).
Factores de Ameaça
Entre os factores responsáveis pelo declínio dramático da águia-pesqueira como ave nidificante no país, contam-se a perseguição e abate directo, a morte acidental nos fios de pesca abandonados por pescadores-à-linha nas falésias, a depleção dos recursos piscícolas marinhos, os desenvolvimentos urbano, turístico e viário junto à faixa costeira e o consequente aumento geral da perturbação humana (Palma 2001). O fraco recrutamento que se tem verificado, motivado pelo isolamento desta população (não há evidência de imigração a partir das populações invernantes do norte da Europa), poderá estar a actuar como facilitador da regressão acentuada.
De entre os factores que ameaçam os indivíduos invernantes estão o abate ilegal e a eventual degradação da qualidade da água de algumas zonas húmidas litorais. No entanto, a espécie estará a ser beneficiada com o número crescente de albufeiras, que vão sendo construídas, em particular no sul do país.
Medidas de Conservação
A conservação da águia-pesqueira como ave nidificante em Portugal exige a implementação de medidas como (Palma 2001):
- regulamentação e fiscalização rigorosa das actividades de pesca-à-linha nas falésias e do acesso do público em geral às imediações dos ninhos antigos e locais ainda activos, por meio de restrições espaciais e sazonais;
- criação de plataformas de nidificação artificiais em áreas com menos conflitos com as actividades humanas;
- construção de pequenas albufeiras que sirvam como fonte de alimento suplementar próximo da linha costeira;
- controlo mais rigoroso e eficaz da expansão urbano-turística.
A reintrodução artificial de juvenis será uma medida a ponderar já que de outro modo não é de esperar que no médio-longo prazo esta se reconstitua naturalmente.
A sensibilização de caçadores, de gestores de aquiculturas e da população em geral para a conservação desta e de outras aves de rapina, terá também um papel importante na preservação desta espécie.
A minimização da poluição química e orgânica das massas de água, através de melhoria dos sistemas de tratamento e depuração de águas, do aumento da fiscalização e da adopção de boas práticas agrícolas, é uma medida importante para a conservação da população invernante.
Notas
De acordo com Palma (2001), a população nidificante portuguesa deve ser residente, à semelhança das restantes das populações mediterrânicas e da Macaronésia, com a eventual deslocação das aves, no período de Setembro a Fevereiro, para massas de água abrigadas do interior próximo.
in Livro Vermelho dos Vertebrados
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