terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Canis lupus, Lobo

Taxonomia
Mammalia,  Carnivora,  Canidae.
 
Tipo de ocorrência
Residente.
 
Classificação
EM  PERIGO  –  EN  (D1)
Fundamentação: A espécie tem uma população com menos de 250 indivíduos maduros.
 
Distribuição
A área de distribuição mundial do lobo encontra-se bastante reduzida e fragmentada em relação à original (Mech 1970, Petrucci-Fonseca 1990, Boitani 2000). No entanto, nos últimos 20 anos, em grande parte da sua área de distribuição europeia, a espécie parece estar a recuperar (Promberger & Schröder 1992, Mech 1995, Boitani 2000). Actualmente, ocupa grande parte da Ásia, da América do Norte e da Europa Oriental (Mathias et al. 1999, Boitani 2000). Na Europa Central e Ocidental existem apenas populações relíquia, entre as quais a da Península Ibérica (Boitani 2000).

Em  Portugal,  o  lobo  ocorre  numa  área  com  uma  extensão  aproximada  de 20.000 km2, localizada sobretudo a norte do rio Douro (ICN 1997), o que representa cerca de 20% da área original, que correspondia à quase totalidade do território nacional  ainda  no  início  do  século  XX  (Petrucci-Fonseca  1990).

População
A população portuguesa compreende duas subpopulações: uma a norte do rio Douro, que se encontra em continuidade com a população espanhola e outra a sul daquele rio, aparentemente isolada da restante população ibérica e que apresenta  um  elevado  nível  de  fragmentação.

De acordo com os resultados do Censo Nacional de Lobo 2002/2003 (in prep.), o número de alcateias deverá variar entre as 45 e 55 a norte do rio Douro, não ultrapassando as 10 a sul do mesmo. Com base na biologia da espécie estima-se que o efectivo populacional em Portugal varie entre os 200 e os 400 indivíduos.

A população portuguesa de lobos representa apenas cerca de 15% da ibérica e, ao contrário do referenciado para certas regiões da Península Ibérica (Blanco & Cortés, 2002) e para o resto da Europa (Boitani 2000), não existem evidências de expansão  recente  da  mesma.
 
Habitat
À excepção das florestas tropicais e dos desertos áridos, todos os habitats existentes no Hemisfério Norte já foram ocupados por este carnívoro (Mech 1970). A ocupação  do  espaço  depende  fundamentalmente  da  disponibilidade  e  acessibilidade de presas adequadas, tais como ungulados selvagens ou domésticos, e do grau de perturbação humana (Vila et al. 1990 in Blanco et al. 1990, Ciucci et al. 1997, Boitani 2000).

A distribuição em Portugal reflecte em grande medida as áreas mais montanhosas, por  apresentam  menores  densidades  populacionais  e  uma  utilização  agrícola menos intensiva. Ocorre em florestas e matos temperados, pastagens naturais e artificiais,  terrenos  agrícolas  e  plantações.
 
Factores de Ameaça
Os  principais  factores  responsáveis  pela  regressão  desta  espécie  nos  últimos séculos foram a perseguição directa movida pelo Homem, a redução das populações de ungulados selvagens e a destruição e fragmentação do habitat (Petrucci-Fonseca 1990, Okarma 1995).

Em Portugal, as ameaças a que, actualmente, está sujeita a população de lobos são sobretudo a escassez de recursos alimentares (ausência de presas selvagens e/ou regressão da criação de gado em regime extensivo), a escassez de áreas de refúgio,  a  fragmentação  do  habitat  e  a  mortalidade  causada  pelo  Homem  (e.g. furtivismo,  envenenamento,  atropelamento).

Na área a sul do Douro, é de salientar o isolamento e a fragmentação da pequena subpopulação que aí ocorre, uma vez que condicionam a sua viabilidade.
 
Medidas de Conservação
Em Portugal, existe legislação específica que confere ao lobo o estatuto de espécie estritamente protegida – Lei nº 90/88, de 13 de Agosto e Decreto-Lei n.º 139/90, de 27 de Abril. Esta legislação regulamenta, entre outros aspectos, o sistema de  compensações  financeiras  aos  proprietários  alvo  de  prejuízos  causados  por este predador sobre os efectivos pecuários.

Considerando todas as áreas com estatuto de protecção, cerca de 30% da área de distribuição do lobo em Portugal (ICN 1997) está incluída na Rede Nacional de Áreas Protegidas ou é sítio da Rede Natura 2000.

Estão ainda em curso outras acções que visam a conservação do lobo: a revisão do Decreto-Lei que regulamenta a Lei de Protecção do Lobo, a implementação de medidas que fomentem uma protecção mais eficaz dos animais domésticos face a ataques de lobo, a monitorização regular da população, a existência de um “Sistema de Monitorização de Lobos Mortos” (de forma a conhecer atempadamente as causas de morte e potenciar a realização de diversos estudos), a implementação de medidas de gestão do habitat (nomeadamente o ordenamento cinegético e  florestal),  a  conservação  e  fomento  das  presas  naturais  do  lobo  (incluindo acções de reintrodução), o desenvolvimento de diversos estudos sobre a espécie(nomeadamente  ao  nível  da  genética  e  da  osteologia)  e  o  desenvolvimento  de algumas  acções  de  divulgação,  sensibilização  e  formação.

Estas  medidas  serão  integradas  no  “Plano  de  Acção  para  a  Conservação  do Lobo em Portugal”.
 
Notas
Em Portugal ocorre a subespécie Canis lupus signatus Cabrera, 1907, endémica da  Península  Ibérica.
 
Outra bibliografia consultada
Petrucci-Fonseca et  al. (1995); Grilo  et  al. (2002).
in Livro Vermelho dos Vertebrados

Sem comentários: