domingo, 3 de agosto de 2008

Um mundo de pulgas e elefantes

Há alguns dias atrás chegou-me às mãos uma obra intitulada "As chaves da liderança" com o subtítulo "Os pensadores mais brilhantes de hoje escrevem para os directores de amanhã", da autoria de W. Bennis, G. M. Spreitzer e T. G. Cummings, Editores.

Apesar de ainda não ter terminado a sua leitura, algum do seu conteúdo leva-me a questionar, será que os nossos políticos alguma vez leram isto? Perante uma politica que coloca em risco a sobrevivência da micro, pequena empresa e facilita a actividade dos grandes empreendimentos, questiono de todo essa possibilidade.

Leiam os parágrafos seguintes e digam-me se estou errado:
 
O universo das organizações está submetido a um processo acelerado de divisão em pulgas e em elefantes. Os elefantes são as grandes organizações e empresas, tanto privadas como publicas; as pulgas são as novas empresas tecnológicas e os novos ponto.com, as pequenas empresas de consultores e profissionais, os profissionais autónomos e os fornecedores especializados que trabalham para os elefantes. Numa escala menor, as pulgas também são os pequenos negócios que povoam as nossas ruas de restaurantes, lojas familiares, cabeleireiros, agências imobiliárias, sem esquecer a centenas e milhares de organizações não lucrativas, como as nossas escolas e igrejas.

Os elefantes são os que despertam a curiosidade dos especialistas e da imprensa, mas a maioria das pessoas trabalha nas pulgas. Os elefantes tornam-se grandes e sólidos, mas as inovações provêem, em geral, das pulgas. Os elefantes são importantes, sobretudo as companhias multinacionais e as globais, dado que fertilizam o mundo com as suas ideias e tecnologia, conseguindo reunir os enormes recursos necessários para a prospecção petrolífera, para a construção de aeronaves , para a investigação de novos medicamentos e para a distribuição dos seus produtos de marca por todo o mundo. São as empresas que aproveitam as vantagens de escala e a sua impressionante dimensão para melhorarem a sua produtividade e reduzirem os custos para o consumidor final. De facto, se existe algo crucial para um elefante, este elemento é a dimensão. O esforço permanente em crescer proporcionou-nos, nos últimos anos, o espectáculo de elefantes a comerem-se uns aos outros ou, como os seus protagonistas diriam, unindo-se em casamento nas denominadas fusões estratégicas.

Depois do casamento ou da boda, a primeira coisa que os elefantes fazem é uma dieta de emagrecimento, diminuindo milhares de postos de trabalho em áreas da produtividade. Neste aspecto, os elefantes gostam da formula de 1/2 X 2 X 3, ou seja, conseguir, num prazo de cinco anos, por exemplo, reduzir para metade o numero de empregados, tendo estes de trabalhar o dobro e produzir o triplo. É, sem duvida, óptimo para os accionistas, mas não tanto para essa metade de empregados despedidos. Dai que, se existe a necessidade de criar emprego, não vale a pena olhar para os elefantes; são as pulgas que o criam. Trata-se de uma lição que os Norte-Americanos aprenderam há algum tempo e que agora a Europa começa lentamente a compreender.

Também não merece a pena procurar novas ideias imaginativas nos elefantes. A eficiência é, em muitos sentidos, incompatível com a criatividade. O elefante eficiente não gosta de esbanjar; incomodam-no as experiências arriscadas, fica nervoso com a inconformidade e prefere a previsibilidade ao risco. Os elefantes preferem acolher as inovações quando estas já demonstraram a sua validade e foram desenvolvidas, dando-Ihes a dimensão e a massa critica necessárias, promovendo-as e colocando-as no mercado a um preço aceitável. Em resumo, as ideias novas provem das pulgas, por vezes de pulgas que surgiram do nada, sem nenhuma relação com o sector no qual se implantam, como as amazone.com deste novo mundo. O problema é que as pulgas costumam viver na pele dos elefantes e não dentro deles. Quando um elefante compra os direitos sobre o produto de uma pulga, sacode-a o mais depressa possível.

As pulgas apresentam os novos problemas de liderança a qualquer nível social. Que tipo de liderança exige uma organização do tipo pulga, sobretudo se for inovadora? Que características se observam numa organização pulga de sucesso? As pulgas podem, ou devem, crescer até se transformarem em elefantes? Como conseguir que os elefantes criem as pulgas ou, pelo menos, as protejam, tolerem as suas picadelas e aproveitem a sua criatividade? Como nasce uma determinada organização pulga inovadora? Qual é o historial académico do seu líder? É possível formar empresários inovadores ou e tudo uma questão genética e de sorte?

As pulgas estão actualmente na moda. As reuniões das «primeiras quartas-feiras do mês», que começaram em Londres e se estenderam a outras cinquenta cidades britânicas, tornaram-se mercados de pulgas, e não propriamente de antiguidades, que numa tarde atraem cerca de três mil jovens, futuros criadores de pulgas ponto.com. Existem estudantes que interrompem os seus cursos MBA para entrarem numa pulga recém-criada, como se, de repente, se tivessem apercebido de que as escolas empresariais são só um complemento distintivo para os elefantes. Deve ser assim? Ou talvez devessem ser estas escolas os jardins-de-infância das pulgas? Podem receber ambos os mundos ou as próprias escolas transformaram-se em elefantes, incapazes temperamental me me de receber as pulgas?

As pressões de um mundo global, que levam a aumentos de escala, aliadas ao ritmo sem precedentes da mudança tecnológica, que exige cada vez mais criatividade, parecem indicar que todas as sociedades necessitam de uma mistura de pulgas criativas e elefantes produtivos. As perguntas que fizemos tem, portanto, uma certa urgência, se quisermos aproveitar todas as vantagens das novas fronteiras abertas pela tecnologia.

2 comentários:

Meimendra disse...

Boa tarde,
eu li o seu post e gostaria de lhe perguntar se me sabe dizer o que é uma pulga dos açores e indicar-me uma. Pois, recentemente pediram-me uma pulga doa Açores e eu não sei o que é, obviamente, não será a pulga, literalmente!
Aguardo ansiosamente a sua resposta e agradeço desde já o seu tempo e amabilidade.
Cumprimentos.

José Cardoso disse...

Apesar de estar fora dos Açores à 16 anos... Quando lá vivia uma pulga era uma pulga!

No entanto não ponho de parte a possibilidade de aqui no continente o calão designar por 'pulga dos Açores' algo muito diferente do insecto, mas sinceramente desconheço o que seja.