segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

No Acampamento

Eu escrevi minhas notas este mês no acampamento. Eu espero que muitos Chefes Escuteiros tenham sido capazes de passar seus feriados deste ano em acampamentos, como eu. Se desfrutou disso tanto ou mais que eu, terá feito uma boa coisa.

Tenho certeza que uma semana ou duas de tal vida é o melhor descanso restaurador e o melhor tónico para o corpo e a mente que existem para uma pessoa, seja ele menino ou idoso. Por acampamento eu quero dizer um acampamento no bosque, não um acampamento militar para alojar um grande número de pessoas sob uma lona. Este não é mais parecido com o tipo de acampamento que eu defendo do que um gafanhoto é parecido com um ganso.

O acampamento Escuteiro deve ser do tipo acampamento de bosque, se quiser ser realmente bem educativo. Muitos acampamentos militares, não a maioria, são responsáveis por causar mais prejuízo do que bem aos jovens, excepto aqueles com boa administração e supervisão rígida. Considerando um acampamento mateiro, se correctamente desenvolvido dará desenvoltura individual e ocupação aos jovens todo o tempo.

Um grande acampamento tem necessidade de ser conduzido com uma quantidade considerável de rotinas disciplinares. Formaturas têm que ser asseguradas para dar ocupação e instrução aos jovens, reuniões fatigantes, inspecções de barracas, listas de chamadas, filas de banho, e assim por diante. Isto não serve para a revigorante vida ao ar livre, esse tipo de acampamento pode muito bem ser feito em barracas na cidade, não ensina aos jovens nada de individualidade, desenvoltura, responsabilidade, conhecimento da natureza, e muito menos (realmente pouquíssima) educação do carácter, para o qual o acampamento mateiro é o melhor, senão a única escola.

Mas um acampamento mateiro só pode ser realizado com um número pequeno de jovens, de trinta a quarenta, sendo este o máximo possível, e somente se o sistema de patrulhas for realmente e inteiramente colocado em uso.
Evidentemente é fácil alguém escrever a partir de um acampamento ideal deste tipo e pensar que todo mundo tem as mesmas possibilidades, mas eu não pretendo pensar dessa maneira. Eu sei as dificuldades daqueles que tem que argumentar com um Chefe Escuteiro na Inglaterra, mas quero colocar o ideal à frente desses que não tem reflectido muito cuidadosamente sobre a questão, e são inclinados, por costume ou exemplo, a achar que a forma militar de acampamento é a habitual e correta para os jovens. O ideal deve ser seguido o mais fielmente possível que as circunstâncias locais permitam.

Aqui estou acampado perto de um rio que corre entre colinas revestidas de florestas. É perto de dez da manhã. Levantei-me às cinco, e estas cinco horas foram cheias de tarefas para mim, muito embora fossem não mais que pequenas tarefas de acampamento.

O fogão teve que ser reacendido, café e bolinhos foram feitos. Em seguida foram lavados e areados os utensílios de cozinha; recolhida lenha para o dia (para queimar e formar brasa); uma nova barra e ganchos para panelas tiveram que ser cortados e aparados; uma tenaz para o fogo e uma vassoura de galhos para limpeza do chão do acampamento tiveram que ser cortados e feitos. A roupa de cama teve de ser arejada e guardada; as botinas foram engraxadas; o chão do acampamento foi varrido e o lixo queimado; a truta teve de ser destripada e lavada. Finalmente me barbeei e tomei um banho, e aqui estou pronto para as tarefas diárias que possam surgir. Mas levei cinco horas para tudo isso.

Meu companheiro foi ontem para o vilarejo mais próximo e deverá voltar logo com nossas cartas e suprimentos. Ele me encontrará em algum lugar pescando ou desenhando, e juntando amoras para nossa “sobremesa” de compota de frutas ao jantar; mas encontrará o acampamento varrido e guarnecido, fogão pronto para ser aceso, panelas, copos e pratos todos limpos e prontos para uso, a comida à mão.

Nós podemos provavelmente “fazer as malas” e viajar em seguida, e ver um pouco mais das belezas da terra, como podemos “carregar nossas coisas” para o próximo local de acampamento com uma agradável paisagem. Então vem todo esse negócio de montar o acampamento, buscar água e lenha, fazer a comida, e buscar seu próprio conforto. Toda uma sequência de pequenas tarefas cuja soma é importante. Todas elas dão prazer e satisfação ao homem mais velho, enquanto que aos mais jovens trazem prazer, experiência, desenvoltura, autoconfiança, pensamentos para os outros, e aquela excelente disciplina dos costumes campestres, sendo esperado que façam a coisa certa para eles.

Eles não têm nenhum tempo para inactividade, e não há espaço para o ocioso. Mas isto é uma coisa bastante diferente daquelas ruas de lona, onde os suprimentos são entregues por uma empresa, e cozidos e servidos por empregados contratados, com os jovens em rebanhos, fazendo somente o que os mandam fazer.
 
Setembro de 1911
Pensamentos de B-P 
contribuições de Baden-Powell para "The Scout"

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