terça-feira, 3 de maio de 2011

Galemys pyrenaicus, Toupeira-de-água

Taxonomia
Mammalia,  Insectivora,  Talpidae  (Desmaninae).
 
Tipo de ocorrência
Residente.
 
Classificação
VULNERÁVEL  -  VU  (C1+2a(i))
Fundamentação: A espécie tem uma população com menos de 10.000 indivíduos maduros, com declínio continuado que pode ter atingido 10% em 10 anos; admite-se que não exista nenhuma subpopulação com mais de 1.000 indivíduos.
 
Distribuição
A  toupeira-de-água  ocorre  no  Norte  e  Centro  da  Península  Ibérica  e  Pirinéus (Mitchell-Jones  et  al.  1999).  Em  Portugal,  distribui-se  pelas  bacias  hidrográficas dos rios Minho, Âncora, Lima, Neiva, Cávado, Ave, Leça, Douro, Vouga, Mondego e Tejo (apenas na sub-bacia do rio Zêzere) (Queiroz et al. 1998).

Os  resultados  comparativos  do  programa  de  monitorização  das  ocorrências  da espécie (Quaresma 2001) indiciam uma redução da área de ocupação ao longo dos limites Este, Sul e Oeste da sua área de distribuição.
 
População
Os indivíduos desta espécie apresentam um comportamento de evitamento mútuo e uma capacidade quase nula de se movimentarem através do meio terrestre ou transpor barreiras interpostas no leito dos cursos de água. Deste modo, a dimensão de uma subpopulação está fortemente influenciada pela dimensão dos ambientes aquáticos disponíveis. As condições ecológicas, nomeadamente a disponibilidade em macroinvertebrados de que se alimentam, parece determinar a sua densidade.

Em  Portugal,  os  trabalhos  realizados  no  rio  Sabor  e  rio  Paiva,  em  habitats particularmente favoráveis para a espécie, sugerem densidades populacionais de 5 a 10 ind/km (Quaresma et al. 1998, Chora 2001) mas outros estudos revelam densidades bastante inferiores (e.g. CM Quaresma com. pess., Silva 2001)). Uma estimativa  ao  nível  nacional  aponta  para  a  ocorrência  de  menos  de  10.000 indivíduos, repartidos em subpopulações pequenas e isoladas, devido à existência de barreiras físicas e ecológicas. Verificou-se uma regressão nas áreas localizadas no limite da distribuição da espécie (sub-bacias mais interiores da margem esquerda do  rio  Douro,  nas  bacias  hidrográficas  dos  rios  Tejo  (Zêzere)  e  Mondego  (Alva), nas zonas médio-inferiores de várias bacias hidrográficas - Âncora, Cávado, Ave, Douro (sub-bacias do Inha e Arda) e Vouga) e em plena área de distribuição da espécie (bacia do rio Lima (Castro Laboreiro e Tamente) e bacia do Cávado (sub-bacias dos rios Homem e Gerês), que indiciam declínio continuado da população, nomeadamente  em  situações  de  fragmentação  elevada  (Quaresma  2001).
 
Habitat
A toupeira-de-água utiliza os cursos de água de características lóticas geralmente classificados como pertencentes à zona salmonícola e de transição salmonícola-ciprinícola. Prefere os troços em que as margens propiciem adequadas condições de  abrigo  natural,  pois  não  escava  túneis.  Está  estritamente  dependente  do corredor aquático e ripícola, no qual realiza todas as suas actividades vitais.
 
Factores de Ameaça
As acções directas ou indirectas sobre a morfologia do curso de água, a estrutura do  leito  e  margens,  o  regime  hidrológico  e  a  qualidade  da  água  constituem factores de ameaça aos habitats da toupeira-de-água. Como principais impactos ecológicos  negativos  assinalam-se  a  eliminação,  redução  ou  alteração  da disponibilidade  de  alimento  (essencialmente  os  macroinvertebrados  aquáticos bentónicos) e de abrigos. Estes poderão resultar da construção de obras hidráulicas e  outras  infra-estruturas  na  proximidade  dos  cursos  de  água,  da  poluição  da água, da captação ou desvio sazonal da água, da destruição das margens e da vegetação ripícola natural, e da alteração do coberto vegetal natural de encostas.

Acrescem a estes factores os que afectam a espécie por incidirem directamente sobre os indivíduos ou populações causando mortalidade, redução das condições sanitárias, restrições à dispersão ou isolamento populacional, tais como: a pesca com redes, a utilização ilegal de venenos e explosivos como métodos de pesca e, potencialmente,  a  introdução  de  espécies  não  indígenas.
 
Medidas de Conservação
Com base num estudo nacional sobre a distribuição e o habitat da espécie foram definidas  áreas  preferenciais  para  a  conservação  desta  espécie,  designadas "Sítios  Importantes  para  a  Conservação  da  Toupeira-de-água"  (Queiroz  et  al. 1998),  sobre  os  quais  incidirão  as  principais  acções  de  conservação perspectivadas. Está em elaboração o "Plano de Acção para a Conservação da Toupeira-de-água" (ICN in prep.), o qual visa implementar as medidas necessárias para incorporar os requisitos necessários à conservação da espécie na política de gestão dos cursos de água, implementar medidas de recuperação dos habitats da espécie, conhecer e conservar populações ameaçadas e promover a toupeira-de-água como emblema da conservação da biodiversidade dos cursos de água.

Entre  outras  acções,  prevê-se  prosseguir  com  o  plano  de  monitorização  da ocorrência  da  espécie  realizado  de  5  em  5  anos  e  minimizar  o  efeito  da fragmentação dos habitats e das populações da espécie através da introdução de mecanismos de transposição eficazes em barreiras transversais (barragens de pequena  e  média  dimensão  e  açudes)  utilizando  os  conhecimentos  adquiridos (Chora 2001, Silva 2001, Chora 2002).
in Livro Vermelho dos Vertebrados

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