sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Aquila chrysaetos, Águia-real

Taxonomia
Aves, Accipitriformes, Accipitridae.
 
Tipo de ocorrência
Residente.
 
Classificação
EM PERIGO - EN  (D)
Fundamentação: Espécie com população muito reduzida (c. 60 casais).
 
Distribuição
A águia-real encontra-se distribuída por grande parte do Holárctico, principalmente entre os 70ºN e os 20ºN, concentrando-se em maior número no Paleárctico Oriental e na zona Oeste da América do Norte (Watson 1997, del Hoyo et al. 1994). Na Europa apresenta uma área de nidificação alargada (BirdLife International 2004). A maioria das aves são residentes, mas nas latitudes mais setentrionais, aves sobretudo juvenis e imaturas migram do Norte da Fenoscândia para a Europa Oriental, no Inverno (Tucker & Heath 1994).

Em Portugal a população encontra-se distribuída por cinco núcleos: serras do Noroeste, serras do Alvão e do Marão, Alto Douro e Nordeste Transmontano, Alto Tejo e Bacia do Guadiana (Rosa et al. 2001c). Encontra-se extinta na região das serras Algarvias desde 1995 (L Palma,  com. pess. in Rosa et al. 2001c).

População
Tendo por base as estimativas resultantes do primeiro censo nacional completo realizado em 1997 (Rosa et al. 2001c), estima-se que os cinco núcleos conhecidos possuem o seguinte  efectivo:  nas  serras  do  Noroeste  possivelmente  extinto  na  actualidade  (mas com 3-4 casais em 1997); 1 casal nas serras do Alvão e do Marão; 43-46 casais  no Alto Douro e Nordeste Transmontano; 9 casais no Alto Tejo; 4-5 casais na bacia do Guadiana.

Cerca de 60% dos casais possuem territórios internacionais, nidificando alternadamente nos dois países ou, nas situações em que tal não se verifica, utilizando regularmente território português para caçarem, sendo certo que as suas áreas vitais incluem território espanhol e português (Rosa et al. 2001c).

A comparação com as estimativas anteriores (15 a 20 casais em 1981 (Rufino et  al. 1985), 16 a 20 em 1985, 23 a 30 em 1986, 28 a 38 em 1989, 41 a 50 em 1993 e 51 a 60 em 1996 (Pombal 1996) sugere que a população portuguesa sofreu um aumento nas últimas duas décadas, embora os núcleos das serras do Noroeste (possivelmente extinto, J Jambas, com. pess.) e Alvão-Marão estejam em franca regressão e a espécie se tenha extinguido nas serras Algarvias (Rosa et al. 2001c).

Em termos de estatuto de ameaça a nível da Europa, a espécie é considerada Rara, tendo menos de 10.000 casais (BirdLife International 2004).

Habitat
Esta ave possui vastos territórios, ocupando uma ampla variedade de habitats, preferencialmente em áreas pouco humanizadas, com encostas declivosas e agrestes, em geral com escarpas rochosas, situadas em zonas montanhosas e vales de grandes rios (Tucker & Heath 1994). Evita zonas húmidas, assim como florestas densas, preferindo áreas abertas com vegetação baixa ou dispersa. Utiliza rochedos, árvores e outros pontos de observação como poleiros (Cramp & Simmons 1980).

Nidifica em afloramentos rochosos e escarpas, localizando os ninhos em saliências, os quais por vezes são parcialmente suportados por arbustos que lhes proporcionam sombra, e ocasionalmente utiliza árvores (5 a 10% dos casais). Cada casal dispõe geralmente de vários ninhos alternativos, que podem ser utilizados alternadamente.

Procura alimento em zonas abertas, matagais, terrenos incultos, terrenos agro-pastoris, montados e zonas com escassa vegetação em encostas de pendente suave mas com orografia dobrada, normalmente associados ao aproveitamento extensivo de gado. A subsistência desta espécie em locais onde a presença de presas é baixa está associada à capacidade de explorar extensas áreas em busca de alimento, mas também é devida à sua autonomia competitiva e dieta pouco especializada (Cramp & Simmons 1980).

Factores de Ameaça
Segundo Pacheco et  al. (1999), Palma  et  al.  (1999a)  e  informação  não  publicada  (C Pacheco, A Monteiro & N Onofre, com. pess.), os principais factores de ameaça a esta grande águia são o envenenamento e a perseguição directa, nomeadamente, através do abate, pilhagem ou mesmo da destruição de ninhos, a degradação da qualidade do habitat e  a perturbação dos locais de nidificação. Esta última é geralmente provocada por actividades agro-silvícolas, actividades cinegéticas, de turismo e de lazer, e conduz a um abaixamento da produtividade da população e até mesmo ao abandono de territórios.

A colisão e, principalmente, a electrocussão em linhas de transporte de energia eléctrica constituem também um factor importante de mortalidade não natural. A instalação de parques eólicos e estruturas associadas (linhas eléctricas, caminhos) próximo de locais de nidificação ou de circulação de aves pode ter um impacto significativo devido ao risco de colisão ou electrocussão e ao aumento de perturbação associados.

O abandono e alteração de diversas práticas agro-pecuárias tradicionais, caso da cerealicultura e pastoreio extensivo, bem como uma exploração cinegética desregrada, conduzem a uma diminuição das populações de presas.

A alteração e fragmentação de habitat motivada por rearborizações com pinheiro e eucalipto, a construção de infra-estruturas (barragens, estradas, caminhos) e a actividade de extracção de inertes, constituem um factor importante de degradação do habitat de nidificação e de alimentação.

A depleção da sua presa preferencial - o coelho-bravo Oryctolagus cuniculus -, que é motivada principalmente pela incidência da mixomatose e da virose hemorrágica, tem contribuído certamente para uma redução da disponibilidade alimentar ao longo da sua área de distribuição.

A falta de sensibilidade ambiental por parte de alguns sectores da população, como caçadores, criadores de gado, columbófilos e gestores florestais, que vêem nesta espécie um certo entrave para algumas actividades, é a causa de conflitos que levam à perseguição da espécie.

Medidas de Conservação
A conservação desta espécie passa pela implementação das seguintes medidas:
  • ampliar as sanções legais para os prevaricadores em matéria de perseguição/abate de espécies protegidas e aumentar eficácia dos meios e esforços de fiscalização e vigilância nas áreas de nidificação durante os períodos mais sensíveis;
  • implementar uma estratégia contra o uso de venenos no meio rural;
  • proibir ou condicionar a instalação de traçados eléctricos, parques eólicos, estradas, albufeiras e outras infra-estruturas nas zonas importantes para espécie (nidificação, invernada/dispersão). Corrigir e sinalizar traçados e apoios da rede de distribuição de  electricidade  que  sejam  considerados  perigosos.  Monitorizar  o  impacte  das linhas eléctricas de transporte de energia sobre os núcleos mais importantes da espécie;
  • elaborar  e  implementar  planos  de  gestão  nas  ZPE’s  mais  importantes  para  a espécie  e  promover  a  manutenção  e  valorização  do  mosaico  agro-florestal  nas áreas classificadas em que ocorre através de aplicação de programas de Medidas Agro-Ambientais nos principais núcleos;
  • aumentar  a  disponibilidade  alimentar  associada  às  explorações  agro-pecuárias através da criação e gestão de campos de alimentação de aves necrófagas;
  • estabelecer programas de recuperação das populações de coelho-bravo através da implementação de técnicas de repovoamento e reforço dos efectivos com controlo sanitário, e de uma correcta gestão cinegética;
  • realizar uma campanha nacional de sensibilização e educação ambiental da população rural relativamente às aves de rapina;
  • estabelecer sistemas eficazes de monitorização da espécie nas áreas problemáticas e/ou especialmente importantes para a população nacional.
 in Livro Vermelho dos Vertebrados

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