terça-feira, 20 de novembro de 2012

Circaetus gallicus, Águia-cobreira

Taxonomia
Aves, Accipitriformes, Accipitridae.

Tipo de ocorrência
Estival nidificante.

Classificação
QUASE AMEAÇADA . NT* (D)
Fundamentação: Espécie com população reduzida (que se admite poder ser inferior a 1.000 indivíduos maturos). Na adaptação à escala regional desceu uma categoria, por se admitir que a população em Portugal poderá ser alvo de imigração significativa das regiões vizinhas e por não ser de esperar que essa imigração possa vir a diminuir.

Distribuição
De distribuição predominante Paleárctica, a águia-cobreira ocorre como nidificante no Noroeste de África, nos países mediterrânicos e do Leste da Europa, e estende-se ainda pela Rússia europeia, Iraque, Irão, Cazaquistão até à Mongólia, Índia e arquipélago de Sonda (del Hoyo et al. 1994). Grande parte destas populações migram para a África tropical, numa faixa desde o Senegal até ao Sudão e Etiópia, mas as orientais invernam no subcontinente indiano, cuja população é residente, tal como as das ilhas Sonda (de Lombok a Timor) (del Hoyo et al. 1994).

Em Portugal, distribui-se por uma grande parte do território nacional. Ocorre de modo mais contínuo no Algarve (nas serras), Alentejo, Ribatejo, Beiras interiores e, mais irregularmente, em Trás-os-Montes, Minho, Beira Litoral e Estremadura (ICN dados não publicados).

A comparação entre os atlas nacionais (Rufino 1989 e ICN dados não publicados), sugere que a sua área de distribuição esteja estável, ou em ligeira expansão, nomeadamente no Noroeste do país (Palma et al. 1999a) e, possivelmente, na Beira Litoral (e.g. na faixa costeira).

População
As populações mais importantes estarão localizadas no Alto Alentejo e nas serras algarvias e alentejanas, em montados de sobro e sobreirais de Quercus suber, onde se atingem densidades da ordem dos 2,6-5 casais/100 km2 (Onofre et al. 1999) e 3,3 casais/100 km2 (Pereira 1993). De acordo com as estimativas que têm sido feitas para a espécie, a sua população nacional estará compreendida entre 250 e 600 casais (Palma et al. 1999a, Hagemeijer & Blair 1997, BirdLife International/European Bird Census Council 2000, BirdLife International 2004).

A nível europeu a espécie é considerada como Rara, provisoriamente, apresentando provavelmente um ligeiro declínio (BirdLife International 2004). Em Espanha tem o estatuto de Pouco Preocupante (LC) (Madroño et al. 2004) e, embora se desconheçam as tendências recentes da espécie nesse país, a sua área de distribuição está estável ou localmente em aumento (Mañosa 2003). Admitiu-se assim um risco de extinção em Portugal mais reduzido, tendo-se descido uma categoria na adaptação regional.

Habitat
No Sul, o habitat da águia-cobreira é constituído principalmente por montados e bosques de sobro Q. suber e de azinho Q. rotundifolia e matagais arborizados (Pereira 1993, Palma et al. 1999a, Onofre N dados não publicados). No Centro e Norte, ocorre predominantemente em áreas onde o coberto florestal forma manchas de maior dimensão, dando preferência ao pinhal (Pinus pinaster) para nidificar, tanto nas zonas planas das extensas matas nacionais litorais, como nas zonas serranas (Silva 1998, Onofre et al. 1999). Nas zonas escassamente arborizadas ou não ocorre de todo ou aparece em muito baixas densidade - 0,5 casais/100 km2 (Onofre 1996, Onofre et al. 1999), e é pouco tolerante a espaços demasiado fragmentados e com grande presença humana.

Mesmo nas zonas bastante florestadas, a águia-cobreira necessita de áreas abertas para caçar as suas presas preferidas e quase exclusivas - as serpentes -, áreas estas que poderão distar vários quilómetros do local do ninho (Onofre N dados não publicados).

Factores de Ameaça
A redução da área de pinhal, devido a corte ou a fogos florestais e consequente reconversão de vastas áreas para eucaliptal deve ser o factor de ameaça com maior relevância no Centro e Norte do país. No Sul, e em particular nas serras algarvias, os incêndios que nos últimos anos têm devastado milhares de hectares de habitat florestal parecem ser a causa principal para a forte rarefacção actual da espécie (L Palma, com. pess.).

Nos montados, as podas severas de áreas extensas e o corte e a rarefacção de pinheiros-bravos de grande porte são causa de degradação ou eliminação do seu substrato de nidificação, desestabilizando os casais e aumentando o insucesso reprodutor ao privarem estas águias de pernadas fortes e amplas que impeçam a queda de ninhos (Onofre N dados não publicados).

Outras alterações de habitat, como a intensificação agro-pecuária, que implica despedrega, rotações mais intensas das culturas, irrigação e constituição de densos cobertos forrageiros, ou a reconversão de olivais e pomares velhos, afectam não só a disponibilidade das suas presas preferenciais como a sua acessibilidade por parte desta ave de rapina.

A mortalidade nas linhas de transporte de energia é bastante elevada (SPEA/QUERCUS 2005), ignorando-se o seu real impacto na demografia da espécie em Portugal.

Outros perigos decorrem do abate, por caçadores pouco sensibilizados e esclarecidos, da destruição e roubo de ninhos (nomeadamente durante as operações de descortiçamento ou de poda).

Medidas de Conservação
Nos montados do Sul do país, nas áreas mais importantes de ocorrência da espécie, deveriam ser seguidas regras mínimas de conservação da qualidade do habitat, nomeadamente:
  • ordenamento das podas (tanto na intensidade como na extensão e ordenamento no espaço);
  • condicionamento das plantações de elevada densidade de eucalipto ou pinheiro nos espaços abertos adjacentes ou existentes no seio de áreas de montado;
  • imposição de limites à densidade de plantação nas acções de adensamento/beneficiação ou de arborização, mesmo com sobreiro ou azinheira;
  • manutenção de alguns pinheiros-bravos grandes por unidade de área (e.g. >5 árvores/km2);
Para as regiões centro e norte e nas serras do sul, e à semelhança do proposto para outras aves de rapina de ecologia florestal, as medidas de conservação para esta espécie prendem-se com as políticas florestais de reordenamento, gestão e repovoamento florestal e de prevenção de incêndios. Interessa promover espaços florestais diversificados, tanto ao nível dos cobertos arbóreos como de outros, e prevenir a ocorrência dos grandes incêndios florestais Adicionalmente, os manuais de boas práticas florestais deveriam incluir medidas com vista à conservação de habitat das aves de rapina e de outros valores naturais.

Para além da conservação do habitat florestal, importa também conservar o habitat de caça desta espécie, nomeadamente através da divulgação das Medidas Agro-Ambientais apropriadas e da generalização do seu recurso.

A conservação desta espécie beneficiaria com o desenvolvimento de campanhas de sensibilização relativamente à conservação das aves de rapina, quanto ao património que representam, os seus hábitos e o papel que desempenham nas cadeias tróficas.

Importa também aumentar a eficácia na fiscalização e o agravamento das sanções de actos ilegais, como o abate, a destruição e pilhagem de ninhos desta e de outras espécies praticados por entidades, agentes e outros intervenientes nas actividades venatória e agro-florestais.

A correcção e sinalização de linhas aéreas de transporte de energia terá também efeitos positivos na conservação desta espécie.

À semelhança das restantes espécies de rapinas florestais, deverão ser realizados censos periódicos ou programas de monitorização.

Notas
Ocorre um escasso número de indivíduos durante o Inverno (Onofre 1998b). A espécie é também registada durante as migrações outonais em Sagres (Tomé et al. 1998).

in Livro Vermelho dos Vertebrados

Sem comentários: