terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Pterocles orientalis, Cortiçol-de-barriga-preta


Taxonomia
Aves, Pteroclidiformes, Pteroclididae.

Tipo de ocorrência
Residente.

Classificação
EM PERIGO -– EN (A2c+3c+4c; B2ab(i,ii,iii,iv,v); C2a(i,ii))
Fundamentação: Admite-se que a espécie pode ter sofrido nos últimos 10 anos uma acentuada redução da sua população, com base nas evidências de declínio na área de ocupação e extensão de ocorrência, bem como da redução da área ocupada com pousios; as causas dessa redução populacional são compreendidas e são reversíveis mas não cessaram, admitindo-se que continuem a actuar nos próximos 10 anos. A sua área de ocupação é reduzida (inferior a 500 km2); admite-se que a população tenha fragmentação elevada e apresenta declínio continuado da extensão de ocorrência, área de ocupação, área, extensão e/ou qualidade do habitat. A espécie tem população reduzida (menos de 1.000 indivíduos maturos), admitindo-se que não haja subpopulações com mais de 250 indivíduos maturos ou que todos os indivíduos estejam concentrados numa única subpopulação.

Distribuição
A área de nidificação do cortiçol-de-barriga-preta estende-se desde a Península Ibérica, ilhas Canárias e Norte de África e atravessa Israel, Anatólia e Arménia, e do Cazaquistão até à China e Irão, Afeganistão e Paquistão; apresenta áreas de invernada no Médio e Próximo Oriente (del Hoyo et al. 1997). Na Europa é sedentário e as maiores populações encontram-se em Espanha e na Turquia (Tucker & Heath 1994).

Em Portugal, esta espécie distribui-se pela metade Leste do país, de forma muito fragmentada. A sua área de ocorrência passa por Castelo Branco, Campo Maior, Évora, Mourão até à região de Mértola – Castro Verde (Cardoso 2003). É nas planícies alentejanas que ocorre em maior abundância.

População
De acordo com Cardoso (2003), no censo nacional da espécie realizado em 2003 não foram detectados mais do que 300 indivíduos durante o período que antecipa a reprodução (Abril –Maio). Desde a década de 80 (Rufino 1989) a espécie desapareceu de várias regiões do país, nomeadamente de Trás-os-Montes, Vila Fernando, Alter-Monforte (Cardoso 2003). Em outras zonas os efectivos diminuíram, como são exemplo as regiões de Campo Maior e Évora (Cardoso 2003).

Em termos de estatuto de ameaça a nível da Europa, a espécie é considerada Em Declínio, embora ainda provisoriamente, apresentando um declínio continuado moderado (BirdLife International 2004).

Habitat
Na Península Ibérica é conhecida a sua dependência de substratos agrários e, dentro destes, a relevância que têm as pastagens, os pousios (incluindo pousios com algum mato) e as áreas de restolho (Herranz & Suarez 1999). No entanto pode encontrar-se em zonas de maior altitude do que Pterocles alchata e é mais tolerante a vegetação de maior dimensão (Tucker & Heath 1994).

De acordo com Poeiras (2003), a espécie tem preferência por zonas de pastagem, com reduzido coberto vegetal, distantes de estradas secundárias e próximas dos locais de abeberamento. O mesmo estudo identificou os cultivos de leguminosas como o biótopo preferencialmente utilizado pela espécie.

Cria em áreas nuas e pedregosas, sendo muitos ninhos encontrados nos terrenos lavrados. Nidifica directamente no solo plano, numa pequena cova nua e desprovida de vegetação (Cramp 1985, Herranz & Suarez 1999, Cardoso & Carrapato 2002).

Segundo Herranz & Suarez (1999) está adaptada a condições desérticas e semi-desérticas, necessitando no final do dia de ingerir água provavelmente para compensar a ausência desta na alimentação, em bebedouros que frequenta principalmente durante a época de reprodução, algumas horas após o nascer do sol e antes do pôr do sol. Ferns & Hinsley (1995) afirmam que estes bebedouros se situam em locais relativamente próximos da sua área de alimentação e nidificação, e que a barreira visual é o factor que mais influencia a escolha do cortiçol, sendo claramente preferidas as localizações a maior distância de ondulações no terreno e de cortinas de vegetação.

Factores de Ameaça
Como principais ameaças à conservação desta espécie em Portugal foram identificados os seguintes factores: intensificação da agricultura, florestação das terras agrícolas, construção de estradas, albufeiras e outras infra-estruturas, abandono agrícola e do pastoreio extensivo, sobrepastoreio, abate ilegal, utilização de agro-químicos, perturbação humana, o aumento de predação de ovos e crias, por corvídeos e cães assilvestrados e a colisão com linhas aéreas de transporte de energia.

Trata-se de uma espécie que reproduz entre Junho a Setembro (Cardoso & Carrapato 2002), facto que implica que existam crias não voadoras na abertura da época de caça à rola (a 15 de Agosto) e na abertura da caça geral (a 1 de Outubro) e de que resulta que existem ainda nessa altura muitos machos a percorrer o trajecto até aos bebedouros, onde as rolas (Streptopelia turtur) também se deslocam. E tendo em conta que na caça geral se utilizam cães, esta constitui assim um factor limitante à sobrevivência da nova geração e por conseguinte da conservação da população de cortiçol-de-barriga-preta.

Medidas de Conservação
Parte da área de ocorrência do cortiçol-de-barriga-preta está classificada como Zona de Protecção Especial (Campo Maior, Moura/Mourão/Barrancos, Castro Verde, Vale do Guadiana).

Esta espécie é contemplada no Plano de acção para  a conservação das aves dependentes da estepe cerealífera (Almeida et al. 2003).

Conforme identificado nessa proposta de Plano, a conservação do cortiçol-de-barriga-preta em Portugal depende: da promoção da cerealicultura extensiva com rotação de culturas, mediante aplicação de medidas agro-ambientais e/ou indemnizações compensatórias em áreas estepárias prioritárias); da manutenção do pastoreio extensivo e condicionamento do encabeçamento nas áreas mais importantes de reprodução; do incremento da sustentabilidade económica das áreas estepárias, nomeadamente através da certificação de produtos provenientes de áreas “amigas da avifauna estepária”; da elaboração e implementação de Planos de Gestão nas ZPE’s com ocorrência da espécie; do estabelecimento de uma estratégia conjunta Portugal/Espanha visando a conservação das aves dependentes da estepe cerealífera; do condicionamento/regulamentação da edificação, da actividade turística e da actividades cinegética em ZPE’s importantes para avifauna estepária. Deve ser definida uma rede de áreas de máxima conservação entre os locais de reprodução e respectivos bebedouros, onde a diminuição do uso de pesticidas e adopção de técnicas de pestes alternativas deve também ser promovido; também a construção de vias de comunicação, de vias férreas, de linhas para o transporte de energia e outras infra-estruturas, de plantações florestais, vinhas e perímetros de rega nas áreas prioritárias para a conservação da espécie devem ser sujeitas a AIA, tendo em conta a perda de habitat estepário e a sua fragmentação, o incremento esperado no número de predadores e o efeito cumulativo/sinérgico dos projectos individuais.

Deve ser assegurada a monitorização de parâmetros populacionais, por forma a avaliar as tendências na distribuição e no tamanho da população.

Importa também informar a comunidade rural e a população em geral sobre os valores naturais das áreas agrícolas extensivas de sequeiro e sobre as necessidades de conservação das espécies delas dependentes.

in Livro Vermelho dos Vertebrados

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