Taxonomia
Aves, Gruiformes, Rallidae.
Aves, Gruiformes, Rallidae.
Tipo de ocorrência
Invernante.
Classificação
CRITICAMENTE EM PERIGO - CR (C2a(i,ii)b; D)
Fundamentação: Espécie com efectivo populacional extremamente reduzido (inferior a 50 indivíduos maturos); admite-se que tenha sofrido um declínio continuado, inferido a partir da situação espanhola, assumindo-se que todos os indivíduos estão concentrados numa única subpopulação; admite-se ainda uma flutuação acentuada do número de indivíduos maturos, à semelhança do que se verifica nas populações espanholas.
Distribuição
Actualmente encontra-se maioritariamente na região etiópica, embora exista uma pequena população no mediterrâneo ocidental (Península Ibérica e Marrocos) que constitui o único enclave no Paleártico (del Hoyo et al. 1996). No século XIX, esta população ocupava uma área consideravelmente maior, distribuindo-se como nidificante por Portugal, Espanha, Marrocos, Argélia e Tunísia, podendo ser observados indivíduos erráticos no sul de França, Sardenha, Sicília e Malta durante o inverno (Cramp & Simmons 1980).
Actualmente apenas nidifica em Espanha e Marrocos (Amat & Raya 2003), havendo aparentemente uma pequena proporção da população nidificante em Espanha que inverna em Portugal.
Em Portugal, a informação existente durante as duas últimas décadas é bastante escassa, o que em parte se pode dever à difícil detectabilidade da espécie, que facilmente passa desapercebida entre o bastante abundante galeirão-comum Fulica atra. Conhecem-se, nas duas últimas décadas, cerca de 10 registos durante o período invernal, realizados maioritariamente em lagoas costeiras (Lagoa de Mira, Lagoa de Sto. André, Lagoa dos Salgados, Quinta do Lago, Herdade do Pinheiro) (J Petronilho, com. pess.), mas também de interior (Herdade do Esporão). Aparentemente, apresenta uma maior fidelidade a alguns dos locais referidos, nomeadamente as lagoas de Sto. André e Mira e algumas das lagoas existentes na Quinta do Lago.
Durante o século XIX e início do século XX o galeirão-de-crista tinha uma distribuição alargada no nosso país, surgindo pelo menos no Porto (Paulino dOliveira 1896), Barrinha de Esmoriz (Reis Júnior 1931), Ria de Aveiro (Tait 1887), Baixo Mondego e Ribatejo (Tait 1924), Alentejo e Algarve (Bocage 1869).
População
Embora não existam dados precisos sobre o efectivo populacional que actualmente inverna no nosso país, e mesmo tendo em conta a fraca detectabilidade da espécie, a informação disponível (Noticiário Ornitológico; J Petronilho, com. pess.) sugere que a população deverá ser de muito reduzida dimensão, seguramente abaixo dos 50 indivíduos. Nos últimos anos observaram-se pelo menos 3 indivíduos marcados, provenientes de projectos de re-introdução levados a cabo no sul de Espanha (P Cardia, J Ministro, C Noivo & C Pacheco, com. pess.). A população invernante em Portugal, tal como a população nidificante no Sul de Espanha apresenta uma flutuação acentuada (BirdLife International 2004); a sua presença em Portugal está provavelmente relacionada com baixos níveis de água nas zonas húmidas do sul de Espanha, que aparentemente explicam as flutuações populacionais observadas naquela região (Raya 1993). Por outro lado, as flutuações numéricas que apresenta em Espanha sugerem que a sua população está intimamente relacionada com a marroquina, da qual poderá depender a médio prazo (Amat & Raya 2003).
Durante o século XIX o galeirão-de-crista deverá ter sido bastante mais abundante do que na actualidade (D. Carlos de Bragança inéditos, Bocage 1869). No entanto, as referências à sua nidificação são escassas, havendo apenas um registo, na Quinta da Foja (Baixo Mondego) (Tait 1924). Há evidências da regressão acentuada do efectivo populacional e da área de distribuição na Península Ibérica na segunda metade do século XX (ver Amat & Raya 2003). Nas Marismas do Guadalquivir nos anos 60, a razão entre o galeirão-de-crista/galeirão-comum era de 1/10 (Valverde 1960), enquanto que no período de 1977-1986 a proporção foi calculada em 1/500 (Garcia et al. 1986 in Amat & Raya 2003); em 1991, Máñez (1991) calculou uma proporção de 1/500 a 1/700.
Em termos de estatuto de ameaça a nível da Europa, a espécie é considerada Criticamente em Perigo, apresentando uma população nidificante europeia extremamente pequena (c. 80 casais) e sujeita a flutuações extremas, que tem sofrido um ligeiro declínio (BirdLife International 2004).
Habitat
Frequenta lagoas de água doce ou salobra com ampla cobertura de macrófitas submersas, que constituem parte considerável da sua dieta. Em Espanha, parece haver uma boa relação entre a abundância da espécie e a superfície do plano de água coberta por macrófitas.
Aparentemente a sazonalidade de muitas dessas zonas húmidas condiciona a sua reprodução e mesmo a presença da espécie, observando-se uma relação positiva com anos mais chuvosos (Amat & Raya 2003).
Factores de Ameaça
Aparentemente, esta espécie encontra-se ameaçada sobretudo pela perda e degradação dos seus habitats. Na segunda metade do século XX registou-se uma forte redução das zonas húmidas existentes em toda a região mediterrânica, agravada pela degradação de muitas outras devido a mudanças do regime hídrico (e.g. Baixo Mondego), colmatação e degradação da qualidade da água devido a poluição agrícola, doméstica e industrial.
Em Espanha é referida ainda a sobre-exploração dos aquíferos, que interfere com o período de inundação das lagoas e as secas, como factores negativos responsáveis pelas flutuações populacionais observadas (Amat & Raya 2003). Em Portugal, alguns locais onde a espécie tem sido observada não possuem qualquer estatuto de protecção e tendem a sofrer alterações significativas que podem vir a afectar a qualidade do habitat (e.g. Lagoa dos Salgados). O galeirão-de-crista é muito vulnerável à caça, dado que é virtualmente impossível de distinguir em voo do galeirão-comum. São conhecidos diversos casos de abate no nosso país (Catry & Araújo 1996). Em Espanha refere-se ainda como ameaça a competição por alimento com espécies introduzidas (lagostim-vermelho Procambarus clarkii e carpa Cyprinus carpio) e também o sobre-pastoreio, que elimina a vegetação, aumenta a turbidez da água e reduz a produtividade primária.
Medidas de Conservação
É necessário conhecer melhor a sua situação populacional e requisitos ecológicos, de modo a definir acções de conservação relacionadas com a gestão adequada do habitat.
A interdição da caça ao galeirão-comum nos locais onde ocorre é fundamental para prevenir mortalidade acidental. Por outro lado, a protecção de algumas zonas húmidas com habitat favorável não incluídas na rede nacional de áreas protegidas/ZPEs (e.g. Lagoa dos Salgados) parece ser importante. A integração de medidas de gestão adequadas (e.g. manutenção de níveis de água apropriados e a preservação das populações de macrófitas) nos planos de gestão existentes ou a realizar e a sua implementação afiguram-se fundamentais.
Notas
Extinto como nidificante; no passado o galeirão-de-crista terá sido muito mais abundante e provavelmente um nidificante regular (Catry 1999).
Surgem ocasionalmente indivíduos erráticos na Primavera e final do Verão.
in Livro Vermelho dos Vertebrados
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