sábado, 7 de julho de 2012

Os que foram e já não estão

Os Cursilhos de Cristandade nasceram em Palma de Maiorca ( Espanha ), na década de quarenta.
 
Então, um jovem de 27 anos de idade, de nome Eduardo Bonnín Aguiló, cheio de amor a Jesus Cristo e de entusiasmo apostólico, conhecendo os ambientes descristianizados da sua terra e de toda a Espanha, deu 'um grito de alerta' para que a juventude acordasse e fosse para os ambientes do mundo propagar o Evangelho, à semelhança do que tinha feito S. Paulo.
Os Cursilhos de Cristandade expandiram-se por todo o mundo, a Diocese de Beja inclusive, nela já se realizaram 51 Cursilhos de Cristandade para Homens e 40 Cursilhos de Cristandade para Mulheres.

No entanto muitos são os cursilhistas que ao longo dos tempos se afastam das actividades, por múltiplas razões, no entanto esse não é um problema de agora, já Eduardo Bonnin Aguiló escrevia sobre o assunto:
A verdadeira história dos Cursilhos é a história dos Cursilhistas, ao observá-la, comprovamos que muitos que receberam a mensagem, mas não a vivem no seu aqui e no seu agora.

Esta realidade obriga-nos a reflectir para ver se localizamos o ponto de fractura, o ponto de fuga ou o ponto de paragem que deixou de motivar.

Desejamos que o esclarecimento deste processo sirva:
- Para evitar que continue produzindo-se, já que ao estar identificado o perigo, é mais fácil preveni-lo.
- Para conseguir dento do possível que não culpe o Cursilho da desilusão que, se têm suficiente personalidade, irremissivelmente se acabará produzindo, precisamente por ter abandonado (consciente ou inconscientemente) o caminho do Cursilho.

AO SAIR DO CURSILHO...
Ao sair do Cursilho conseguimos: 
  • Que entenda o que é ser pessoa
  • Que o queira ser

Não tem nenhuma fronteira, porque a sua fronteira é a sua capacidade optimizada pela Graça.
Todas as...

  • Intenções
  • Atitudes
  • Posturas
encontram um vigor novo ao...
  • motivá-las
  • dinamizá-las
  • acrescentá-las
na órbita da fé.

Se é radicalmente...

  • original
  • espontâneo
  • oportuno

O que serve, pelo facto de vivê-lo, mostra-se e contagia-se com...

  • naturalidade
  • normalidade
  • humanidade

Ao ser o que é não necessita deixar de estar onde estava. Cada momento vive com mais ilusão onde estava, porque acerta ao ver com uma luz sempre nova o quotidiano.

Enquanto tem o seu rumo, capta, saboreia e faz eficazes, todos os meios que o pós-cursilho lhe oferece, já que os emprega para tudo o que são necessários e só para o que são necessários.

Enquanto avança nesta órbita, o eco que produz a sua postura na sua vivência concreta, vai desde a surpresa admirativa, ao "gozo" não menos admirativo, de quem com ele trata diariamente.

Sem dúvida sucede com frequência que este caminho de fé, nas suas duas vertentes cristã e humana (de transcendência e personalização) não tarda em ser convertido em outra coisa, que não obstante guardar uma aparência similar, é substancialmente distinta: 
  • ou muda o seu horizonte iluminado pela fé, por um mero planeamento moral que lhe faz constantemente e permanentemente uma série de exigências de conduta, que parece que o libertam porque o dispensam da tensão criativa que mantinha, mas que perde ou lhe complicam porque não encaixam com as novas realidades (que descobre ou que se lhe impõe) ou o acabam aborrecendo.
  • ou se instala numa religiosidade que lhe permite seguir crendo que tem fé, quando na realidade a sua fé foi trocada por simples confiança naqueles que dizem actuar em nome do Senhor. A aparente segurança que adquire, lhe gera uma atitude de superioridade, ao menos espiritual, na qual se centra numa circunstância e numa actividade, já tipicamente "religiosa", desvinculada da sua realidade quotidiana, que segue cumprindo sem ilusão e até com comiseração dos demais.

ALIENADOS
Os que se refugiam na moral, iniciam um processo que os leva, de estar centrados em si mesmos e projectados em todos os campos da sua realidade e da sua intenção, a estar polarizados no profissional, nos negócios, na política, no social, etc, etc... e convencidos de que a sua projecção os justifica como pessoas, até que se decepcionam, se neurotizam ou se alienam definitivamente.
Mudaram o seu "homem velho" por outro mais moderno, que não é sem dúvida o "homem novo" que inicialmente depois do Cursilho, conseguiu ser.

Os que se instalam na religiosidade, a exercem:
Nos Cursilhos: 
  • os encantados com o método
  • os que manipulam o Movimento

Noutra vertente:

  • uns que desde a outra vertente, se aproveitam dos Cursilhos.
  • outros que vêem na outra vertente, a superação dos Cursilhos.

Por livre:

  • Ainda que sempre à sombra ou às ordens de um Reverendo distinto.
  • É bastante frequente que a pessoa, para os aspectos laicos da sua vida, se refugie na moral, enquanto se instala na religiosidade, nos seus tempos livres, como quem vai ao seu chalé aos fins-de-semana.

MOTIVOS
Os motivos que originam mais frequentemente este processo de troca da fé pela moral ou a religiosidade, são:

DECEPÇÃO
Produz-se normalmente quando quem tem suficiente sentido crítico, observa que o que vivem os dirigentes e os reverendos no quotidiano, não está ao nível do que lhe proclamaram no Cursilho e do que ele mesmo está vivendo... ou considera humildemente que se está passando da cabeça ou se sente vítima de uma piedosa fraude. Não ousará ser mais que os seus irmãos maiores na fé e substituirá a admiração dos santos pela imitação dos pios.

DESENCANTO
Vem, normalmente, por causa da atitude de algum ou alguns dirigentes (muito especialmente se são sacerdotes) quando vendo-o entusiasmado, lhe fazem o "caritativo" favor de dizer-lhe que compreendem o seu entusiasmo, mas tanto a sua ilusão, como os mesmos Cursilhos são algo a superar, como se se pudesse ser algo mais do que cristão.

ENCANTAMENTO
Como o homem que tem fé e a vive, a expressa sempre com ilusão na sua normalidade de maneira espontânea e não tem a sensação de fazer nada extraordinário, não costuma faltar quem aproveita esta disposição para o convidar a "aplicar" numa determinada actividade ou compromisso o seu afã de tornar operativa a sua fé.
Ao começar a actuar por motivos cristãos fora da sua normalidade, não precisa da plena coerência entre a sua vida e a sua acção, pelo que se vai encantando com a sua acção, descuidando a sua vida.

GARANTIAS
A linha que marca o próprio Cursilho para a orientação do cursilhista, é a que se consegue com o clima de comunicação que se facilita na Reunião de Grupo e na Ultreia.
Ao comunicar cada um o que vive, o que quer viver ou o que lhe dói não viver, vão-se entendendo duas coisas:
- A realidade do outro é sempre objecto de respeito, por vezes admirativo e exigente, mas nunca banco de manipulação.
- A interacção das diversas realidades que se comunicam entre si, actua com exigência, para que cada uma delas vá sendo mais profunda, autêntica e eficaz.
Sem dúvida, é muito difícil que os cristãos entrem nesta dinâmica de comunicação, abandonando a atávica relação de hierarquia-submissão em que sempre nos temos movido. Daí que com frequência não nos limitemos a compartilhar experiências e opiniões, mas que procuremos a via de poder dar o receber conselhos, bendições ou excomunhões.

Nesta via costuma suceder que quem intenta viver, quase sempre limpamente e às vezes por comodidade, solicite o conselho ou ditame sobre a sua conduta, de quem, julga mais autorizado nas coisas do espírito.

Nestas ocasiões o irmão maior consultado não pode ou não sabe deixar de exercer como tal, ainda que, isso sim, benevolamente, lhe costume dar o seu ditame em sentido aprobatório.

Ao ter firmado com ele o aval da sua actual conduta, possivelmente não se precatou de que lhe modificou essencialmente, com o seu ponto de referência, a sua escala de valores. Quem recebeu o aval, tenderá a instalar-se no bastante da moral ou da religiosidade. Enquanto tanto ele como o Senhor estavam contentes, mas não satisfeitos, no seguimento a satisfação e a consciência de ser bom e ainda melhor que os outros, é uma evidência quase imperceptível de que parou os motores, pelo que já somente poderá planear.

DESPISTE
As quedas ocasionais por motivos verdadeiramente relacionados com a pessoa e o Evangelho, são sempre separáveis, a menos que os "irmãos" que os percebem
     - ou não lhes dói, como doeu ao Senhor e a ele
     - ou não sabem perdoar-lhe e assumi-lo como o faz o Senhor.

A moral das grandes religiões é geralmente uma ética de proibições e precisamente por isso, e ainda que não o pareça, deixa muito mais campo à iniciativa e à criatividade pessoal, já que nunca prescreve o que há que fazer, nem como há que fazê-lo, limitando-se a excluir somente uns quantos comportamentos facilmente identificáveis como não convenientes.

Por outro lado como formas de moral moderna se nos oferecem autênticos códigos de conduta individual e social que dizem libertar o homem ao desligá-lo de umas proibições e substituí-las por umas imposições.

O FUNDAMENTAL CRISTÃO
Por contraste com o "Triângulo das Bermudas" que se diz ser um lugar onde se perdem barcos, aviões e pessoas, todos temos dentro e à nossa disposição, outro "triângulo" que serve para o contrário: para que a pessoa que o deseje possa encontrar-se a si mesma.

COMPREENDER QUE PODE SER MELHOR (Possibilidade)
ADMITIR-SE COMO É (Identidade)
FAZER O CAMINHO EM COMPANHIA (Realização)

A pessoa ao encontrar-se neste triângulo básico e orientado por ele na sua situação concreta

  • assume o passado
  • agradece o presente
  • crê no futuro

Dir-se-ia que tomando posse da sua personalidade percorre o itinerário que vai de ser um simples individuo a sentir-se pessoa.

Talvez o mais complicado seja fazer compreender as realidades simples.
A simplicidade dos Cursilhos de Cristandade, que é sem dúvida alguma, o ponto de arranque da sua potência e da sua universalidade, não foi ainda captada nem assumida por muita da gente que os maneja, inclusive o seu entusiasmo e em ocasiões até com eficácia.

Tudo o profundo é simples. A pessoa, o Evangelho, são simples.
A simplicidade do profundo faz mais atractiva a tentação de complica-lo; e ele sempre é fácil, porque o profundo é sempre frágil manipulável e adulterável.

Quando se introduz complicação nos Cursilhos, costuma fazer-se com a melhor das intenções, para melhorá-los, para adaptá-los ao tempo e ao lugar, etc... mas o intento costuma reverter na deturpação ou na instrumentalização da mensagem, e serve só para aumentar a proliferação da flora e da fauna das "coisas pias" que já existem em quantidades astronómicas na Igreja de Deus. Tal coisa é inevitável que suceda, já que o Movimento dos Cursilhos, desde a sua raiz à sua intenção, está pensado claramente para estar ao serviço do FUNDAMENTALMENTE CRISTÃO, nada mais que o fundamental, mas tampouco menos.

Eduardo Bonnín


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