Sem dúvida para ajudar-nos a explicar melhor o que queremos dar a entender, não para voltar ao passado, mas sim para ver as possibilidades reais que podem existir onde se esforcem para compreendê-lo e concretizá-lo, cremos conveniente trazer a este IV Encontro, umas perguntas que para abrir o caminho até à mentalidade dos Cursilhos, fazíamos já há mais de trinta ou quarenta anos, aos que já queriam então e parece que querem também hoje - queira Deus que não o consigam - levar os Cursilhos por caminhos afastados e estranhos à sua finalidade:
1. Não é um grave problema o que muitos baptizados não vivam o seu baptismo?
2. Não valeria a pena que houvesse um Movimento encarregado de resolver este grave problema?
3. Não é verdade que o problema não se resolveria fazendo-os viver o baptismo somente três dias?
4. Não crês que todas as obras da Igreja sairiam ganhando e teriam que dar as boas-vindas a um movimento que viesse preencher este vazio durante tanto tempo sentido na Igreja?
5 Crês que o viver o baptismo há-de coincidir necessariamente com o estar enquadrado numa organização ou associação católica?
6. Crês que a salvação está condicionada à vida de graça ou ao estar enquadrado em alguma associação? Com que convém mais preocupar-se, com o enquadrar ou o salvar?
7. Podem os analfabetos ser santos?
Hoje estas perguntas, colocadas pelo Vaticano II, entendemos que deveriam formular-se assim.
1. Não é um grande problema que exista no nosso ambiente muita gente que não sabe que Deus o ama?
2. No valeria a pena citá-la em algum lugar isolado, para que, com muita fé, muita esperança e muita caridade em acto, demonstrada por uma atitude de compreensão atenta e ilusionada, trataríamos de contagiar-lhes a fé que temos nós em tão boa noticia?
3. Não é verdade que, se nós nos limitarmos somente a três dias de amistosa convivência e não lhes facilitarmos e lhes simplificarmos o caminho para que o vivido durante três dias possam vivê-lo na sua vida normal, lhes teríamos feito uma maldade? Por aquilo de que: “Um cego que nunca viu e não sabe o que é ver, nunca tem tanta pena, como o que já viu e não vê”.
4. Não crês que todo o que vimos chamando cristão, apesar da boa vontade e a entrega generosa de muitos, necessita de uma aproximação real e efectiva até às pessoas que não tem fé ou não sabem se a tem, porque vivem absorvidos por coisas que crêem importantes, mas que não lhes chegam. De entre elas e talvez as de mais personalidade, costumam ser protagonistas de muitas coisas erradas, pelo único motivo de que não lhes chegou a notícia de que Deus os ama numa linguagem, acessível e de estilo apropriado para não só captá-la, mas também para até ter vontade de ir aprofundando-a?
5. Crês que estas pessoas que com o maior respeito e sem menosprezá-las, vem a ser o que na primitiva Igreja, chamavam os gentios, temos que exigir-lhes que, de boa vontade, cumpram todos os requisitos da Lei, antes de um contacto, efectuado com tacto amistoso, natural, verdadeiro e continuado, que a Reunião de Grupo e a Ultreia, quando são verdadeiras, simplificam, facilitam e dinamizam?
6. Crês que despois que o Vaticano II, que fez entrar pela porta grande da Igreja, o conceito e o critério de liberdade, se tem que pressionar os recém-convertidos, para que entrem a formar parte de alguma das organizações cristãs de sempre, onde as coisas funcionam com distintas revoluções e onde, quase de certeza, não vão ser compreendidos, apesar da melhor vontade por ambas as partes, somente ao risco de que se lhes apague o espirito, no lugar de facilitar-lhes os meios para que lhes seja acrescentado, convivendo próximo dos que como ele, viveram um dia a bonita aventura de um Cursilho? Crês que a salvação está condicionada a ter que metê-los, queiram ou não, nas nossas velhas redes de sempre? Crês que pelo mero facto de estar nelas percorrerão já automaticamente, o caminho que vai desde o seu comportamento à sua plena convicção?
7. Não é surpreendente que uma pessoa sem muita cultura humana, mas com muita graça divina, possa ser o instrumento, não somente para que um intelectual se encontre com Cristo, mas para que, ao vê-lo vivo nos irmãos, se assombre verdadeiramente, descubra dimensões novas no seu viver, se torne mais humilde e se alegre, se o Senhor lhe concede a graça que, sem sentir-se superior, ou mais ainda, sentindo-se todo o contrário, chegue a qualificar de grande presente de Deus, o que tenha propiciado uma circunstância que lhe faça possível viver amistosamente lado a lado, com gente simples, fazendo Reunião de Grupo e assistindo à Ultreia?
Eduardo Bonnín
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