sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

A final é tudo a Preto e Branco

Pode parecer estranho, mas os píxeis dos sensores da imagem apenas capturam luminosidade e não cor. Eles registam a escala de cinzentos – uma série de tons desde o branco até ao preto puros. A forma como a câmara cria uma imagem a cores a partir da luminosidade registada é uma história interessante, que provém de um passado distante.

A escala de cinzento é perceptível nas fotografias a preto e branco e é formada por uma gama de tons desde branco puro até preto puro.

O sistema RGB usa cores
aditivas. Quando as três
são misturadas em quantidades
iguais formam o branco. Quando
o vermelho e o verde se sobrepõe
formam o amarelo, e por aí fora.
Quando a fotografia foi inventada, em 1840, só era possível registar imagens a preto e branco. A procura de um processo a cores foi longa e árdua e, no intermédio, muitas foram as imagens coloridas à mão (levando os fotógrafos a afirmar “Então também é preciso saber pintar”). Uma das revelações mais importantes veio da parte de Clerk Maxwell, que, em 1860, descobriu que as fotografias a cores podiam ser criadas através da película a preto e branco e dos filtros vermelho, verde e azul. Ele levou o fotógrafo Thomas Sutton a fotografar três vezes uma fita tartã, cada uma das quais com um filtro de cor diferente na objectiva. As três imagens a preto e branco foram depois projectadas sobre uma tela com três projectores diferentes, cada um dos quais equipado com o mesmo filtro de cor usado na captura da imagem que projectava. Quando alinhadas, as três imagens projectadas formavam uma fotografia a cores. Mais de um século depois, os sensores de imagem funcionam praticamente da mesma forma.

As cores de uma imagem fotográfica normalmente são baseadas nas três cores primárias – vermelho, verde e azul (RGB). Este é o chamado sistema de adição da cor, porque todas as cores são criadas a partir da mistura das três primárias. O sistema RGB é utilizado para formar as cores quando a luz é projectada, tal como num ecrã (ou no olho humano). Um outro sistema de cores utiliza o azul ciano, o magenta, o amarelo e o preto (CMYK) para criar as restantes cores. Este, é usado em praticamente todas as impressoras, uma vez que é o sistema de cores utilizado com a luz reflectida. É designado por subtractivo, porque absorve ou subtrai as cores de forma a que apenas o vermelho, o verde e o azul sejam reflectidos.

Maxwell (em cima) e a sua
fotografia da fita tartã,
tirada em 1861 (em baixo).
Uma vez que a luz natural é formada por luz vermelha, verde e azul; se colocar os filtros vermelho, verde e azul sobre os píxeis individuais de um sensor da imagem ele pode criar imagens a cores, tal como aconteceu com as fotos de Maxell, em 1860. Recorrendo a um processo chamado interpolação, a câmara avalia a cor efectiva de cada pixel combinando a cor que é captada directamente pelo seu próprio filtro com as outras duas cores captadas pelos píxeis contíguos.

Uma vez que cada píxel do sensor tem um filtro de cor que
apenas deixa passar uma cor, a imagem capturada regista
a luminosidade dos píxeis vermelhos, verdes e azuis
separadamente. (Normalmente a quantidade de filtros
verdes corresponde ao dobro dos fotodíodos, porque, uma
vez que o olho humano é mais sensível a essa cor, é
importante que seja registada com precisão.)
Ilustração: cortesia da Foveon (www.foveon.com).
Para criar uma imagem a cores, o processador da imagem
da câmara calcula ou interpola a cor real de cada píxel,
analisando a luminosidade da cor gravada por esse e pelos
píxeis contíguos. Aqui, a cor real de alguns píxeis verdes
está a ser interpolada pelas cores dos oito píxeis que o rodeiam.
Cada cor (vermelho, verde e azul) pode capturar pelo menos
256 tons. Nos extremos opostos da gama de tons (sombras
e altas luzes) há apenas um tom puro em cada um
deles (preto e branco, respectivamente). Estes não têm
quaisquer detalhes.
 
Cada píxel do sensor da
imagem tem os filtros
vermelho, verde e azul
misturados com os
fotodíodos e dispostos
em padrões especialmente
pensados para produzir
imagens nítidas e cores reais.
Os padrões variam, mas os
mais comuns são estes em
mosaico, da Bayer.
Cada vez que tira uma fotografia são feitos milhões de cálculos em apenas alguns segundos. São estes cálculos que permitem à câmara interpolar, prever, capturar, comprimir, filtrar, armazenar, transferir e exibir a imagem. Todos estes cálculos são executados na câmara através do processador de imagem - semelhante ao de um computador, mas específico para esta tarefa. A forma como o processador executa estas funções é essencial para a qualidade das suas imagens, mas não é fácil avaliar a qualidade a partir dos anúncios publicitários dos fabricantes. Para muitos de nós estes processadores não passam de enigmáticas caixas pretas, sobre as quais os publicitários podem afirmar o que bem entenderem. Só as fotografias podem dar mostras da sua qualidade.


As câmaras com processadores de imagem programados recentemente podem ser definidas pelos fabricantes para executar um número infindável de funções. Actualmente, entre essas funções pode estar incluída a edição de imagem e efeitos especiais na própria câmara, como: remoção de olhos vermelhos, melhoramento da imagem, margens, modo panorâmico, remoção de desfoco provocado pelo movimento da câmara, entre outras.

Quando um fabricante de câmaras programa os seus processadores, o objectivo não é exactamente reproduzir as cores de uma cena. Em vez disso, através de um processo chamado gestão de cor, a sua finalidade é criar aquilo que os programadores acreditam ser uma reprodução apelativa. Frequentemente o contraste e a saturação da cor são aumentados, sobretudo nos meios tons, e as altas luzes mais intensas são comprimidas para obter melhores impressões e uma boa apresentação nos meios de exibição mais comuns. O processamento de imagem pode ser tão marcante que para algumas pessoas é possível distinguir uma imagem captada com uma câmara da Nikon ou da Canon, por exemplo.


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