Até aqui, falei sobre os supercomputadores e sobre a evolução dos processadores, que evoluíram das válvulas para o transístor e depois para o circuito integrado. No restante deste capítulo, falarei sobre os primeiros computadores pessoais, que começaram a fazer a sua história a partir da década de 70. Tempos difíceis aqueles!
Como disse a pouco, o primeiro microchip, o 4004, foi lançado pela Intel em 1971. Era um projecto bastante rudimentar, que processava apenas 4 bits por vez e operava a apenas 1 MHz. Na verdade, o 4004 era tão lento que demorava 10 ciclos para processar cada instrução, ou seja, ele processava apenas 100.000 instruções por segundo. Hoje em dia esses números parecem piada, mas na época era a última palavra em tecnologia. O 4004 foi usado em vários modelos de calculadoras.
Pouco tempo depois, a Intel lançou um novo processador, que fez sucesso durante muitos anos, o 8080. Este já era um processador de 8 bits, e operava a incríveis 2 MHz: “Ele é capaz de endereçar até 64 KB de memória e é rápido, muito rápido!” como é dito num anúncio publicitário do Altair 8800, que é considerado por muitos o primeiro computador pessoal da história. Você já deve ter ouvido falar dele.
O Altair era baseado no 8080 da Intel e vinha com apenas 256 bytes de memória, realmente bem pouco. Estava disponível também uma placa de expansão para 4 KB.
No modelo básico, o Altair custava apenas 439 dólares na forma de Kit, isso em 1975, em valores de hoje isso equivale a quase 4.000 dólares, parece bastante, mas na época esse valor foi considerado uma pechincha, tanto que foram vendidas 4.000 unidades em 3 meses, depois de um artigo da revista Popular Eletronics. Esse “modelo básico” consistia nas placas, luzes, chips, gabinete, chaves e a fonte de alimentação, junto claro com um manual que ensinava como montar o aparelho. Existia a opção de compra-lo já montado, mas custava 182 dólares a mais.
Pouco tempo depois, começaram a surgir vários acessórios para o Altair: um teclado que substituía o conjunto de chaves que serviam para programar o aparelho, um terminal de vídeo (bem melhor do que ver os resultados na forma de luzes), uma drive de disquetes (naquela época ainda se usavam disquetes de 8 polegadas), placas de expansão de memória e até uma impressora, para quem tivesse muito dinheiro, claro. Até mesmo Bill Gates ajudou, desenvolvendo uma versão do Basic para o Altair, imortalizado na foto abaixo:
O Altair era realmente um sistema muito simples, que não tinha muita aplicação prática, mas serviu para demonstrar a grande paixão que a informática podia exercer e que, ao contrário do que diziam muitos analistas da época, existia sim um grande mercado para computadores pessoais.
A Apple foi fundada em 1976, depois que o projecto do Apple I foi recusado pela Atari e pela HP. Uma frase de Steve Jobs descreve bem a história: “Então fomos à Atari e dissemos “Ei, nós desenvolvemos essa coisa incrível, pode ser construído com alguns dos seus componentes, o que acham de nos financiar?” Podemos até mesmo dar a vocês, nós só queremos ter a oportunidade de desenvolvê-lo, paguem-nos um salário e podemos trabalhar para vocês. Eles disseram não, fomos então à Hewlett-Packard e eles disseram “Nós não precisamos de vocês, vocês ainda nem terminaram a faculdade ainda”.
O Apple I não foi lá um grande sucesso de vendas, vendeu pouco mais de 200 unidades, mas abriu caminho para o lançamento de versões mais poderosas.
Ele usava um processador da Motorola, o 6502, que operava a apenas 1 MHz. Em termos de poder de processamento ele perdia para o i8080, mas tinha algumas vantagens a nível de flexibilidade. O Apple I vinha com 4 KB de memória e saídas para teclado, terminal de vídeo e para uma unidade de fita. Existia também um conector reservado para expansões futuras.
Naquela época, as fitas cassete eram o meio mais usado para guardar dados e programas. As disquetes já existiam, mas eram muito caras. O grande problema das fitas cassete era a lentidão, tanto para ler quanto para gravar e a baixíssima confiabilidade. Isso sem contar com o facto das fitas se desgastarem com o tempo... realmente eram tempos difíceis.
Este primeiro modelo foi logo aperfeiçoado, surgindo então o Apple II. Este sim fez um certo sucesso, apesar do preço salgado para a época, US$ 1298, que equivalem a quase 9.000 dólares em valores corrigidos.
O Apple II vinha com 4 KB de memória, como o primeiro modelo, a novidade foi uma ROM de 12 KB, que armazenava uma versão da Basic. A memória RAM podia ser expandida até 52 KB, pois o processador Motorola 6502 era capaz de endereçar apenas 64 KB de memória, e 12 KB já correspondiam à ROM embutida. Uma das novidades naquela época era uma placa de expansão, fabricada pela Microsoft (eles de novo?), que permitia desabilitar a ROM e usar 64 KB completos de memória.
O Apple II já era bem mais parecido com um computador actual, já vinha com teclado e usava uma televisão como monitor. O aparelho já vinha com uma unidade de fita cassete, mas era possível adquirir separadamente uma unidade de disquetes.
Uma variação do Apple II, o Apple IIc, lançado em 1979, é considerado por muitos o primeiro computador portátil da história, pois tinha até um monitor de LCD como opcional.
Em 1979 surgiu um outro modelo interessante, desta vez da Sinclair, o ZX-80. Este não era tão poderoso quanto o Apple II, mas tinha a vantagem de custar apenas 99 dólares (pouco mais de 400 em valores corrigidos) Foi provavelmente o primeiro computador popular da história. O processador era um Z80, da Zilog, que operava a apenas 1 MHz. A memória RAM também era algo minúsculo, apenas 1 KB, combinados com 4 KB de memória ROM que armazenavam o Basic, usado pelo aparelho. Como em qualquer sistema popular da época, os programas eram armazenados em fitas cassete.
Considerando preço, o Z80 foi uma máquina surpreendente, mas claro, tinha pesadas limitações, mesmo se comparado com outras máquinas da época. Apesar dele já vir com uma saída de vídeo, a resolução gráfica era de apenas 64x48, mesmo em modo monocromático, já que o adaptador de vídeo tinha apenas 386 bytes de memória. Existia também um modo texto, com 32 x 24 caracteres.
Outro que não poderia deixar de ser citado é o Atari 800. Sim, apesar de ser mais vendido como um video-game, o Atari 800 também podia ser usado com um computador relativamente poderoso, chegou a ser usado em algumas universidades. Ele foi o antecessor do Atari 2600, conhecido por aqui.
Ele vinha de fábrica com 16 KB de memória RAM, que podiam ser expandidos para até 48 KB, com mais 10 KB de memória ROM. O sistema operativo era o Atari-OS, uma versão do Basic.
Originalmente, o sistema vinha apenas com a entrada para os cartuchos, com o sistema operacional ou jogos, mas era possível adquirir separadamente uma unidade de disquetes e um teclado, que o transformavam num computador completo. Não existiram muitos programas para o Atari, o foco foram sempre os jogos, o principal uso do Atari como computador era de poder usar programas em Basic, por isso o seu uso em escolas.
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