terça-feira, 12 de abril de 2011

Chondrostoma arcasii, Panjorca

Taxonomia
Actinopterygii,  Cypriniformes,  Cyprinidae.

Tipo de ocorrência
Residente.  Endémica  da  Península  Ibérica.
 
Classificação
EM PERIGO - EN  (B1ab(ii,iii,iv)+2ab(ii,iii,iv))
Fundamentação: Espécie com extensão de ocorrência e área de ocupação muito reduzidas, inferiores a 200 km2 e 50 km2, respectivamente. Verifica-se uma elevada fragmentação da sua distribuição e admite-se que tem havido um declínio da área de ocupação e da área, extensão e qualidade do habitat, assim como do número  de  localizações.
 
Distribuição
Em  Espanha  tem  uma  ampla  distribuição:  ocorre  nas  bacias  hidrográficas  da Galiza (nomeadamente na bacia hidrográfica do Minho), nas bacias hidrográficas do Douro, Tejo, Guadiana, Ebro, Francolí, Turia, Palancia, Mijares e Rondla de la Viuda  (Doadrio  2001a).

Em  Portugal,  a  espécie  tem  uma  distribuição  localizada,  ocorrendo  nas  áreas mais  a  montante  da  bacia  hidrográfica  do  Douro,  em  particular  nas  sub-bacias hidrográficas do Sabor e Távora e em pequenos afluentes do troço internacional do  Rio  Douro  (Collares-Pereira  1983a,  FAME  2003),  tendo  sido  recentemente também referida para a sub-bacia hidrográfica do Corgo, localizada mais a jusante (Cortes et al. 2001a). Parece ocorrer também em algumas bacias hidrográficas a norte  da  bacia  hidrográfica  do  Douro,  nomeadamente  na  bacia  hidrográfica  do Minho (Collares-Pereira 1983a, INAG 2000c, V Almada com. pes.) e na do Lima (Cortes et al. 2002a). Na bacia hidrográfica do Tejo não foi recentemente encontrada, embora existam registos anteriores (Collares-Pereira 1983a). A actual distribuição localizada dos núcleos populacionais e o baixo número de efectivos em cada local (FAME 2003) aponta para que o declínio da qualidade do habitat possa ter levado ao declínio da área e até mesmo do número de sub-bacias hidrográficas ocupadas  pela  espécie.
 
População
Calcula-se que o número de indivíduos maduros seja superior a 10.000. A redução da população nos últimos 10 a 13 anos poderá ter sido inferior a 30% e poderá continuar a verificar-se nos próximos 10 a 13 anos, ou em qualquer período da mesma amplitude que abarque o passado e o futuro. As causas da redução embora geralmente compreendidas, não são reversíveis, nem cessaram. A avaliação da redução é baseada no declínio da qualidade do habitat e também na expansão de  espécies  não-indígenas.
 
Habitat
Espécie que reside nos cursos de água de carácter permanente, de ordem baixa, substrato relativamente grosseiro e com escassa presença de macrófitos (Cortes et  al.  2001a,  2002a),  ocorrendo  em  albufeiras  de  dimensão  variável  (Cortes  & Ferreira 2000, Ferreira & Godinho 2002). O seu habitat preferencial é variável ao longo do ciclo de vida. Em particular, os indivíduos de classes etárias mais velhas ocupam locais mais profundos (Rincón & Lobón-Cervia 1989).

Factores de Ameaça
Os principais factores de ameaça são a degradação do habitat, provocada sobretudo pela construção de barragens na bacia hidrográfica do Douro (elevado número de grandes albufeiras e mini-hídricas), alteração do regime natural hidrológico (regularização dos caudais ou exploração dos recursos hídricos), extracção de inertes, degradação da qualidade da água, nomeadamente devida a indústrias agro-alimentares, e também a introdução e expansão de espécies não-indígenas (INAG 1999b), a qual poderá ter efeitos a nível da competição, predação ou como via de disseminação  de  agentes  patogénicos.  O  facto  de  esta  espécie  apresentar  em Portugal uma distribuição circunscrita a algumas sub-bacias aumenta a sua vulnerabilidade face aos factores de ameaça, a que acresce ainda a possibilidade de hibridação com outras espécies do mesmo género.
 
Medidas de Conservação
Esta espécie está abrangida pela legislação nacional e internacional de conservação. Vários locais da bacia hidrográfica do norte do país foram designados para a lista nacional de sítios ao abrigo da Directiva Habitats devido à sua presença, entre outros valores, mas carecem ainda de medidas de ordenamento e gestão dirigidas  à  espécie.

A medida mais importante a implementar é a conservação do habitat dos cursos de água onde está confirmada a ocorrência da espécie e o controlo das espécies não-indígenas, medidas previstas nos Planos de Bacia Hidrográfica do Douro, do Lima  e  do  Minho  (INAG  1999b,c,  2000c).  As  medidas  preconizadas  na Directiva-Quadro  da  Água  deverão  atingir  a  melhoria  permanente  da  qualidade dos  habitats  aquáticos.  É  também  necessário  implementar  o  Plano  Estratégico de  Saneamento  e  Tratamento  de  Águas  Residuais  e  melhorar  a  fiscalização  e controlo da extracção de inertes. Devem ser minimizados os impactos de infraestruturas  hidráulicas  implantadas  ou  a  implantar,  através  da  manutenção  da conectividade  entre  as  populações  e  evitando  a  diminuição  ou  variação  brusca dos caudais. Outras medidas necessárias são a gestão sustentada da pesca, a melhoria da sua fiscalização, a sensibilização do público para a conservação dos ecossistemas aquáticos nomeadamente sobre os efeitos nefastos das introduções de espécies não-indígenas. A realização de investigação para melhor conhecer a sua distribuição, biologia e ecologia permitirá compreender melhor as causas da sua  fragmentação  e  declínio.  Em  particular,  é  necessário  realizar  levantamentos piscícolas a norte da bacia hidrográfica do Douro e nas bacias hidrográficas da região Centro, de modo a determinar com exactidão a sua distribuição. É imperativo monitorizar os efectivos populacionais e a eficiência das medidas de conservação a  implementar.
 
Notas
A identificação específica dos indivíduos é por vezes dificultada pela semelhança fenotípica entre esta espécie e o ruivaco Chondrostoma oligolepis e também pela existência  de  híbridos  resultantes  de  cruzamentos  da  espécie  com  a  boga  do Norte Chondrostoma duriensis e a boga-comum Chondrostoma polylepis (Collares-Pereira  &  Coelho  1983,  Collares-Pereira  1983,  Elvira  1987).  Para  além  disso, estudos  moleculares  recentes  (Doadrio  &  Carmona  2004)  levantam  dúvidas  sobre a presença de C. arcasii em Portugal e sugerem a existência provável de novas espécies do género Chondrostoma nas bacias do Douro e Minho. Assim, os registos  de  ocorrência  da  espécie  necessitam  confirmação,  pelo  que  a  área  de distribuição não pode ser indicada com exactidão.
 
Outra bibliografia consultada
Collares-Pereira  (1979,  1985a).
in Livro Vermelho dos Vertebrados

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